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O centenário do foguete espacial

Por Rafael Garcia
21/07/14 16:58
O foguete de propulsão a combustível líquido inventado por Robert Goddard (Foto: Instituição Smithsonian)

O foguete de propulsão a combustível líquido de Robert Goddard (Foto: Instituição Smithsonian)

QUEM VISITA pela primeira vez o fabuloso Museu Nacional do Ar e do Espaço, em Washington, dificilmente reserva alguns segundos para olhar um punhado de tubos velhos e enferrujados junto da entrada sul do prédio. Ao se depararem com o famoso o módulo de comando da Apollo-11, as hordas de crianças que entram naquele saguão não costumam parar antes para ver aquelas ferragens que, se estivessem em cima de um telhado, poderiam facilmente ser confundidas com chaminés de cozinha.

Essa modesta geringonça, porém, é um dos foguetes originais de Robert Goddard (1882-1945), o inventor da tecnologia que efetivamente levou o homem até a Lua. É compreensível, então, que enquanto o mundo inteiro celebra o aniversário de 45 anos da chegada do homem à Lua, pouca gente se lembre de uma efeméride mais redonda: o centenário das primeiras patentes de Goddard para o foguete movido a combustível líquido.

Em 1914, foguetes não eram uma grande novidade em si, uma vez que chineses usavam versões movidas a pólvora desde o século 13. O emprego desse tipo de propulsão com fins de transporte já era uma proposta antiga, também, só que ninguém tinha conseguido fazer a ideia “decolar”.

Materiais sólidos em geral não eram opções práticas para tornar foguetes um meio de transporte manobrável, pois não é fácil cessar a queima de combustível sólido uma vez que ela começa. Foi o esquema de Goddard para uso de combustível líquido que finalmente deu uma autonomia razoavelmente longa para foguetes. A nova tecnologia dispensava o uso de tanques sob alta pressão e tornava possível ligar e desligar foguetes. (Combustíveis sólidos voltaram a ser usados em alguns tipos de veículos para exploração espacial, mas essa é outra história).

Goddard começou a trabalhar em sua ideia em 1913, quando recebeu um diagnóstico de tuberculose e teve de deixar seu emprego de pesquisador na Universidade de Princeton, em Nova Jersey. Ironicamente, a nova situação de ócio é que lhe conferiu tempo para trabalhar no projeto pelo qual tinha mais apreço após voltar para Massachusetts, seu estado natal. Seu novo foguete foi descrito numa patente em 1914, mas só após muito preparo e planejamento é que o cientista foi realizar seu primeiro experimento. Em 1926, ele fez decolar um foguete movido a gasolina, que entrava em cobustão ao ser misturada com oxigênio líquido, armazenado em outro tanque.

Eu só fui me dar conta da efeméride do foguete espacial hoje, após ler um ótimo post no blog do jornalista Cory Powell, contando sobre a recepção fria que as ideias de Goddard tiveram em sua época. Em 1920, Goddard publicou um livro intitulado “Um método para atingir altitudes extremas”, no qual especulou diversas possíveis aplicações para seu foguete. Uma delas era justamente conseguir chegar à Lua. (Goddard não chegou a propor o envio de astronautas, mas sim detonar um míssil no satélite natural da Terra, de forma que a explosão pudesse ser vista daqui, validando a tecnologia.)

Como conta Powell, não foram só as crianças que deixaram de se impressionar com a perspectiva futura dos foguetes que ele construía. Um editorial do “New York Times” sobre seu livro ridicularizou a ideia de que foguetes seriam capazes de acelerar no vácuo do espaço. “Isso contraria uma lei fundamental da dinâmica, algo que apenas o Dr. Einstein e outra dúzia de eleitos, poucos e qualificados, estão licenciados a fazer”, dizia o jornal.

Após a chegada de Neil Armstrong à Lua, justiça seja feita, o Times publicou uma impagável errata. Reconheceu que o ceticismo em relação à ideia de Goddard se baseava não apenas em uma compreensão equivocada das ideias de Einstein como também das de seu predecessor no rol de grandes gênios da física, Isaac Newton. Naquele ano, enfim, o foguete de Goddard entrou para o rol das coisas impossíveis que se tornaram possíveis.

About Rafael Garcia

Rafael Garcia, 37, é colaborador da Folha em Washington (EUA). Formado em jornalismo pela USP (Universidade de São Paulo), foi bolsista do programa Knight de jornalismo científico no MIT (Massachusetts Institute of Technology) e editor-assistente na redação brasileira da revista “Scientific American”.
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Comentários

  1. Paulo Schaefer comentou em 21/07/14 at 5:26 pm

    O desenvolvimento não acontece instantaneamente. Diversos passos tiveram que ser dados para chegar a façanha de colocar o homem na Lua.

  2. Alexandre Figueiredo comentou em 22/07/14 at 8:20 am

    Três séculos antes de Cristo, os chineses já lançavam “setas de fogo”. Em 1232 d.C., foi registrado que eles lançavam mísseis de bambu, durante uma batalha.
    Difícil, pois, considerar que os foguetes tem apenas cem anos, em vista do uso da palavra “rocket”. Isso não quer dizer que foi a origem. É verdade que a invenção com câmaras de metal tem 100 anos. Isso não quer dizer que foi o primeiro. É como as bombas de água. A invenção parece recente, mas os gregos, há mais de dois mil anos, em Alexandria já bombeavam com base nos mesmos princípios. Aliás, lá também foi inventado uma esfera que girava impulsionada por vapor. Primórdios das locomotivas a vapor. Que coisa, hein?
    E os sumérios já tinham um bateiria (pilha) que acendia encandecia um fio de arame há mais de três mil anos.
    Seria a primeira lâmpada elétrica?

    • Rafael Garcia comentou em 22/07/14 at 12:09 pm

      Alexandre, de fato é difícil estabelecer datas rígidas para a inveção de muitas dessas coisas. Muitas vezes a história de uma tecnologia é mais a história de um aprimoramento gradual de uma ideia do que algo que se construiu da noite para o dia. No caso da efeméride da qual este texto se trata, não foi o foguete que fez cem anos, foi foguete espacial, que precisa de grande autonomia e um tanque com oxidante para viajar no vácuo. Os foguetes primordiais chineses jamais seriam capazes disso, mesmo que fossem carregados com uma enorme quantidade de pólvora.

      • Paulo Schaefer comentou em 22/07/14 at 12:50 pm

        Concordo,

        O que está fazendo 100 anos é o foguete espacial, como bem colocado em seu texto.

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