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Teoria de Tudo

por Rafael Garcia

Perfil Rafael Garcia é repórter de Ciência.

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Homens de Marte, mulheres de Vênus e o DNA

Por Rafael Garcia
07/12/13 08:00
As conexões dominantes no cérebro masculino (esq) e feminino (dir.) segundo novo estudo (Imagem: PNAS)

Conexões acentuadas no cérebro masculino (esq) e feminino (dir.) segundo o estudo de Ragini Verma

UMA NOTÍCIA DE CIÊNCIA que ganhou grande repercussão  na semana passada foi o experimento de neurocientistas da Universidade da Pensilvânia que identificou padrões diferentes de conectividade em cérebros de homens e de mulheres. Escrevi no início da semana um reportagem sobre o trabalho, mas volto ao assunto aqui depois de ter recebido uma carta interessante.

O psicólogo Marco Antônio Varella, professor da Universidade de Brasília (e ex-jornalista de ciência desta Folha), apontou uma ambiguidade num trecho do meu texto, que seria legal esclarecer aqui. O estudo em questão, liderado pela psicóloga Ragini Verma, identificou que as diferenças sexuais na conectividade cerebral são mais acentuadas em adultos do que em crianças. Eu tinha escrito que isso era um sinal de que essas diferenças podem ter um fundo cultural, algo que Varella, corretamente, questionou na mensagem que reproduzo abaixo.

“O fato de não encontrarmos diferenças cerebrais entre crianças, mas sim em adultos, não significa que tais diferenças nos adultos sejam mais culturais do que biológicas, pois características biológicas não são apenas presentes ao nascimento. Da mesma forma, ninguém conclui que como os homens nascem sem barba, logo, barba é cultural e não de nascimento (biológica)! Todos sabemos que durante adolescência existe uma maciçaa reorganização neuronal e ávida imersão em subculturas.

“Como a maioria das pessoas associa anatomia à biologia e comportamento à criação e cultura, é importante mostrar que tais diferenças entre homens e mulheres na anatomia da cérebro não são apenas fruto da biologia nem da cultura. Hoje sabemos que a anatomia influencia comportamento assim como que comportamento influencia anatomia. Você se lembra do estudo mostrando que os taxistas de Londres tem cérebros diferentes dado seu treino em localização espacial?

“Então a conclusão é que anatomia e comportamento são influenciados pela biologia e pela cultura. Somos biologicamente preparados para buscarmos, gerarmos e sermos mais influenciados por aspectos específicos da cultura em diferentes fases do desenvolvimento. Crianças, adolescentes, adultos e idosos têm tanto fisiologias específicas quanto subculturas específicas e ambos convergem influenciando na anatomia e no comportamento de cada um.”

Varella resumiu de maneira elegante uma posição que tem conquistado consenso em meios psicológicos: a de que a diferença entre comportamento masculino e feminino não é, apenas, uma construção cultural.

O estudo de Verma, porém, também não constitui evidência do extremo oposto: a teoria de que todas as diferenças de comportamento entre homens e mulheres estão gravadas em pedra, predeterminadas pelo DNA. Varella lembra bem que só estudos psicológicos com pares de gêmeos podem abordar essa questão, pois podem ser projetados para tentar isolar a influência genética da ambiental.

Até que os mapeamentos cerebrais de ressonância magnética por difusão sejam usados em estudos desse tipo, então, não parece ser útil usá-los como evidência de diferença comportamental entre os sexos. A maioria dos psicólogos aposta, por enquanto, em um cenário onde os dois fatores estão em equilíbrio.

Seria interessante, porém, se alguém descobrisse um fator de desequilíbrio nessa equação. Para qualquer lado que a balança da “Natureza vs. Criação” pender, certamente haverá motivo para controvérsia na comunidade psicológica. Isso, claro, se as descobertas da Universidade da Pensilvânia se provarem relevantes e purem ser replicadas por grupos de neurocientistas indepenentes. A ver.

Alguns pesquisadores estão bastante céticos com o resultado da pesquisa de Verma. Entre eles Cordelia Fine, autora do excelente “Ideias Próprias”. Em um artigo recente, a psicóloga lembra que o problema de usar a neurociências para explicar diferenças de habilidades cognitivas entre homens e mulheres é que essas são muito sutis, e às vezes nem existem. Um exemplo é a crença de que homens possuem raciocínio espacial melhor.

Num estudo recente com amostragem razoável, a chance de uma menina se sair melhor que um menino num teste de raciocínio espacial era de apenas 40%. Segundo Fine, que escreveu outro livro para tratar do assunto, nenhum estudo provou ainda que homens leem mapas melhor que mulheres. Em outras habilidades associadas ao sexo, essa chance era de 47% –quase aleatória. Ao que parece, se experimentos como o de Verma não estiverem diretamente acoplados a estudos cognitivos, pouca gente na comunidade de psicólogos vai dar trela para o que a neurociência diz.

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Como (não) repartir seu cérebro

Por Rafael Garcia
25/11/13 18:00

Iustração de livro sobre frenologia, pseudociência que estudava a personalidade (Imagem: Divulgação)

QUEM NUNCA ouviu falar da tese sobre a divisão do cérebro em dois hemisférios, cada um com um jeito de pensar. O cérebro direito (criativo e intuitivo) e o cérebro esquerdo (racional e metódico) estariam competindo pela dominância, e cada um de nós penderia para um dos lados. Proliferam pela internet os testes de procedência incerta que prometem mostrar ao leitor qual dos hemisférios cerebrais ganhou o cabo-de-guerra na luta pela consciência.

A segunda coisa mais incrível sobre os estudos de “lateralização” do cérebro –a diferença de função entre os hemisférios esquerdo e direito– é a velocidade com que ficaram conhecidos do público geral. Já a primeira coisa mais incrível é a maneira com que esse conhecimento acabou se disseminando de forma totalmente deturpada na cultura.

A lateralidade do cérebro existe de fato. Certas funções específicas –como algumas do mecanismo da linguagem, por exemplo– funcionam apenas no lado esquerdo do córtex cerebral. E regiões homólogas no cérebro direito organizam ruídos não linguísticos. Mas o  fato de existirem algumas diferenças pontuais como essas não significa que haja uma divisão simplória ou uma dicotomia entre raciocínio e intuição.

Apesar de a maioria dos psicólogos concordar com isso hoje, essa noção equivocada de como o cérebro funciona se popularizou bastante na última década. Saber se você pensa mais com seu cérebro direito ou cérebro esquerdo acabou se tornando quase um tipo de astrologia. Você é de touro ou escorpião? Racional ou intuitivo? A noção popular da lateralidade acabou, por fim, caindo no mesmo saco da Frenologia, pseudociência do século 19 que buscava explicar traços de personalidade com base em protuberâncias no crânio.

A forma com que isso saltou de estudos da neurociência real –sobretudo os do cientista Roger Sperry (Nobel de Medicina de 1981)– para a cultura popular é um dos assuntos do livro “Top Brain, Bottom Brain”, do neurocientista Stephen Kosslyn, tema de reportagem que publicamos hoje. O autor faz um bom trabalho em explicar por que a visão simplista racionalismo X intuição está errada.

O autor, porém, conta a história a título de apresentar uma nova teoria, uma segundo a qual diferenças de personalidade podem ser explicadas por outro tipo de divisão –entre áreas de cima e áreas de baixo. A teoria de Kosslyn, endossada por nomes importantes da comunidade neurocientífica nos EUA, está bem fundamentada em evidência experimental (diferentemente do mito da divisão hemisférica), mas ainda carece de provas, que podem vir com o tempo.

O autor do livro divide as diferentes maneiras de pensar em quatro tipos, e cada pessoa teria tendência a operar predominantemente de uma determinada maneira. É uma teoria cheia de sutilezas, que não abre muito espaço para simplificações grosseiras, mas tem uma chance boa de cair no gosto popular dada a atenção que tem recebido da mídia nos EUA. Além disso, calro, existe a classificação tipo “horóscopo” a que ela se presta.

Kosslyn já colocou à disposição na internet até mesmo uma versão de seu teste dos modos cognitivos, que qualquer um pode acessar e fazer. Justiça seja feita, é um teste psicológico validado em trabalhos de pesquisa sérios, e não um questionário inventado para alguma revista feminina. Mas, nas mãos de leigos, ele não estaria sujeito a se tornar ferramenta para banalizar as teorias mais sérias? Afinal de contas, tudo indica que as descobertas de Sperry estavam corretas, e a dicotomia racionalidade/intuição que caiu no gosto público é apenas uma caricatura grosseira daquilo que a neurociência de fato mostra.

Numa conversa que tive com Kosslyn por telefone na semana passada, ele me disse estar confiante de que sua teoria não será vítima do mesmo problema dos estudos sobre lateralidade do cérebro. “O problema dessa hipótese é que ela parte de uma caracterização errada do cérebro, trata os dois hemisférios cerebrais como se fossem compartimentos isolados e pressupõe que um hemisfério precisa dominar o outro”, diz. “Nossa teoria agora não possui nenhum desses problemas.”

Em “Top Brain, Bottom Brain”, Kosslyn tem a decência de apresentar sua teoria ao público como uma hipótese que ainda carece de provas em alguns aspectos, apesar de já ter suporte em muitas evidências. Se, no futuro, os “modos cognitivos” predominantes não se mostrarem uma maneira útil de classificar as pessoas, é possível que a ideia já venha a ter se disseminado o suficiente para ter vida própria na cultura popular, independentemente do veredicto da ciência.

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Os gatos-bonsai do Instituto Royal

Por Rafael Garcia
25/10/13 12:46

“Enquanto uma mentira dá meia volta ao mundo, a verdade ainda está calçando seus sapatos” — Mark Twain

MUITA GENTE QUE era viva no distante ano de 2000 ainda se lembra do escândalo dos “gatos-bonsai”. Fotos se espalharam pela internet para denunciar a prática de criar gatinhos dentro de garrafas. Bastava colocar o animal dentro de um pote de quadrado para que seu rosto ganhasse o mesmo formato.

Na época, recebi e-mails de amigos que estavam genuinamente revoltados com essa prática, com razão. Eles não sabiam que alguns dias depois a história já tinha sido desmascarada. Era um boato inventado por um estudante americano que fez montagens fotográficas dos animais. Durante alguns anos, porém, o boato ainda circulou pela internet —sem ajuda de Facebook ou Twitter—, e demorou que o planeta inteiro se desse conta de que era mentira.

Hoje, com redes sociais, denuncias de maus tratos a animais têm a capacidade de circular o mundo com uma velocidade sem precedentes, e é o que aconteceu após a invasão do Instituto Royal, na semana passada, um centro de pesquisa pré-clinica com animais em São Roque.

Muita gente recebeu pelo Facebook links com fotos de um cão com olho costurado. Outra mostrava um cão com a pata decepada. Algumas imagens tinham procedência duvidosa, mas outras claramente haviam sido obtidas dentro do Instituto Royal. Muitas mostravam os canis cheios de cocô. Ativistas que divulgavam as imagens buscavam tentar explicar o que tinha acontecido. Um cão tivera a língua cortada, um filhote havia sido congelado para um teste e diversos cães exibiriam pedaços de pele “arrancados”. Um cão velho, por fim, teria sido vítima de um cruel procedimento no qual seus dentes foram colados.

Não é à toa que muitas pessoas ficaram de cabelos em pé. Eu também fiquei. Mas, a exemplo do que fiz com os gatos-bonsai, esperei um pouco antes de espalhar o pânico. E ontem, conversando com a bióloga Sílvia Ortiz e o cientista João Pegas Henriques, da direção do Instituto Royal, descobri o que aconteceu com o beagle dos dentes colados.

O cão passara por um procedimento para fixar uma fratura de maxilar. A fixação dos dentes, longe de ter sido um experimento, havia sido feita para salvar a vida do animal, que se chamava Ricardinho e era um dos machos do centro de reprodução do Royal.

Mas e o cão congelado? Segundo os biólogos, não era um experimento. O animal havia morrido de causas desconhecidas um dia antes e fora congelado para passar por exame anatomo-patológico no dia seguinte.

O animal com língua cortada? Havia se ferido durante a hora de recreação com outros cães, que às vezes se mordem. Depois de tratado pelos veterinários, ficou com uma cicatriz sem prejuízo funcional.

Já os beagles com partes “sem pele” na verdade estavam apenas “sem pelos”. Apenas haviam sido depilados em certas partes para a aplicação de uma pomada antibiótica que estava em teste.

Os montes de fezes no canil haviam sido em sua maioria produzidos por cães apavorados durante a invasão do instituto. Criar animais em lugar sujo, aliás, comprometeria os experimentos, e manter o canil limpo era do interesse dos cientistas.

Mas como justificar arrancar o olho e a pata de um animal? As fotos desses cães não foram tiradas no Instituto Royal. A do beagle com olho costurado já estava sendo usada antes em campanhas da ONG vegetariana Vista-se. A foto da pata decepada ainda não teve a procedência identificada, diz o Royal.

O que eu reproduzo aqui são as palavras do instituto. Cabe a cada um acreditar se elas são explicações razoáveis ou não. Eu acredito que sim.

A julgar por todas as informações que consegui apurar pessoalmente, o Royal está sendo absolutamente transparente com aquilo que era feito lá dentro. Até porque eles não teriam como esconder suas instalações do Concea e da comissão de ética que avalia seu trabalho —da qual participam dois integrantes da Sociedade Protetora dos Animais. Até eles reconhecem que a criação de novos medicamentos não pode abrir mão totalmente do uso de animais.

O Royal, sendo transparente, reconhece até mesmo que a prática de eutanásia dos cães é necessária –em casos raros e em número pequeno. O procedimento é autorizado pelo Concea (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), que leva em conta se o uso dos cães é indispensável para desenvolver uma droga que trará benefícios relevantes a seres humanos. O Concea também avalia se o experimento está usando o número mínimo possível de animais. A praxe após um teste pré-clínico é tratar os cães e doá-los.

Eu não duvido que muitos dos ativistas que invadiram o Instituto Royal fossem pessoas que estivessem querendo apenas o bem dos animais, querendo evitar maus tratos aos cães e coelhos raptados. O resultado da invasão ao instituto, porém, será o encarecimento e o atraso no desenvolvimento de drogas que podem vir a beneficiar pessoas (e outros animais) com infecções bacterianas, inflamações, diabetes, hipertensão, epilepsia e câncer. E alguns dos cães raptados que, como Ricardinho, precisavam de tratamento especial, podem ser prejudicados nas mãos de veterinários incautos. Para praticar o bem, como se demonstrou, é preciso estar bem informado.

 

O prontuário do beagle Ricardinho, salvo por veterinários do Royal que o levaram para uma cirurgia especial

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O difícil caminho rumo a Cerro Armazones

Por Rafael Garcia
15/10/13 18:24

O E-ELT (European Extremely Large Telescope), a ser construído no Chile (Ilustr.: ESO/L.Calçada)

UM GRUPO DE astrônomos jovens emitiu nesta semana uma carta em que pede ao Congresso Nacional para ratificar o acordo do Brasil com o ESO (Observatório Europeu do Sul), lar do maior telescópio do mundo, no Chile. Três anos após o governo Lula ter prometido uma ajuda substancial ao projeto, ainda não está claro se o investimento vai mesmo sair.

O documento, que ressalta a importância da adesão ao ESO para a política de longo prazo do país em astronomia, foi redigido e publicado há um mês. Em sua versão atual está assinado por mais de 130 mestrandos, doutorandos e pós-docs, que se descrevem como os pesquisadores que “mais têm a perder caso o Brasil não cumpra o acordo”, em razão das oportunidades que ele gera nas próximas décadas.

A carta chega ao Congresso num momento em que o acordo se encontra “órfão” dentro do governo. Articulada pelo ex-ministro da ciência Sergio Rezende, a afiliação ao ESO foi assinada dois dias antes de ele deixar o cargo, em 2010, e acabou recebida com ressalva pelos seus sucessores.

Aloizio Mercadante, chefe da pasta em 2011, engavetou o documento. Marco Antônio Raupp, atual ministro, tirou-o da gaveta e o encaminhou para apreciação no Congresso, mas não colocou empenho pessoal em lutar por sua aprovação. O entendimento do ministério é de que a comunidade astronômica está dividida em relação à proposta, e o Legislativo seria o foro mais adequado para debater a decisão.

Um pré-acordo, por enquanto, garante acesso de astrônomos do país ao VLT (Very Large Telescope), o maior telescópio do mundo, com quatro espelhos lentes de 8,2 metros de diâmetro. Por cerca de € 4 milhões por ano, o Brasil dispõe das instalações do melhor observatório do mundo. É uma pechincha, e já tem produzido resultados. Mas se o país quiser se tornar membro permanente, será preciso desembolsar € 270 milhões ao longo de dez anos, conforme prometido.

Alguns astrônomos influentes na comunidade científica brasileira, entre eles João Steiner e Augusto Daminelli, da USP, argumentam que a filiação ao ESO é simplesmente cara demais para o Brasil. Steiner diz também que o Brasil será relegado a papel de coadjuvante no ESO, onde projetos de pesquisa de astrônomos com maior poder de fogo tendem a garfar a maior parte do tempo de observação nos grandes telescópios.

O grande apelo sedutor de entrar para o ESO agora, porém, é que empresas e universidades do país poderiam participar de licitações para construção do E-ELT (European Extremely Large Telescope), em Cerro Armazones –um telescópio monstruoso com 39 metros de diâmetro que deve ficar pronto até 2022. Isso permitiria ao país reaver parte dos investimentos.

Steiner e Daminelli argumentam, não obstante, que há opções mais em conta para o Brasil –que podem até ser adotadas paralelamente ao ESO. Suas críticas contra a adesão ao observatório europeu, porém, não parecem ter angariado apoio. Na última votação sobre o assunto realizada pela Sociedade Astronômica Brasileira em 2010, apenas 8% se declararam contra o acordo com o ESO.

No plano político, a carta dos mestrandos e doutorandos, apesar de ser direcionada ao Congresso, traz uma mensagem que diz mais respeito ao Palácio do Planalto do que aos deputados. O grupo apela para o impacto do ESO na internacionalização da ciência brasileira, principal bandeira da presidente Dilma Roussef no setor. Se algum braço do poder executivo encampar a bandeira do ESO, fica mais fácil tocar a aprovação do projeto, que está agora caminhando a passos lentos em três diferentes comissões da Câmara.

“Estamos em uma época oportuna para atrair jovens pesquisadores, uma vez que a Europa e os Estados Unidos enfrentam problemas financeiros”, diz a carta. “Entrar para o ESO não só abre infinitas novas possibilidades para os pesquisadores brasileiros das áreas de astronomia, astrofísica e afins, como também alça o Brasil a um seleto grupo de destinos desejáveis para profissionais dessas áreas.”

O texto da carta, por fim, alerta para o problema da reputação: “A falta de cumprimento com o acordo assinado pelo então ministro Sérgio Rezende em 2010 significaria, além de tudo, a perda da confiança no Brasil para grandes acordos internacionais e um mal-estar para os cientistas brasileiros”.

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Peter Higgs e sua caminhada da vitória

Por Rafael Garcia
11/10/13 16:35

Higgs em entrevista coletiva, com cerveja que ganhou de presente (Foto: I. MacNicol/France Presse)

NA ÚLTIMA terça-feira, enquanto quase toda a comunidade científica europeia estava conectada à internet esperando o resultado do Prêmio Nobel de Física de 2013, no momento exato do anúncio, o homem que mais tinha chance de ganhar a honraria havia saído numa caminhada para almoçar.

Peter Higgs, 84, retornava para sua casa em Edimburgo, na Escócia, quando encontrou uma antiga vizinha que o reconheceu e parou o carro ao seu lado. “Ela me disse parabéns ‘pela notícia’, e eu perguntei ‘que noticia?'”, disse hoje o cientista na primeira aparição pública após ter recebido o prêmio. “Depois disso, contou-me que sua filha havia telefonado de Londres para alertá-la sobre o fato de que eu havia recebido o prêmio.”

Em entrevista coletiva na Universidade de Edimburgo, Higgs disse que sentiu ao mesmo tempo “deleite” e “alívio” com o anúncio do prêmio, pois rumores de que ele poderia ganhá-lo já eram antigos. O “bóson de Higgs” a partícula que ele havia teorizado, era uma peça essencial do Modelo Padrão, a teoria vigente da física de partículas.

“Em 1980, um velho amigo que por acaso trabalhava na Suécia me visitou em Edimburgo e contou que tinha ficado sabendo por meio de um colega físico que eu havia sido indicado ao prêmio”, contou Higgs.

De lá até aqui, o covencedor do prêmio, François Englert, 80, também estava cotado, pois foi quem teorizou o “campo” de Higgs, a entidade física que confere massa a outras partículas. O bóson de Higgs era apenas uma parte da teoria. “A partícula acabou atraindo mais atenção porque descobri-la era realmente vital para checar se a estrutura teórica toda estava correta.”

Após a reação inicial de entusiasmo nos anos 1980, porém, Higgs disse que temeu perder a oportunidade de ganhar o prêmio.

“Por muitos anos, pareceu-me que a verificação experimental da teoria poderia não vir ainda em meu tempo de vida”, contou. “Mas, desde que o LHC [o acelerador de partículas gigante] foi acionado, a expectativa era de que eles chegassem lá. E apesar de alguns percalços eles conseguiram. Então, desde julho do ano passado, passou a ser apenas uma questão saber de em qual ano seria [a premiação].”

Higgs, porém, disse que não esperava levar o Nobel em 2012. “Teria sido prematuro, porque o anúncio do Cern em julho do ano passado falava apenas na descoberta de uma partícula ‘semelhante’ ao Higgs”, contou “Na primavera deste ano, eles elevaram o tom, chamando-a de “partícula de Higgs”, e tudo passou a ficar amarrado experimentalmente. A essa altura, então, o prêmio provavelmente já estava a caminho.”

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Tópico aberto: Física do Clima

Por Rafael Garcia
01/10/13 15:09

Ilustração sobre física no 5º Relatório de Avaliação do Grupo de Trabalho 1 do IPCC (Imagem: AR5 WGI)

SAIU, ENFIM, o quinto e mais atual relatório do Grupo de Trabalho 1 do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática), aquele que trata da física do clima.

Anteontem, retornei de Estocolmo, onde ocorreu a última plenária para discutir o texto do “Sumário para Formuladores de Política”, a principal interface do painel com a sociedade civil.

Alguns leitores reclamaram da minha ausência no blog durante a cobertura. Estive ausente daqui por conta das várias matérias que estive escrevendo para a edição principal do jornal. Estou abrindo este post então para iniciar rápido um tópico de discussão com quem quer que queira conversar sobre o assunto.

O texto completo do relatório, um calhamaço de 2216 páginas, foi divulgado ontem, e prometo retomar o assunto em breve aqui para discutir tudo com mais detalhe. Por enquanto, porém, aí está o material que publicamos até agora:

________________________________________________________________________________

 

A SEMANA DO CLIMA

2ª-feira

  • Brasil ataca ‘hiato’ do aquecimento global
  • ANÁLISE: Com IPCC na defensiva, novo relatório ainda tem combustível para polêmica
  • IPCC promete relatório sem viés e com revisão mais rigorosa

3ª-feira

  • Previsão de aumento do nível do mar piora

4ª-feira

  • Para painel do clima, nuvens devem elevar aquecimento

5ª-feira

  • Oceano Ártico terá verão sem gelo em 2050, diz relatório da ONU

6ª-feira

  • Painel do clima da ONU sobe alerta para aquecimento global

Sábado

  • Aquecimento segue mesmo com ‘hiato’ de 15 anos, diz relatório

Domingo

  • ENTREVISTA – Gian-Kasper Plattner: “Ciência evolui para explicar pausa no aquecimento”
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O arqueólogo que engoliu um musaranho

Por Rafael Garcia
12/09/13 20:30

Um musaranho de 11 cm, igual ao usado no experimento de Crandall (Foto: Gilles Gonthier/CC)

EM 1995, O ESTUDANTE de arqueologia Brian Crandall e seu professor Peter Stahl, da Universidade do Estado de Nova York, realizaram um experimento no qual um deles engoliu um musaranho. A culinária envolvida no trabalho não foi muito sofisticada: o animal teve apenas a pele e as visceras retirados e foi servido parcialmente fervido, quase cru. O grande desafio era engolir o roedor insetívoro inteiro sem mastigar.

A dupla não revela quem ingeriu o pequeno mamífero. O que sabemos é que, nos três dias seguintes, o indivíduo teve todas as suas fezes coletadas. O material foi então dissolvido em água quente, peneirado e examinado com lente e microscópio. Os cientistas puderam constatar quanto uma simples digestão sem mastigação foi capaz de aniquilar vários ossos do animal. Quase todas as vértebras do bicho foram dissolvidas, bem como um pedaço da mandíbula, quatro dentes molares e outros ossos resistentes.

Em entrevista à Folha, Crandall, que compartilhou com Stahl o Prêmio Ig Nobel de Arqueologia deste ano, fala um pouco sobre sua experiência.

*

FOLHA – De onde saiu a ideia para o experimento? O que você estava fazendo na época?

BRIAN CRANDALL – Eu era graduando, Peter Stahl era meu professor, e esse projeto era meu trabalho de conclusão de curso. Eu achava que aquilo teria implicações para a comunidade arqueólogica e resolvi que queria publicar um estudo para as pessoas terem acesso aos meus dados. Peter me ajudou com isso.

Quais eram essas implicações?

O que fizemos foi, basicamente, arqueologia experimental. Ossos de pequenos mamíferos são achados em todo o mundo quando sitios arqueologicos são escavados, e os arqueólogos sempre discutem sobre se esses animais são parte de uma dieta humana ou não.

Nós temos esse viés cultural que nos impede de acreditar que as pessoas comem camundongos, mas há pessoas comendo esses animais pelo mundo todo. Então, como você interpreta o material escavado do chão? Como você distingue se esses animais simplesmente viveram no mesmo local que os humanos, mas sem ter algo a ver com eles, ou se eles eram fonte de alimento?

Qual de vocês dois engoliu o musaranho?

Não revelamos isso no estudo. Não acho que seja tão importante. Deveríamos dar mais crédito à pessoa que teve de mexer no cocô. Isso merece muito mais reconhecimento.

Vocês vão manter o mistério, então?

Sim. Achamos mais divertido assim.

Peter me contou que foi você quem conduziu a análise fecal. Foi muito penoso?

Definitivamente, não é algo que eu gostaria de fazer todo dia . É terrível, uma das coisas mais nojentas que tive de fazer na vida. Mas naquela hora tudo tinha um componente de diversão meio doentio, porque ninguém jamais toparia fazer aquilo.

A ciência produzida valeu a pena? Seus dados foram aproveitados depois?

O estudo já foi citado quase cinquenta vezes, vinte das quais nos últimos três anos. Então, as pessoas estão usando os dados, sim. E desde que o estudo foi publicado, que eu saiba, só uma pessoa reproduziu o experimento, mas com ossos de peixe. Nosso trabalho, então, ainda é bastante especial.

Esse tipo experimental de arqueologia é muito praticado?

A arqueologia experimental é praticada há décadas, mas as pessoas não costumam fazer o tipo de coisa que nós fizemos. Em geral, arqueólogos experimentais fazem trabalhos como recriar ferramentas de pedra, casas e roupas com tecnologias arcaicas para tentar entender como elas funcionavam.

Você ainda trabalha com arqueologia?

Não, eu não trabalho mais num ambiente universitário. Sou diretor de uma empresa de educação científica. Algumas escolas nos contratam para fazer apresentações científicas empolgantes com o objetivo de fazer com que as crianças se interessem por ciência antes de se aborrecerem e desistirem. O que faço agora é ensinar todas as áreas da ciência de um jeito louco e dramático, como um cientista maluco.

Você se exibe para as crianças engolindo musaranhos?

Não. Na verdade eu os uso para alimentar as crianças. É mais divertido. Por que eu faria isso agora se posso pedir às crianças?

(Risos)

É piada. Claro que não faço isso.

Gostaria de deixar alguma mensagem para nossos leitores?

Sim. Eu sempre tive o desejo de dar continuidade ao estudo. Se houver algum voluntário no Brasil que queira engolir um pequeno mamífero, por favor me avise.

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A paciência de John Mainstone (1935-2013)

Por Rafael Garcia
09/09/13 08:01

John Mainstone observa gota de piche passar por um funil (Foto: Universidade de Queensland)

Marcada para a noite da próxima quinta-feira, a cerimônia de entrega do Prêmio Ig-Nobel vai destacar uma notícia triste. O cientista que cuidava do experimento mais longo da história da física morreu na semana passada. John Mainstone (1935-2013), que passou meio século observando um punhado de piche escorrer por um funil, mas nunca viu uma gota cair, informa comunicado da Universidade de Queensland (Austrália). O experimento, que foi montado na Universidade em 1927 pelo físico Thomas Parnell (1881-1948), foi o ganhador do Ig-Nobel de física em 2005. Elaborado para demonstrar a alta viscosidade do piche, a lenta empreitada rendeu um único estudo científico, publicado em 1984. Em razão da alta viscosidade do material, apenas oito gotas de piche pingaram do funil durante os 83 anos em que o experimento vem sendo conduzido. Mainstone nunca presenciou o exato momento em que um pingo caía. O físico esperava que a nona gota se soltasse em 2013, mas não viveu o bastante para testemunhá-la. No ano 2000, Mainstone teve sua primeira chance de ver uma gota cair, quando pela primeira vez uma câmera de vigilância foi instalada para monitorar o experimento 24 horas por dia. Lamentavelmente, a câmera pifou antes de a gota cair. Segundo a revista “Nature”, o pesquisador só conseguiu testemunhar algo similar ao ver um vídeo de uma reprodução do experimento em Dublin. O Ig-Nobel, uma sátira do prêmio Nobel que se tornou o mais famoso prêmio de humor científico do mundo, prometeu fazer uma homenagem a Mainstone na França. A cerimônia de entrega ocorre na Universidade Harvard, em Massachusetts (EUA), mas será conectada via internet a um evento paralelo em Paris. O espetáculo será um competição. Vinte cientistas franceses foram convidados a preparar misturas viscosas caseiras para colocá-las em funis posicionados num palco. Aquela que demorar mais a pingar será a premiada (desde que a primeira gota caia antes do fim do evento, que dura umas duas horas). PS. Não houve nenhuma menção à competição na transmisssão ao vivo da cerimônia do Ig Nobel. Se alguém que fala  francês quiser tentar descobrir como foi, mande o link que eu posto aqui.

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Se a ciência fosse uma galáxia...

Por Rafael Garcia
26/08/13 08:01

O mapa do projeto Paperscape; no detalhe, uma “nuvem” de estudos sobre buraco negros

SE CADA PESQUISA científica fosse uma estrela, como seria a galáxia da ciência? Essa pergunta pode parecer meio sem propósito, mas um estudo que usou exatamente essa lógica acaba de produzir um mapa extremamente interessante, que permite visualizar o jogo de influências nas ciências naturais.

Na imagem acima, o mapa do projeto Paperscape, cada ponto representa um artigo científico publicado no ArXiv, o maior repositório do planeta para artigos científicos preliminares. Com 867 mil artigos hoje, essa base de dados é hoje a principal via de comunicação para a matemática, a física, a astronomia, a ciência da computação e outras áreas das exatas.

De modo diferente daquele que ainda é praxe nas ciências biológicas, a maioria dos físicos hoje divulga os resultados de seus estudos assim que os obtém, sem passar por revisão independente, postando-os no ArXiv. Só depois de os artigos serem discutidos é que são submetidos para publicação formal em periódicos científicos.

Isso torna a física e a astronomia muito mais dinâmicas que a biologia hoje, mas resulta também num cenário mais caótico. Nas publicações científicas “oficiais” tudo é monitorado por organizações que indexam os estudos, mostrando quais trabalhos citam quais. Isso permite a alguém ter uma noção melhor de quão influente é um estudo e quem ele está influenciando. Na cacofonia do ArXiv, porém, encontrar produção científica relevante requer grande expertise em cada área, pois tudo lá dentro ocorre, de certa forma, à margem da ciência oficial.

É aí que entra a ideia de Damien George e Rob Knegjens, criadores do Paperscape. A dupla encontrou uma maneira eficaz e elegante de fazer isso, criando um aplicativo que consulta o banco de dados do ArXiv a todo momento, e cria automaticamente o mapa acima. Ele é uma representação gráfica do cenário acadêmico nas áreas cobertas pelo site.

Na imagem, cada pequeno círculo representa um estudo (é possível dar um zoom para explorar áreas específicas, e clicar no círculo abre um link para o estudo). Quanto maior o círculo, mais citações o estudo recebeu. Quanto mais brilhante, mais recente é o trabalho. As diferentes cores representam diferentes áreas específicas: astrofísica (rosa) , física de altas energias teórica (azul), física experimental (verde), etc. O posicionamento dos círculos é calculado com base em citações. Quando um estudo cita o outro, ambos se aproximam um pouco. Se dois estudos citam um terceiro em comum, aproximam-se ainda mais.

A área de fronteira entre a astrofísica e a física de altas energias, altamente interdisciplinar

O resultado é um panorama de conexão bem interessante. Entendendo a lógica do mapa, é possível ver, por exemplo, o turbilhão de interdisciplinaridade entre a astrofísica e a física de partículas, que interagem para tentar criar uma teoria física capaz de abarcar ao mesmo tempo os mundos macroscópico e microscópico. Esse é o maior desafio da física hoje, e fica  claro ao se olhar para o mapa.

Olhando para cada macro região é possível ver os trabalhos mais influentes. Na área da astrofísica/cosmologia, os dados da sonda WMAP (que mediu a idade do universo) e a descoberta da energia escura, dominam a paisagem. Em áreas mais interdisciplinares, se destacam estudos com teorias mais especulativas, como o trabalho da física teórica Lisa Randall que prevê a existência de dimensões espaciais extras.

A “nuvem” da matemática, rarefeita, e um estudo de geometria que migrou para a física

Já matemática, por exemplo, existe como uma nuvem difusa a sudoeste do mapa geral. Alguns trabalhos que desenvolveram ferramentas importantes migraram para dentro de regiões da física onde são altamente citados.

O mapa do Paperscape, de certa forma, lembra uma galáxia de verdade. Estudos que citam muito uns aos outros ganham mais “massa” e se aproximam mais uns dos outros, como se tivessem gravidade.  E áreas da ciência nas quais pesquisadores trabalham mais isolados viram nuvens rarefeitas como a da matemática. No algoritmo que rege as regras do projeto existe até mesmo uma espécie de “energia escura”, uma força tênue que permeia tudo e age como uma “anti-gravidade”.

O ArXiv não mapeia a totalidade de artigos em suas áreas de ciência, porém, pois alguns artigos importantes não são submetidos ao site, e outros acabam sendo retirados. Mas o cenário que se pode observar é bem representativo. Para quem se interessa por ciência, observar os padrões de distribuição no mapa do Paperscape é tão divertido quanto olhar para detalhes de uma galáxia de verdade. Fico imaginando como seria o mapa com a biologia, a química e outras ciências com pouca presença no ArXiv se encaixando nesse panorama.

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1.400 asteroides potencialmente perigosos

Por Rafael Garcia
15/08/13 11:02

Órbitas dos asteroides potencialmente perigosos [Clique para ver alta resolução] (Imagem: Nasa/JPL)

ASTEROIDES ESTÃO sob os holofotes agora. Seja por causa das empresas que planejam extrair minérios desses bólidos, seja por eles oferecerem interessantes lugares para a visita de espaçonaves e astronautas, seja por representarem fonte de água e recursos para viagens espaciais, esses corpos celestiais estão virando notícia o tempo todo nos últimos anos. Mas aquilo que mais tem despertado o interesse de cientistas sempre foi o risco de colisão de uma dessas pedronas colidir com a Terra.

A imagem acima, divulgada pelo JPL (o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa) dá uma ideia daquilo que os asteroides têm a oferecer de ruim. O emaranhado de linhas riscadas em torno do Sol representa as órbitas dos mais de 1.400 corpos celestes já conhecidos que foram classificados como PHA (Asteroides Potencialmente Perigosos, sigla em inglês).

Além de cruzarem a órbita da Terra (o que significa que podem colidir como nosso planeta) todos são bem grandes, com mais de 140 metros de diâmetro, e alguns poucos tem mais de 1 km. A maioria deles não deve passar perto da Terra nos próximos cem anos, mas isso não significa que não possam fazê-lo no futuro.

De um jeito ou de outro, não são só os habitantes do século 22 que precisam se preocupar com uma repetição do evento que provavelmente extinguiu os dinossauros 60 milhões de anos atrás. O catálogo de corpos identificados com a sigla NEO (Objeto Próximo à Terra, em inglês) atingiu no mês passado a marca de 10.000 asteroides e cometas registrados. É dessa lista que a Nasa extrai os PHA, e estima-se que 90% deles ainda sejam desconhecidos.

Dos asteroides próximos conhecidos até agora, 68% são dos tipos Apolo ou Atena, que cruzam a órbita da Terra (a diferença é que os Atenas tem órbita mais ovalada). Do restante, menos de 32% são do tipo Amor, cuja órbita é totalmente externa à da Terra, mas interna à de Marte. Um tipo menos representativo de asteroide próximo é o dos Atiras, com órbitas internas à da Terra, do qual apenas 6 exemplares são conhecidos (veja diagrama abaixo).

O fato de um asteroide ser classificado como potencialmente perigoso pela Nasa, porém, não significa que ele vá colidir com a Terra alguma hora. Mas o refinamento das órbitas desses objetos é hoje uma prioridade de pesquisa na Nasa. É esse trabalho que eventualmente vai dizer se algum deles de fato nos ameaça. As probabilidades são pequenas, mas a ausência de dinossauros vivos na Terra é suficiente para nos lembrarmos de que não é impossível.

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