Amyr Klink e Buckminster Fuller
27/09/14 07:00
A cúpula geodésica construída por Amyr Klink em sua casa em São Paulo (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress)
APÓS PUBLICARMOS uma entrevista com o navegador Amyr Klink, algumas pessoas vieram me perguntar o que é a intricada estrutura metálica que aparece no vídeo. Quando entrei no quintal de sua casa para conhecê-lo, confesso que também fiquei intrigado com aquele domo de hastes metálicas, no qual Amyr estava instalando cordas e roldanas.
Sua intenção, percebi um pouco depois de chegar, era amarrar seu famoso barco a remo I.A.T. e içá-lo ali mesmo. Depois de interpelado, Klink contou ser um grande admirador de Buckminster Fuller (1895-1983), americano que se consagrou pelos projetos dos chamados “domos geodésicos”. Mas o motivo de o navegador se interessar tanto pelo arquiteto só ficou claro para mim no fim da conversa.
Fuller adotou essas estruturas geométricas por terem propriedades interessantes, como a “democracia estrutural” –a qualidade de construções com grande número de elementos de igual importância de sustentação. Um domo geodésico com uma única haste danificada, por exemplo, continua de pé. Não se pode dizer o mesmo de uma mesa com quatro pernas, que vai tombar se uma delas romper.
Outro conceito de engenharia usado pelas cúpulas geodésicas é o da “tensegridade”, a mescla de forças de tensão e compressão (“esticar” e “apertar”) numa mesma estrutura, o que ajuda a criar sistemas leves e resistentes. O fato de ser inteiro composto de triângulos, além da democracia estrutural e da tensegridade, faz dos domos geodésicos estruturas bastante resistentes para seu tamanho.
Os poliedros de Fuller são classificados de acordo com seu grau de semelhança com uma esfera perfeita. Um icosaedro (poliedro de 20 faces), é considerado uma esfera geodésica de frequência 1. Subdividindo os triângulos, as esferas de frequência 2, 3 etc. vão ficando cada vez mais arredondadas.
Klink começou construindo estruturas de frequências baixas e agora tem no quintal de sua casa em Moema um domo de frequência 8, similar ao do diagrama abaixo.
A estrutura em semiesfera, que ficou com a altura de um sobrado, incomodou alguns vizinhos, e Klink chegou a ser notificado para desmontá-la, mas recusou-se a fazê-lo.
A construção de domos geodésicos, diz, é apenas um hobby –um hobby para um navegador e construtor de barcos que domina usinagem de alumínio e bolou um jeito barato de produzir hastes e conexões.
Klink conta, porém, que seu fascínio por Fuller não se resume aos domos. O arquiteto também projetava barcos, e um de seus projetos mais originais é um apelidado de rowing needles (“agulhas a remo”). É basicamente um catamarã composto de dois cascos finos, similares aos racing shells usados nas competições de remo olímpico. A ideia era unir a estabilidade dos catamarãs com a eficiência hidrodinâmica dos racing shells, que em sua forma monocasco são barcos em que é extremamente difícil manter o equilíbrio.
Se Amyr Klink pode construir cúpulas geodésicas, afinal, por que Buckminster Fuller não poderia remar?
Buckminster Fuller remando em seu catamarã “Rowing Needles”, em 1971 (Foto: Reprodução)
Matéria confusa. Dá impressão errada que o domo da casa de Klynk é uma tensegridade, o que não é. Outra impressão errada é a que toda tensegridade é formada apenas por triângulos.
Alcides, obrigado pela leitura atenta. Mas existe tensegridade em todos os domos geodésicos, sim. Essa propriedade é mais comumente associada àquelas estruturas que misturam cabos (que só servem para tensão) com hastes (que acomodam tanto tensão quanto quanto compressão), mas é perfeitamente possível uma estrutura que só tenha hastes possuir tensegridade também. E os domos geodésicos são assim. Agora, não sei onde você leu no meu texto que toda tensegridade é formada por triângulos. Isso não está escrito lá.
Fantástico, Rafael! Muito obrigada pela explicação!
Muito legal a matéria. Eu não conhecia ainda o projeto do barco a remo do Fuller. Que bom que o jornalismo que une informação e ciência ainda existe! 🙂
Excelente materia. Claro que os leigos tem que estudar um pouco para entender melhor o projeto. Uma duvida, como sao fixadas as hastes entre elas? soldando, peca de encaixe??
Raimundo, as conexões são feitas com peças de encaixe (cada uma acomoda um vértice conectando 5 ou 6 hastes). Cada haste tem uma ponteira com um parafuso encaixado. Veja abaixo:
http://teoriadetudo.blogfolha.uol.com.br/files/2014/09/Dome_connection1.jpg
http://teoriadetudo.blogfolha.uol.com.br/files/2014/09/Dome_connection2.jpg
Eu também tinha ficado curioso e descobri esse cara incrível! Além desses feitos, Bucky deixou um legado ainda maior, um raio de esperança de que o indivíduo pode ajudar a mudar o curso da história, o que ficou expresso em seu epitáfio: “Call me trimtab” (Chame-me aleta de compensação). Essa aleta é um pequeno controle de uma embarcação que serve de leme, ou seja, Bucky provou que uma única pessoa pode modificar a humanidade inteira…
Nao sabia dessas tendencias de Klint. Menos ainda de seu domo em -quem diria- Moema.
Eu sou vidrado em esse assunto. e em 1985 fiz esculturas de tensegrity para o Salao de Americana. Tiveram o premio do Publico.
Mas o que queria dizer e que ha um livro-caderno MANUSCRITO sobre esse tema, em Sao Paulo, de dois arqts. e um deles fez um domo desses na sua casa de praia em Botucatu. Eu fiz copias desse caderno e di de presente para minhas filhas e amigos, porque nao existe mais. Esse caderno e uma joia , obra de arte mesmo, cheio de desenhos a mao. Neste momento acabo de procura-lo na minha biblioteca e nao achei. Um dos arquitetos era um tal Peluffo . Ou Lotuffo. E familiar de unos medicos de grande obra social em Tocantins. Estas dicas sao ouro puro. Procurem. Parabens ao homen dos barcos . Abraco.
Muito interessante !! … se fosse possível o Roberto Giannecchini conseguir o livro “Geodesicas e Companhia” junto das filhas … e torná-lo acessível aqui seria óptimo … obrigado
Parte 2 : Por se nao saben, nos anos 90 foi descoberta uma molecula outra de Carbono, que todos sabemos que existia o grafito, o diamante, (que eram respectivamente o mais mole e o mais duro dos materiais); bem a nova foi uma com a forma da “nossa”bola de futibol, a qual foi dado o nome de Carbono 60 ou FULLERENO em homenagem a Buckminster Fuller. As descobertas imediatamente posteriores deram os fios e nano-tubos de Carbono . etc. que se denominan trans- fullereanos , creio. Isto junto com o advento ou gracias a, a nanotecnologia. Como decimos em espanhol, aquellos polvos dieron en estos lodos. Ahh !! o livro se titulava “Geodesicas e Companhia”. Lembrei.