O homem mais inteligente do mundo
23/06/14 13:31QUANDO EU AINDA era um novato na cobertura de ciência, numa conversa com minha colega Martha San Juan França, ouvi ela se referir ao físico e jornalista Flávio de Carvalho Serpa como “o homem mais inteligente do mundo”. Com essa reputação entre os colegas, evidentemente fiquei curioso para conhecê-lo.
Na primeira vez em que o encontrei, num encontro informal de jornalismo científico, ele se revelou um cara totalmente despretensioso, quase a antítese do título que os amigos tinham lhe conferido por brincadeira. No bar, não fazia nenhum esforço para parecer um gênio. Na verdade, adorava desviar o assunto de ciência para falar bobagem.
Seu título honorário, fui descobrir depois, era mais do que merecido. Conheci pouca gente capaz de se intrometer tão a fundo nos afazeres da física. Conseguia extrair as observações mais pertinentes e as sacadas mais bacanas para fazer o público leigo entender assuntos cabulosos como o bóson de Higgs, a teoria das cordas e as dimensões extras de espaço.
Ele conversava com esses monstros da física como se estivesse batendo papo com um colega de redação. E sempre que alguém publicava uma matéria sobre física ou algum assunto de ciência mais intricado, logo em seguida aparecia o Flávio com um texto melhor. Devorava livros de ciência como se fossem best-sellers de banca. Sempre escrevia as melhores resenhas.
Com a morte dele nesta madrugada, aos 66 anos, todo mundo que o conhecia ficou muito triste e meio chocado. Foi muito cedo. É uma sensação ruim pensar que fiquei tanto tempo sem bater papo com ele. Ainda ontem, o Humberto Werneck, do Estadão, estava torcendo para ele melhorar. Agora, lendo o blog do Flávio, vejo quanta coisa ele escreveu e eu ainda não li. Ele fez o favor para a gente de deixar um portfólio legal de matérias que podemos fuçar quando estamos tentando entender algo inexplicável. Universos múltiplos? Computação quântica? Ele encarava tudo.
Eu não sei se o Flávio era realmente o cara mais inteligente do mundo, mas se não era ele conseguia enganar a gente muito bem. O que eu sei é que agora, sem termos ele para nos ajudar a compreender toda sorte de coisas complicadas, nós, leigos, estamos um pouco mais desconectados da ciência.
Maravilhoso texto, faz jus ao grande Flávio. Ninguém como ele para simplificar o que é complicado.
Querido Amigo Flavio !
Vc permanecerá conosco pelos lembranças de tantos momentos felizes que compartilhamos e pela rede de amigos que construiu por aqui!
Tenha uma caminhada de LUZ, muita luz!!!
Até sempre!!
Obrigada Rafael!
Seu texto explicou muito bem QUEM era esse nosso amigo! E o sentimento que temos com sua partida!!!
Muitas saudades dessa “conexão” que ele tinha com o mundo da ciência!!
É claro que fantasia faz mais sucesso do que ciência, mas lá por isso ainda temos o Paulo Coelho aqui e o o J. Rowling entre tantos outros.
Na tentativa de deixar o texto mais palatável, o “homem mais inteligente do mundo” comete um erro bastante bobo: Sheldon Cooper jamais diria “Bazinga” para uma enorme descoberta científica. Ele só usa (usava e graças a Deus parou) essa palavra quando fazia piadas e brincadeiras. Se descobrisse algo dessa magnitude, diria “Eureca!”, como de fato falou algumas vezes.
Faltou dizer que o texto, no entanto, tem méritos muito maiores do que essa besteirinha. Realmente ajuda muito no entendimento dos assuntos. Só é pena ver o epíteto cair com tanta facilidade.