Sobre raios e tempestades no litoral
15/01/14 17:04QUANDO ESCUTEI a história da morte da vendedora Rosângela Biavati, atingida por um raio anteontem no Guarujá, lembrei-me de uma tarde em que jogava bola com amigos na praia, ainda durante a adolescência. No meio da diversão começou a desabar um temporal com raios, e rolou uma discussão.
Com a bola parada um dos amigos do grupo insistiu para que saíssemos da praia, mas os outros (incluindo eu) zombaram dele e continuaram a troca de passes. Cada vez que o “medroso” pegava na bola, isolava o lance para longe, na direção da casa onde estávamos hospedados. Fez isso tantas vezes que nos venceu pelo cansaço, e todos decidimos ir embora. As trovoadas continuaram, e naquele dia ninguém foi atingido por nenhum raio.
É típico do comportamento de crianças e de adolescentes achar que nunca a coisa errada vai acontecer com eles. Aparentemente isso está na origem da fatalidade desta segunda-feira no Guarujá: Rosângela tinha saído do carro para chamar o filho e os sobrinhos que estavam no mar e se recusavam a sair d’água. Mas, ao fazer isso foi ela quem saiu do lugar mais seguro possível para se dirigir ao mais perigoso.
A história só não foi mais trágica por que, aparentemente, o raio que atingiu Rosângela não era dos mais fortes. Segundo o físico Osmar Pinto jr. do Inpe, com quem conversei ontem sobre o episódio, uma descarga mais intensa poderia ter eletrocutado não só a vendedora como também as crianças que estavam na água.
Evidentemente, quando eu jogava futebol sob trovoadas na praia eu sabia que estava elevando o risco de ser atingido por um raio. O que eu não sabia é que nas praias paulistas esse risco é ainda maior do que em outras partes do litoral brasileiro.
“No Brasil, raios tendem a ocorrer com menor frequência na orla, comparados ao interior, mas a orla do Estado de São Paulo é a que tem a maior incidência de raios”, diz Osmar. “Quase todo ano morrem pessoas no litoral de São Paulo atingidas por raio.”
Se estivesse dentro do carro na hora do raio, certamente Rosângela estaria viva hoje. Um lado comovente da história é que, ao ser atingida, talvez a vendedora tenha evitado que aquele raio caísse perto das crianças.
A imagem da tragédia que percorreu a internet ontem foi registrada um tanto quanto por acaso pelo fotógrafo Rogério Soares, do jornal “A Tribuna”. Ele fotografava Rosângela e seu marido para uma reportagem sobre outro assunto: carros que trafegam irregularmente nas praias da região. No momento da morte da vendedora, o casal tinha estacionado a caminhonete para recolher um jet-ski na praia.
A fotografia de Soares capturou o instante final da descarga elétrica, quando ela já está enfraquecida. Por isso na imagem o raio aparece todo segmentado. “Nesse momento, dependendo do ângulo da câmera em relação ao tortuoso canal de fluxo do raio, algumas partes do canal aparecem mais brilhantes do que outras”, explica Osmar.
A lição que o físico do Inpe costuma passar toda vez que fala com um jornalista é que a probabilidade de uma pessoa qualquer morrer atingido por um raio é maior no Brasil do que em outros lugares. Nosso país é o campeão mundial de eletricidade atmosférica, com cerca de 130 mortes anuais por esse tipo de incidente.
Não sei se algum tipo de campanha educativa pode ajudar a alertar as pessoas para esse tipo de risco. Em escolas, certamente, professores de ciências têm em suas aulas uma oportunidade para passa informações básicas sobre o assunto. É difícil mesmo fazer as cabeças duras dos adolescentes aceitarem as coisas, mas creio que professores são aqueles que mais bem sabem lidar com isso.
E como fica quem esta em uma lancha ???
Já deveria ter saído quando a coisa começou a ferver. Exceto no caso de raio seco (quando não há nuvens), é previsível a queda de raios no prenúncio de uma tempestade.
vai pro saco a mesma coisa, pode ser pior ainda dependendo da intensidade do raio.
As lanchas são como os carros.
E ADULTOS TÊM???? SE TIVESSEM NAO TERIA MORRIA A MAE DAS CRIANÇAS JOVENS…. TENHAM PACIENCIA!!!!!! ALGUEM VAI COMEÇAR A INSTRUIR O POVO AGORA????
Baldix, a mãe das crianças sabia do risco e estava fora do carro justamente insistindo para que elas saíssem do mar. Foi mais azar do que imprudência.
CANSAMOS DE VER REPORTAGENS, QUE EXPLICAM QUE QUEM ESTÁ DENTRO DO CARRO ESTÁ PROTEGIDO E QUEM ESTÁ FORA CORRE O RISCO DE SER O PARA RAIO DO MESMO ATRAIDO PELA LATARIA DO VEICULO…
VALHA-ME DEUS!
É verdade que é mais provável ser atingido por um raio do que ganhar na mega sena?
Pois é, geralmente nos campos de futebol é que ocorrem acidentes detes tipo com estragos “coletivos”
Alguns dias atrás (11/01/2013) o Usa Today publicou uma matéria a respeito. Entre outras coisas, a matéria afirma que no ano de 2013 ocorreram 23 mortes por raios nos EUA. Isto é o recorde de mais baixo número desde 1940.
Nos últimos 30 anos a média anual era de 52 pessoas atingidas mortalmente. No ano de 1940 houve 432 mortes por raios, quando havia metade da população atual.
As razões para a diminuição tão drástica de mortes estão no texto. Resta saber se estas razões explicam o número tão alto (relativamente as populações dos EUA e do Brasil) no nosso país.
Fonte:
http://www.usatoday.com/story/weather/2014/01/11/lightning-deaths-record-low/4411347/
Somente uma foto em alta resolução confirmaria a autenticidade dessa imagem. Ainda me parece photoshop.
Jonas, o laboratório de eletricidade atmosférica do Inpe atesta a autenticidade da imagem e confirma o local onde caiu o raio.
Num carro, além de haver o isolamento pelos pneus de borracha, ocorre a Gaiola de Faraday. Dentro do carro, com portas fechadas, você está seguro. Já numa lancha, se não for metálica e sem um “miolo” seguro, acho que o risco é grande.