O difícil caminho rumo a Cerro Armazones
15/10/13 18:24UM GRUPO DE astrônomos jovens emitiu nesta semana uma carta em que pede ao Congresso Nacional para ratificar o acordo do Brasil com o ESO (Observatório Europeu do Sul), lar do maior telescópio do mundo, no Chile. Três anos após o governo Lula ter prometido uma ajuda substancial ao projeto, ainda não está claro se o investimento vai mesmo sair.
O documento, que ressalta a importância da adesão ao ESO para a política de longo prazo do país em astronomia, foi redigido e publicado há um mês. Em sua versão atual está assinado por mais de 130 mestrandos, doutorandos e pós-docs, que se descrevem como os pesquisadores que “mais têm a perder caso o Brasil não cumpra o acordo”, em razão das oportunidades que ele gera nas próximas décadas.
A carta chega ao Congresso num momento em que o acordo se encontra “órfão” dentro do governo. Articulada pelo ex-ministro da ciência Sergio Rezende, a afiliação ao ESO foi assinada dois dias antes de ele deixar o cargo, em 2010, e acabou recebida com ressalva pelos seus sucessores.
Aloizio Mercadante, chefe da pasta em 2011, engavetou o documento. Marco Antônio Raupp, atual ministro, tirou-o da gaveta e o encaminhou para apreciação no Congresso, mas não colocou empenho pessoal em lutar por sua aprovação. O entendimento do ministério é de que a comunidade astronômica está dividida em relação à proposta, e o Legislativo seria o foro mais adequado para debater a decisão.
Um pré-acordo, por enquanto, garante acesso de astrônomos do país ao VLT (Very Large Telescope), o maior telescópio do mundo, com quatro espelhos lentes de 8,2 metros de diâmetro. Por cerca de € 4 milhões por ano, o Brasil dispõe das instalações do melhor observatório do mundo. É uma pechincha, e já tem produzido resultados. Mas se o país quiser se tornar membro permanente, será preciso desembolsar € 270 milhões ao longo de dez anos, conforme prometido.
Alguns astrônomos influentes na comunidade científica brasileira, entre eles João Steiner e Augusto Daminelli, da USP, argumentam que a filiação ao ESO é simplesmente cara demais para o Brasil. Steiner diz também que o Brasil será relegado a papel de coadjuvante no ESO, onde projetos de pesquisa de astrônomos com maior poder de fogo tendem a garfar a maior parte do tempo de observação nos grandes telescópios.
O grande apelo sedutor de entrar para o ESO agora, porém, é que empresas e universidades do país poderiam participar de licitações para construção do E-ELT (European Extremely Large Telescope), em Cerro Armazones –um telescópio monstruoso com 39 metros de diâmetro que deve ficar pronto até 2022. Isso permitiria ao país reaver parte dos investimentos.
Steiner e Daminelli argumentam, não obstante, que há opções mais em conta para o Brasil –que podem até ser adotadas paralelamente ao ESO. Suas críticas contra a adesão ao observatório europeu, porém, não parecem ter angariado apoio. Na última votação sobre o assunto realizada pela Sociedade Astronômica Brasileira em 2010, apenas 8% se declararam contra o acordo com o ESO.
No plano político, a carta dos mestrandos e doutorandos, apesar de ser direcionada ao Congresso, traz uma mensagem que diz mais respeito ao Palácio do Planalto do que aos deputados. O grupo apela para o impacto do ESO na internacionalização da ciência brasileira, principal bandeira da presidente Dilma Roussef no setor. Se algum braço do poder executivo encampar a bandeira do ESO, fica mais fácil tocar a aprovação do projeto, que está agora caminhando a passos lentos em três diferentes comissões da Câmara.
“Estamos em uma época oportuna para atrair jovens pesquisadores, uma vez que a Europa e os Estados Unidos enfrentam problemas financeiros”, diz a carta. “Entrar para o ESO não só abre infinitas novas possibilidades para os pesquisadores brasileiros das áreas de astronomia, astrofísica e afins, como também alça o Brasil a um seleto grupo de destinos desejáveis para profissionais dessas áreas.”
O texto da carta, por fim, alerta para o problema da reputação: “A falta de cumprimento com o acordo assinado pelo então ministro Sérgio Rezende em 2010 significaria, além de tudo, a perda da confiança no Brasil para grandes acordos internacionais e um mal-estar para os cientistas brasileiros”.
Certamente temos os recursos no Brasil para fazer esse investimento. Eu já trabalhei em vários países e eu nunca vi um cientista pedir ao governo para não investir em ciência! É realmente uma situação inacreditável. O que temos que reclamar é da corrupção no país ao invés de pedir para não investirmos em ciência e tecnologia. A corrupção é de aproximadamente 100 bilhões por ano. Diminuindo a corrupção em 0,05% por ano, tranquilamente daria para pagar a entrada ao ESO nos próximos 10 anos. Se alguns pesquisadores acham que apenas podem cumprir papel coadjuvante, talvez seria o caso de deixar o caminho aberto para a contratação de jovens astrofísicos brilhantes que temos no Brasil. Certamente eles não teriam medo de competir internacionalmente.
O consenso da comunidade em relação à entrada do Brasil no ESO resume-se em mais de 90% de aprovação. Gostaria saber que outro projeto astronômico contou com tanto nível de aprovação no Brasil e em outros paises. Qual foi o consenso da comunidade americana em relação ao telescópio Hubble? Como está a divisão desta comunidade hoje em relação ao telescópio Webb, sucessor do Hubble? Ou o consenso da comunidade europeia em relação à instalação do próprio ESO no Chile faz 60 anos? A própria construção do telescópio SOAR não era unanimidade na comunidade brasileira nos anos 90 quando decidiu-se a empreitada. Falo com conhecimento dos fatos, pois era presidente da SAB em 1996, quando as alternativas foram discutidas em assembleia. O consenso da comunidade existe, não existe a unanimidade, como em qualquer outro empreendimento humano. Os jovens pesquisadores mostram uma genuina preocupação em relação ao seu futuro. Este não sera o mesmo com o Brasil dentro ou fora do ESO.
O Brasil já não é membro do grande colisor europeu, o que certamente limitará o papel e prestígio da física nacional e agora me aparecem astrônomos defendendo que devemos ficar fora também do observatório, pois, segundo a ótica destes é caro para o país. Não compete a eles avaliar isso e quem pagará serão os impostos da população e não o salário do astrônomo. Ratifica ai D. Dilma.
Prezada população brasileira,
Atualmente sou estudante de astronomia, e pelo visto não me enquadro na classificação de ‘jovens astrofísicos brilhantes’. Mesmo assim, eis minha humilde opinião: não precisei do ESO para concluir minha tese numa área de ponta da Astrofísica e tampouco precisei fazer propaganda difamando os telescópios que não são adequados para a minha pesquisa. Não acredito que o Brasil será beneficiado com a entrada no ESO porque aqueles pesquisadores que realmente precisam utilizá-lo, tem colaboração internacional e podem fazê-lo sempre que quiserem. Não podemos é abrir mão ou deixar de escanteio telescópios como o Gemini e o SOAR, de mais facil acesso aos pesquisadores brasileiros e JAMAIS podemos esquecer sua importância porque foi através desses que o Brasil teve seu primeiro contato com os maiores telescópios do mundo.
Cito aqui outros grandes projetos ***pouco divulgados pela mídia*** e que são de fundamental importância para a Astronomia brasileira: o J-PASS e o Giant Magellanic Telescope (GMT).
“não precisei do ESO para concluir minha tese”
Em nenhum momento foi dito que isso nao seria possivel. Como diz a carta, o cerne da questao nao eh o que se pode fazer hoje. Mas sim quais serao as possibilidades de fazer ciencia competitiva internacionalmente no futuro. Alem disso, a participacao no ESO nao beneficia apenas a comunidade academica. Mas tambem empresas brasileiras que poderao participar do desenvolvimento de tecnologia para os futuros instrumentos.
” tampouco precisei fazer propaganda difamando os telescópios que não são adequados para a minha pesquisa”
Em nenhum momento os outros telescopios foram difamados ou qualquer coisa parecida! E vale ressaltar novamente, como foi dito em outro post aqui, que o ESO nao eh um telescopio.. mas um consorcio deles… e consequentemente a comparacao direta nao eh correta.
“Não podemos é abrir mão ou deixar de escanteio telescópios como o Gemini e o SOAR”
em nenhum momento admitiu-se que a entrada no ESO ira tirar recursos dos outros acordos ja firmados, uma vez que o financiamento vem de fontes completamente diferentes. Entretanto… eh natural que ao longo da historia, esses projetos sejam sim substituidos por outros mais modernos e que atendam melhor as necessidades da comunidade. Nao eh realista pensar que os mesmos instrumentos serao capazes de suprir as necessidades de uma pesquisa de ponta (em qualquer area) eternamente. E eu acredito que nao eh aconselhavel esperar que os telescopios aos quais temos acesso hoje estejam obsoletos para soh entao pensar em qual seria o proximo passo. Enquanto isso os paises participantes do ESO ja comecaram a construir seus instrumentos 20 anos antes… e nos estaremos sempre correndo atras do prejuizo.
“de mais facil acesso aos pesquisadores brasileiros”
eh fato comprovado que a competitividade aumenta a qualidade das propostas. E eu tenho plena confianca na capacidade de aprendizagem e desenvolvimento da nossa comunidade. Ja trabalhei com alunos no Brasil e no exterior, e digo por experiencia que nossos alunos, quando bem orientados, tem plenas condicoes de competir.
“JAMAIS podemos esquecer sua importância porque foi através desses que o Brasil teve seu primeiro contato com os maiores telescópios do mundo.”
nunca foi negada a importancia desses instrumentos ao desenvolvimento da pesquisa astronomica no Brasil. E acho que todos concordamos que foi gracas a eles que agora podemos almejar conscientemente projetos maiores. De certa forma, a boa performance da comunidade astronomica brasileira no ESO eh fruto da experiencia adquirida no Gemini e ao SOAR.
“Cito aqui outros grandes projetos ***pouco divulgados pela mídia*** e que são de fundamental importância para a Astronomia brasileira: o J-PASS e o Giant Magellanic Telescope (GMT).”
Se nao me engano, nao existe acordo firmado para participacao do Brasil no GMT. Quanto aos outros projetos, eh perigoso comparar o ESO a projetos individuais porque sao coisas completamente diferentes, como foi dito acima. Eh importante ressaltar que diferente de muitos projetos, o ESO nao eh um acordo entre grupos de pesquisadores e/ou Universidades, mas entre paises. Desta forma, eu acredito que a participacao no ESO eh muito importante para descentralizar a pesquisa astronomica no Brasil, que no momento eh bastante concentrada em SP, entre outras coisas, devido a FAPESP ser muito mais ativa do que as outras FAPs. Com o Brasil como membro efetivo do ESO, pesquisadores de outros estados teriam maior acesso a bons instrumentos e principalmente, maior possibilidade de interacao com a comunidade astronomica internacional.
Concordo 100% com o fato de que se deve valorizar os telescópios Gemini e SOAR. Foram e continuarão (assim espero!) sendo importantíssimos para a astronomia brasileira. Aderir ao ESO não deve excluir esses telescópios. No entanto, é hora de darmos um passo adiante (mais um salto de qualidade) que diga-se de passagem, só é possível depois de todo o êxito que Gemini e SOAR representam. Com essas considerações e levando em conta tudo aquilo que já foi amplamente debatido, com relação aos prós e contras, sou amplamente favorável ao acordo com o ESO. Faço parte dos ~90% que dizem SIM ao ESO. Se alguém menospreza os telescópios Gemini, SOAR e demais parcerias, não o fazem em meu nome, nem em nome daqueles que assinaram a carta. Se alguém assinou a carta com esse intuito, assinou a carta errada. Em nenhum momento ela expressa qualquer desejo de menosprezo com aos atuais projetos.
E por fim… deixemos o que o que brilha para quem é brilhante. Tenho vários colegas que considero brilhantes. Eles certamente aproveitarão os recursos oferecidos pelo ESO melhor do que eu e você. E melhor do que muitos dos membros europeus.
Prezado jovem astrofísico: uma lástima seu comentário.
Primeiro porque a proposta de entrada no ESO nao significa deixar de escanteio outros projetos. Ninguém está negando a importância dos outros telescópios e nem renegando o passado. Os que defendem a entrada do Brasil no ESO apenas acreditam que os pesquisadores brasileiros são qualificados, têm muito potencial e merecem participar de projetos de tecnologia de ponta em astronomia.
E segundo porque é uma pena que só por você não ter precisado do ESO para concluir sua tese ache que depender de colaboraçoes internacionais é suficiente para os muitos pesquisadores que utilizam e/ou podem vir a utilizar a infraestrutura do ESO. Lastimável que você esteja olhando a questão de um ponto de vista pessoal.
E claro, se hoje o acesso ao Gemini ou ao SOAR são de fácil acesso aos pesquisadores brasileiros, como você mesmo diz, é porque no passado nós apostamos por estes projetos.
Quem sabe no futuro não poderemos dizer o mesmo do APEX, VLT, ALMA, E-ELT e cia, por exemplo?
Como foi dito pelo Rafael, não há unanimidade, mas até que 130 a 1fica meio exagerado. Que bom para você (e para todos que fazem Astronomia no Brasil) que os astrônomos que lhe precederam não fizeram raciocínio parecido, porque na década de 70 teses foram obtidas, algumas com sucesso, usando o telescopinho de 50cm do ITA, mas esses mesmos astrônomos gastaram parte importante da sua vida profissional para criar o Observatório do Pico dos Dias e que sem ele você deveria estar fazendo outra coisa na vida. Na década d 80 e 90 (e até hoje) muitas teses foram obtidas com o telescópio de 1,6m do OPD (algumas até usando os de 60 cm de lá). Mas não ficaram satisfeitos porque perceberam que a competitividade do OPD entrava em declínio e eram necessários telescópios maiores. E lutaram para colocar o Brasil nos projetos GEMINI e SOAR. Mas mesmo estes estarão superados em pouco tempo. O ESO representa a possibilidade da Astronomia brasileira de continuar competitiva, dando possibilidades aos astrônomos jovens que virão de poderem fazer pesquisas de ponta. O ESO nos coloca partícipes de desenvolvimento de projetos (e só não entraremos nos que não quisermos) e, estando dentro de uma comunidade de 15 países, continuaremos dentro de projetos de ponta dentro de um futuro imaginável.
Como disse o Horacio Dottori, a comunidade brasileira, em sua maioria (mais de 90%) apoia o ESO SIM!
Os argumentos dos que são contra me parecem absurdos. “…Papel de coadjuvante no ESO, onde projetos de pesquisa de astrônomos com maior poder de fogo tendem a garfar a maior parte do tempo de observação nos grandes telescópios…” O tempo no ESO é dado por merito científico. Que absurdo é esse de acharmos que não podemos submeter projetos com mérito? Abaixo a síndrome do vira-lata!
E o argumento de ser caro? Como disse o Jorge Melendez, diminuindo a corrupção em 0.05% ao ano da muito bem para pagar o ESO em 10 anos.
Rafael, na verdade Cerro Amazones é apenas uma parte, muito importante, do pacote “ESO”. Vem junto desde radiotelescópios, passando pelo fantástico ALMA até Cerro La Silla e Cerro Paranal. Portanto os custos não podem ser comparados com projeto – todos menores – dos adorados americanos de Damineli e Steiner. Seremos um dos 15 países membros com direito a voto, parece tolice imaginar que os outros se uniriam contra nós, simplesmente porque são europeus. Assim como imaginar que não teríamos capacidade de competição científica contra portugueses, tchecos, belgas etc. Cito estas nacionalidades, com respeito, só para se ter ideia da generalização que é feita. A Astronomia brasileira tem mostrado muita competência e é por isso, não pelo dinheiro que poderia ser obtido em vários outros lugares, que o ESO convidou o Brasil, até agora o único não europeu, para entrar no consórcio. O medo desses astrônomos diz muito sobre sua autoavaliação, mas pouco sobre a capacidade da comunidade astronômica brasileira. Se fôssemos depender de unanimidade (isso não é uma idiotice?) não teríamos, para começar o Observatório do Pico dos Dias, que alavancou a Astronomia no Brasil, não teríamos entrado no projeto Gemini e nem no SOAR. O gosto de mostrar uma polêmica, muito comum aos jornalistas, deveria ao menos ter mostrado sensibilidade de dar voz ao imenso grupo, de mais de 90% como você mesmo menciona, dos outros astrônomos, vários mais qualificados cientificamente do que os citados.
Carlos Alberto,
Obrigado pelos comentários. De fato, esqueci de mencionar o acesso do país a todas as instalações do ESO além do VLT e do futuro E-ELT. Mas não entendi por que você reclama de mais espaço para o grupo dos astrônomos favorável ao acordo.
Eu fui o primeiro jornalista a divulgar a carta anteontem, inclusive reproduzindo alguns trechos do documento. Além disso, temos dado destaque às pesquisas brasileiras feitas no ESO, em especial ao trabalho do grupo do Jorge Melendez, na USP, que já foi tema de duas matérias do meu colega Salvador Nogueira (http://folha.com/no1333270 e http://folha.com/no1174010).
Quanto a mostrar a polêmica na comunidade astronômica, ainda que o grupo contrário seja minoria, é importante, sim. Não estou exercendo nenhum julgamento sobre se a vontade da maioria deve ser respeitada ou não. O fato é que o Ministério da Ciência está lançando mão deste argumento para se isentar do debate na Câmara. A ausência de uma pressão do MCTI sobre os deputados é algo que pode ser determinante no desfecho do caso no Legislativo. Isso não é importante?
Claro que é Rafael e sei muito bem da importância que você está dando ao projeto. Mas acho a ênfase aqui nos poucos que se opõe muito exagerada. Ficou parecendo que astrônomos maduros se contrapõe a estudantes. Acho a iniciativa dos estudantes excelente, pois eles serão os maiores beneficiados ou prejudicados, conforme o caso. Também não me parece correto dar a entender que o MCTI não concorde com a entrada do Brasil no ESO. Desconfio que essa seja a posição particular do ministro, (infelizmente) mas não do resto da cúpula do ministério. E por fim tenho bastante esperança que a Câmara dos Deputados acabe por aprovar o acordo e seu artigo na Nature pode ser considerado muito motivador nisto.
Para que precisamos ter acesso à tecnologia, se já temos os melhores estádios de futebol……. Foram 30 bilhões de reais com a copa. Sabe lá quanto foi desviado, de uma forma ou outra. E depois vem as olimpíadas. Tem horas que dá vontade de sumir desse país….. É um somatório de incompetência com corrupção que vai levando o País para um buraco sem fim.
É muita arrogância afirmar que a comunidade científica brasileira será apenas coadjuvante se o Brasil de fato aderir ao ESO. Além da desonestidade intelectual, afirmações como estas apenas empobrecem a história de pessoas que ajudaram, reconhecidamente, a construir a astrofísica no Brasil ao longo de todos esses anos. É frustrante para todo jovem pesquisador em início de carreira ver anseios e picuinhas pessoais sendo priorizados em detrimento ao que consideramos planejamento estratégico para o futuro da astrofísica e da ciência no país. Não entrar no ESO significa fechar as portas para o que temos de melhor no presente e para o que teremos de melhor no futuro próximo e longínquo para a astrofísica brasileira.
Enquanto o Brasil somente agora começa a discutir a internacionalização de sua ciência [há vários aspectos e peculiaridades que precisam ser discutidos com muito cuidado], a astrofísica brasileira já se internacionalizou há muito tempo; aliás, a própria astronomia é, por vocação, internacional [e me desculpem a redundância]. Portanto, o discurso limitado e desonesto de que não podemos competir nos projetos internacionais por mérito científico não se justifica. Não é da competição que devemos temer mas, sim, temer e combater o “clientelismo rasteiro”, esse câncer de raízes profundas dentro do fisiologismo acadêmico, sobretudo no Brasil. A competição saudável é aconselhável e extremamente bem-vinda.
Além de todos os benefícios que já foram amplamente discutidos sobre a entrada do Brasil no ESO, vale salientar que se queremos trazer um Prêmio Nobel de Física para o Brasil, um dos atalhos possíveis, nesse momento, é chegarmos o quanto antes a Cerro Armazones. Eu não sei vocês, mas eu já estou cansado de ter que aplaudir o Brasil apenas pelos títulos da Copa do Mundo ou pela beleza do seu samba. Gosto da copa e, ao contrário de muitos existencialistas, sou sambista por natureza. Mas como astrofísico, não me resta dúvidas: o Brasil está preparado para caminhar rumo a Cerro Armazones. E mais importante: é isso que esperam de nós os muitos estudantes que agora começam uma graduação em Física, Astronomia, Engenharia ou áreas afins no Brasil. É desse panorama de podermos participar como SUJEITOS de novas descobertas e possibilidades de se fazer ciência, engenharia e tecnologia inovadoras, de norte a sul do Brasil, num ambiente competitivo, internacional e de alto nível, que nós, jovens pesquisadores em início de carreira, não podemos ser privados e esse ambiente, sem dúvidas, o ESO nos oferece. Essa é uma oportunidade ímpar para todos nós onde a sinergia do nosso potencial econômico, da nossa vontade política e do nosso planejamento estratégico a curto, médio e longo prazos, nos asseguram um futuro de liderança no mundo. É pegar ou largar, simples assim.