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por Rafael Garcia

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O HIV e o desafio para a vacina da USP

Por Rafael Garcia
06/08/13 15:23

Quando conversei com Edecio Cunha Neto, líder do projeto de pesquisa que desenvolve uma vacina contra o HIV na USP, o cientista parecia um pouco surpreso com o grau de atenção que seu trabalho passou a receber de uma hora para a outra. Sua pesquisa não vinha causando grande estardalhaço em estágios anteriores e, agora, um passo de chegar num possível ensaio clínico em humanos, toda a imprensa do Brasil passou a procurar os cientistas.

Se a mídia ignorou o grupo da USP antes, não posso criticar outros jornalistas. Eu mesmo não tinha procurado Cunha Neto para falar sobre o projeto antes. Ele e outro coordenador do projeto, Jorge Kalil, estão prestes a iniciar um teste em macacos agora, mas vinham obtendo sucesso com camundongos desde 2006, usando esquemas elaborados para tentar entender a eficácia do imunizante. A despeito do complexo de viralata, a chance de uma vacina desenvolvida e patenteada no Brasil chegar a um estágio de desenvolvimento mais avançado ainda parecia ser mesmo um desafio.

É verdade que, mesmo que o projeto obtenha sucesso, a vacina da USP não é uma promessa de proteção total contra o HIV. Os experimentos com roedores e os estudos moleculares usados no desenvolvimento do produto sugerem que ela seria uma ferramenta complementar de prevenção, acompanhada de algum imunizante mais potente Os pesquisadores aventam a possibilidade de a vacina vir a ser usada como uma forma preventiva de retardar a ação do HIV no futuro, também, mas também não está claro o quanto autoridades de saúde pública estariam propensas a investir numa campanha de imunização preventiva usando um produto que não ofereça proteção completa.

Ressalvas à parte, no estágio em que as coisas estão, tudo é suposição. É preciso esperar o que os testes com macacos vão dizer.

Vale notar que a vacina da USP, batizada de HIVBr18, tem algumas características bem interessantes. Uma delas é o fato de ter escopo amplo, porque foi projetada para atacar partes do vírus que não costumam mudar. Isso implica que, caso funcione, o imunizante continuria tendo utilidade mesmo após o HIV sofrer mutações. E a ideia é que a vacina seja útil contra várias variedades diferentes do vírus, também.

Percalços

Mesmo que o teste com macacos dê certo, porém, ainda há muitas barreiras a serem superadas para levar o projeto adiante. Uma delas é a do financiamento. A Fapesp ainda não deu sinais de que teria cacife para bancar um teste clínico de fase 1 (avaliação de segurança) para o imunizante. Cunha Neto também se diz pouco esperançoso sobre a possibilidade de atrair investimento privado antes da fase 2 (avaliação de efeito). Há outras vacinas mundo afora disputando financiamento.

Uma estratégia diferente poderia ser usada para mostrar o poder do tipo de vacina usada por Cunha Neto. Segundo o cientista, seria possível repetir o mesmo método de criação da vacina –que busca imitar o sistema imune de pessoas com mais resistência ao HIV–, mas numa versão contra o SIV, a variedade do vírus que infecta macacos. Como não existe nenhum modelo animal para se estudar o HIV diretamente, isso permitira avaliar melhor as chances de sucesso, colocando uma vacina para brigar de verdade contra um vírus de imunodeficiência dentro do organismo de um primata. O sucesso em um teste como esse daria uma razão a mais para acreditar na vacina da USP.

Nenhum biotério brasileiro, porém, tem estrutura para realizar um teste de desafio em primatas, segundo Cunha Neto. Caso o teste com o SIV venha a ser feito algum dia, terá de ser em colaboração com algum outro país.

Mas os cientistas ainda não estão debatendo isso. Cunha Neto, agora, aposta as fichas no teste com os macacos. Talvez isso qualifique o grupo para um estudo internacional de com o SIV. Talvez seja possível chegar a um ensaio humano de fase 1 sem que isso seja necessário. A ver. Até aqui, um passo por vez, o grupo da USP tem conseguido avançar.

No fim, mesmo que a vacina não dê certo, o repósitorio de conhecimento que o grupo da USP deixará sobre o vírus certamente contribuirá para outras pesquisas. O trabalho não é, portanto, uma questão de tudo ou nada, e já rendeu alguns frutos interessantes.

About Rafael Garcia

Rafael Garcia, 37, é colaborador da Folha em Washington (EUA). Formado em jornalismo pela USP (Universidade de São Paulo), foi bolsista do programa Knight de jornalismo científico no MIT (Massachusetts Institute of Technology) e editor-assistente na redação brasileira da revista “Scientific American”.
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Comentários

  1. Fátima Neri comentou em 23/08/13 at 10:49 am

    Nossa com certeza esses estudos renderão muitas informaçoês preciosas, é uma pena
    não podermos contar com a FAPESP porque
    o Brasil não investe em pesquisas não tem condições de atrair investimento privado.

  2. roberto comentou em 29/08/13 at 11:04 am

    Isto já esta virando piada,sempre pesquisas pro futuro,que diga-se de passagem nunca chega.

  3. Maria Clara comentou em 04/10/13 at 6:30 pm

    Pelo menos já rendeu alguns bons frutos.

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