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Teoria de Tudo

por Rafael Garcia

Perfil Rafael Garcia é repórter de Ciência.

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Guia do fim do mundo (parte 3)

Por Rafael Garcia
28/12/12 07:01

E ACABOU SENDO que o Armagedon não foi desta vez. Para encerrar o ano do fim do mundo e concluir essa pequena série de posts sobre os maias, então, ofereço abaixo um pequeno relato daquilo que vi nos sítios arqueológicos maias que visitei.

Foram dez. Todos eles já estão abertos ao turismo e são de acesso relativamente fácil. (em alguns, até fácil demais para o gosto dos arqueólogos). Deixo como meu legado pós-apocalíptico este pequeno roteiro de turismo arqueológico/arquitetônico para quem pretende visitar a região algum dia.

TIKAL

O sítio arqueológico que dá aos visitantes a melhor percepção do espaço urbano de uma cidade maia é Tikal. Incrustada na floresta do Petén, no norte da Guatemala, e de difícil acesso via terra, a cidadela está relativamente bem preservada e soube acomodar o turismo sem desalojar os arqueólogos. Os cinco grandes templos que se alçam para cima da copa das árvores gigantes ainda estão cercados de vegetação nativa e animais como bugios, macacos-aranha, perus selvagens e até onças, que povoavam o imaginário maia. A população estimada da cidade, que atingiu 90 mil pessoas em seu auge, possibilitou a construção não só de templos mas de habitações de pedras para a corte local. (Fotos: Rafael Garcia/Folhapress)

 

PALENQUE

As ruínas de Palenque, em Chiapas, no México, não revelam uma grandiosidade similar à de Tikal, mas a ousadia arquitetônica e a beleza da cidade certamente a tornam um lugal tão incrível quanto essa outra. Diversas construções com entradas arqueadas, um canal, uma torre de pedra e vias elevadas dão até uma sensação de que o lugar teve influência de arquitetura medieval européia. A administração do sítio fez também um bom esforço para preservar esculturas, relevos e ornamentos dos prédios no local, o que os torna bem mais interessantes de serem observados do que em museus.

 

CHICHÉN-ITZA

O sítio arqueológico maia mais visitado pelos turistas pode ter atraído alguns desconfortos com a popularidade, mas sua beleza compensa a visita. Em Chichén Itzá, o acesso ao interior e às plataformas da maioria das edificações é vetado ao público, mas quem não tem ímpeto mais explorador certamente se contenta em apreciar a paisagem de fora. A cidadela do período maia pós-clássico, no coração da península do Yucatán, também é interessante por ter um estilo arquitetônico um pouco diferente, pois os maias da região tinham influência estética de povos toltecas que migraram do oeste.

 

TULUM

Tulum é o único grande sítio arqueológico maia a beira mar com um tamanho que justifique algum esforço para visitar. A cidade, que era um centro comercial importante para os maias do pós-clássico, também é a única a ser cercada por uma muralha. Situada à beira de uma falésia, a posição defensiva estratégica levou os arqueólogos a concluirem que a região era particularmente visada por ataques militares de fora. O sítio é mais bonito pela localidade do que pelas construções, que são relativamente baixas comparadas a outras grandes cidadelas maias. As ruínas também vivem cheias de turistas, um pouco em razão da praia que existe ao lado do sítio, uma das mais bonitas da riviera maia.

 

COBÁ

Para quem deseja visitar uma cidade maia de grande porte sem os inconvenientes trazidos pelas hordas de turistas, Cobá é um lugar interessante. Oferencendo uma pequena acrópole, uma pirâmide gigantesca e muitas construções menores para explorar na mata fechada, é bem fácil para que visita o local se sentir no cenário de um dos filmes de Indiana Jones. A direção do parque também cortou algumas trilhas para quem quer conhecer melhor a floresta. É passeio fazer isso em Tikal, também, mas a vegetação em Cobá é de um estilo diferente.

 

UXMAL

Dos grandes sítios arqueológicos maias que restaram, Uxmal talvez seja aquele que mais bem preserva esculturas e ornamentos arquitetônicos no local. O templo principal da cidadela, apelidado pelos espanhóis de “castillo”, lembra um pouco um castelo medieval por sua imponência. Outras edificações estão cheias de detalhes esculpidos em pedra, e a disposição dos prédios dá a impressão de uma cidade que cresceu com mais planejamento. A vegetação seca e mais rasteira do oeste do Yucatán não é muito interessante, mas abriga as divertidas iguanas que ficam espalhadas pelo sítio.

 

TONINÁ

Toniná, diferentemente de todas as outras grandes cidades maias, é uma acrópole —uma cidade construída numa encosta de montanha. Localizada numa região de Chiapas onde não existe o tipo de rocha calcária normalmente usado pelos maias para erguer pirâmides, a cidadela foi toda construída com tijolos menores de rochas avermelhadas, e o declive da montanha foi usado para criar o tipo de paisagem típica que se vê num centro maia. A cidade, que era rival militar de Palenque, foi a última a registrar uma data no calendário maia de contagem longa, no ano 909, hoje adotado como fim do período clássico dos maias.

 

ZACULEU

A única grande cidadela maia que ainda era habitada durante a chegada dos espanhóis e não terminou destruída após um cerco é o Zaculeu, no planalto guatemalteco. Para horror dos arqueólogos, porém, suas ruínas foram todas “restauradas” com cimento na década de 1940, o que dá a suas pirâmides um visual de arquibancada de estádio. Apesar de estar mal preservado, o Zaculeu vale a visita em parte, por estar numa região onde povos maias atuais ainda mantém boa parte de suas tradições antigas. Em feriados, o sítio é usado para recreação e é possível ver alguns visitantes usando trajes típicos e falando a língua local, o Kiche. Meninos que brincam no Zaculeu, curiosamente, elegeram a antiga quadra do jogo de bola dos maias como um dos locais preferidos para jogar futebol.

 

KABAH

Uma cidade maia bastante pequena, mas que vale a visita por ser de fácil acesso, é Kabah, na beira da estrada a poucos quilômetros de Uxmal. Sua principal atração é um edifício apelidado de “Palácio das Máscaras”. Decorado com centenas de imagens do rosto narigudo de Chaac, deus maia da chuva. O palácio tem uma fachada diferente de qualquer outro prédio maia que se possa ver em outras cidadedas. Quando visitei o sítio, há quatro anos, boa parte do sítio ainda eram pedras soltas que os arqueólogos estavam tentando remontar.

 

KAMINALJUYÚ

Localizado dentro da mancha urbana da Cidade da Guatemala, Kaminaljuyú raramente é incluído em roteiros turísticos. O que resta para ver são alguns montes de terra que encobrem bases de construções antigas e um galpão onde é possível ver escavações dos arqueólogos. A aparência modesta do sítio esconde a importância arqueológica do local, que é tido como um centro onde boa parte das tradições maias tiveram origem. A passagem pela capital guatemalteca (recentemente eleita a cidade mais feia do mundo), porém, vale à pena pelo Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia, onde se encontram esculturas desenterradas em Kaminaljuyú (foto acima) e artefatos achados em escavações no resto do país.

Por fim, não vou me arriscar aqui a dizer que os dez sítios arqueológicos maias que visitei são os mais interessantes. Ainda não visitei dois dos mais importantes: Copán, em Honduras, e Yaxchilán, em Chiapas. Esses dois acabaram excluídos de meu roteiro por estarem fora de mão dos circuitos de minhas duas visitas à região. Caracol e Altun Ha, no Belize, também são muito apreciados pelos arqueólogos. Se o que eu escrevi serviu para que os maias sejam um pouco mais bem compreendidos na ocasião do fim do ciclo de seu calendário de contagem longa, já sinto que minha missão de fim de mundo foi cumprida.

About Rafael Garcia

Rafael Garcia, 37, é colaborador da Folha em Washington (EUA). Formado em jornalismo pela USP (Universidade de São Paulo), foi bolsista do programa Knight de jornalismo científico no MIT (Massachusetts Institute of Technology) e editor-assistente na redação brasileira da revista “Scientific American”.
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Comentários

  1. Haroldo Lage Vieira comentou em 28/12/12 at 7:58 am

    Fico cada vez mais triste com a ignorância do ímpio!!!
    Comprova seu analfabetismo religioso,pois é leigo neste assunto.
    Quem acredita nisto é “FORMADO,PÓS GRADUADO,DOTOURADO” em CEGUEIRA ESPIRITUAL, é uma prova viva, infelizmente, que nunca teve aquela INTIMIDADE com a palavra de Deus, a BÍBLIA.

    (Meu amigo, abra seus olhos espirituais,peça ao Espírito Santo para abrir sua visão e passe a ler a BÍBLIA.)

    GRANDE ABRAÇO E DEUS SEJA CONTIGO

    • Viktor comentou em 23/01/13 at 12:59 pm

      Intimidade com a Bíblia tive! Quanto mais estudei mais cheguei a conclusão de que tudo não passa de belas histórias, mas sòmente histórias e nada de real!

  2. Larimer Daniel comentou em 28/12/12 at 9:46 am

    Rafael, muito legal toda a série e esse post com as sugestões. Umas perguntas: Existe alguma teoria sobre o porque da forma arquitetônica das pirâmides? Por que a forma piramidal? Seria por ser autoportante e dispensar outros elementos estruturais? Por que ocorrem tanto na civilização Maia quanto no Egito? É mera coincidência?

  3. Alfredo comentou em 11/01/13 at 4:29 pm

    Parece que os milhares de turistas e simpatizantes que participaram de um encontro no tal dia 21/12, num dos sótios arqueológicos, destruiram parte das instalações de forma definitiva. Um absurdo.

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