Guia do fim do mundo (parte 2)
21/12/12 07:15ESCREVI ESTE SEGUNDO post sobre o fim do mundo ontem e o programei para ir ao ar na manhã deste 21 de dezembro de 2012. Então, se você está lendo este blog agora, provavelmente é porque o a Terra ainda existe.
Para a maioria dos historiadores, aquilo que os maias tinham previsto para hoje, como expliquei no post anterior, não era um Armagedon, e sim o fim do ciclo da contagem longa de seu calendário. Acabamos de entrar no 13º b’ak’tun, período que marca o fim de um intervalo de 5.125 no seu sistema de contagem do tempo dos maias e outros povos mesoamericanos. Possivelmente isso não seria razão para pânico, e sim para festejar, assim como festejamos a passagem do ano de 1999 para 2000.
Mas em vez de me aborrecer tentando lembrar quantos k’atuns cabem num b’ak’tun, decidi celebrar a sobrevivência do mundo de outra maneira. Vou listar aqui as razões pelas quais acho que a civilização maia era realmente admirável e merece ser relembrada nesta data especial.
O CALENDÁRIO
O calendário maia não foi propriamente uma invenção maia, mas de povos mesoamericanos mais antigos, como os olmecas e os zapotecas. Os maias, porém, levaram a precisão do calendário a seu ápice. Há indícios de que eles faziam até mesmo correções usando anos bissextos. Foram eles também quem melhor transmitiram a utilidade do calendário para a agricultura, determinando as épocas certas para plantio e colheita.
A AGRICULTURA
A agricultura maia também foram herança de culturas mesoamericanas, mas a extensão com que os maias diversificaram e produziam milho, feijão e abóbora certamente foi ampliada. Estima-se que cidades maiores, como Tikal, tivessem cerca até 100 mil habitantes, e só um sistema sofisticado –com rotação de culturas e uso de jardins-floresta– poderia sustentar essa população concentrada.
A ESCRITA
O símbolos maias usados no calendário também originaram o formidável sistema de escrita maia. Sem emprestar ideias de nenhum outro povo, os maias começaram a escrita como um conjunto de representações pictográficas (por exemplo, desenhar uma onça para escrever a palavra “onça”) e evoluiram para uma estrutura silábica mais avançada. Criar uma escrita própria é algo do qual poucas civilizações puderam se gabar. Na Europa, por exemplo, nenhum idioma obteve esse feito. Os alfabetos latim e o grego, que deram origem a todo o sistema de escrita das línguas europeias de hoje, são derivados do fenício e de sistemas de escrita que saíram da Mesopotâmia.
O ESTADO
O estágio de desenvolvimento político dos maias em geral é tido como menor do que o dos Aztecas, que tinham uma espécie de reino centralizado, mas isso em parte é o que fez com que sua resistência à conquista pelos espanhóis durasse muito mais. Organizados em núcleos similares a cidades-estado independentes (como as da Grécia antiga), os maias não tinham um rei ou imperador para declarar rendição, e os espanhóis tiveram de conquistar os centros maias um a um.
O COMÉRCIO
Apesar de não terem um poder centralizador, as cidades maias interagiam muito entre si, e arqueólogos desvendaram longas rotas de comércio. Pedras vulcânicas que eram usadas em lanças e facas saiam do planalto guatemalteco para serem usadas até o norte do Yucatán. O sistema de escrita que a região usava era basicamente o mesmo, e talvez os maias não estivessem muito distantes de chegar a uma organização que historiadores classificariam como uma nação.
A ARQUITETURA
Os maias deixaram o maior legado arquitetônico de todos os povos americanos pre-colombianos. Pirâmides enormes estão de pé ainda hoje, organizadas em torno de praças e interconectadas por estradas, das quais há alguns vestígios. Não havia palácios com grandes espaços internos, apenas residências de pedra pequenas para reis e para a corte, mas a maneira com que as construções monumentais organizavam o espaço público nas grandes cidades é marcante. (Pretendo falar um pouco mais disso no terceiro post.)
O JOGO DE BOLA
Em quase todo sítio arqueológico maia que se visita é possível encontrar uma quadra em forma de “I” maúsculo. Era o espaço para se praticar o “ullamaliztli”, um jogo de bola do qual não se sabe bem a regra hoje em dia. Alguns historiadores afirmam que era algo como um ‘frescobol’, apenas um exercício para manter a bola em movimento. A julgar pela quantidade de quadras construídas, o ullamalitztli era uma paixão nacional. Sua prática tinha um significado ritual importante, e jogadores que se saiam bem eram sacrificados aos deuses em algumas cidades.
A TECNOLOGIA
Já ouvi gente zombando da civilização maia porque eles não chegaram a inventar a roda. Pode ser estranho, mas acho que algumas dessas deficiências tecnológicas são mais motivo de admiração do que de crítica. Ainda é debatido se os maias realmente não sabiam usar uma roda, ou se não as utilizavam por não terem animais de carga. Há pedras ornamentais redondas depositadas em algumas cidades mais que provavelmente eram deslocadas sendo roladas.
Os maias também não dominavam a metalurgia, mas a maneira com que produziam facas e instrumentos com vidro vulcânico é admirável. Artesãos maias precisavam ter grande engenhosidade para produzir instrumentos sofisticados sem materiais mais resistentes.
A IDENTIDADE CULTURAL
Se você quiser ver um nativo do Yucatán ofendido, basta ver um grupo de turistas perguntando a ele por que os maias desapareceram. A civilização maia ruiu, mas a cultura daquele povo nunca sumiu. Os maias sobreviveram ao colapso das cidades do período clássico e, depois, à colonização espanhola. Hoje, com uma identidade cultural bastante nítida, a tradição dos maias permanece viva em muitos aspectos, como a culinária, a língua, a arte e a moda. Viajar por Chiapas, Yucatán e Guatemala é possível ver muitos vestigios da grandiosidade da civilização maia, tema que deixo para o próximo post.
Muita gente superestima o conhecimento maia.
Os maias sacrificavam crianças em homenagem aos deuses deles.
Os maias contavam o ano com 18 meses de 20 dias. 360 dias. Mais imperfeito que o nosso. E o que faziam com os 5 dias e mais as horas faltantes? Os 5 dias eram considerados “dias vazios”, nefastos, achavam que os deuses deles descansavam e deixavam os maias desprotegidos, por isso tinham medo desses dias. Que “sabedoria”, não?
E as horas, minutos e segundos que ainda “faltam”, o que faziam? Certamente faziam correções, como nós fazemos com os bissextos, mas não há registros de como faziam essas correções, ou seja, era possivel que se perdessem nessa contagem.
Hoje temos precisão atômica para contar o tempo, eles não.
Os maias eram apenas uma civilização no tempo deles, os calendários eram importantes para … alimentos. Para plantar, colher, comer, como qualquer civilização naquela época tinha algum método para saber contar esse tempo. Os maias guerreavam frequentemente, para proteger ou conquistar, como qualquer civilização daquele tempo.
Ou seja, os maias foram do tempo deles, muito menos conhecedores das coisas que nós hoje, eles não tinham vacinas, não sabiam do DNA, não sabiam diferenciar planetas de estrelas.
Assim como nós seremos considerados uma civilização do nosso tempo em relação à sociedade que vai existir daqui 1000 anos, seremos considerados ignorantes em relação ao futuro assim como qualquer civilização do passado é considerada ignorante em relação ao nosso tempo.
Alfredo,
Que fique claro aqui: eu estou dizendo é que os maias eram uma sociedade formidável para uma sociedade que estava deixando o neolítico naquele tempo. O que é fascinante é ver que eles conseguiram atingir um grau de sofisticação relativamente avançado –em certos aspectos comparável ao da Grécia Antiga, que também guerreava o tempo todo– sem terem importado sua cultura de outras civilizações próximas. Não dá para comparar a civilização maia com um país desenvolvido do século 20, que possui estado de direito e preza o método científico.
Os maias sacrificavam jovens e crianças, sim, e provavelmente não era fácil estar na base da pirâmide social de uma cidade-estado maia. Eu mesmo já escrevi uma matéria sobre descobertas recentes sobre isso: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u382385.shtml
Em muitos aspectos, porém, os maias não eram mais violentos do que espanhóis, que promoveram um genocídio de escala sem precedentes em sua campanha de conquista das Américas. Compare os maias com os romanos: o que você acha que acontecia com mulheres e crianças quando uma aldeia gaulesa era invadida? O Império romano, apesar de estar num estágio de desenvolvimento superior ao dos maias, era um lugar onde a violência era muito mais tolerada do que hoje. Pare para pensar nas histórias de infanticídio relatadas na Bíblia.
Então, não estou querendo glorificar um passado em que as sociedades eram mais primitivas que as de hoje. Estou querendo apenas mostrar como uma civilização conseguiu atingir um estágio de desenvolvimento relativamente avançado mesmo estando em total isolamento de outros povos com avanço similar.
Quanto ao calendário maia, é verdade que o ciclo mais usado por eles tinha 260 dias, mas eles tinham domínio também, sobre um ciclo de 365 dias, o Haab’, que inclusive era ajustado para corrigir o deslocamento das estações ao longo do tempo, como fazemos com anos bissextos. Então, o calendário deles era eficaz, sim.
Rafael, não falei de você em específico, estou falando das pessoas que acham que os maias eram sábios, que eram os “reis da cocada preta”, que sabiam dos mistérios, da origem da vida, de tudo.
Li coisas absurdas como se os maias fossem a oitava maravilha do mundo.
O Haab é próximo ao nosso, mas o Haab tinha esse probleminha, era um calendário de 360 dias, na verdade, os 5 dias restantes eram considerados vazios, sem significado, “tapa buraco”. Arrranjaram um motivo mítico para explicá-los, como se hoje, do dia 26 de dezembro até o dia 31, a gente considerasse como um tempo vazio. Sem sentido algum. E ainda tinham que corrigir o tempo faltante que hoje lidamos como bissextos. Não há nenhuma referência de como eles consertavam isso. Ou seja, o nosso solar, sim, é melhor que o deles.
Claro, espanhois fizeram barbaridades naquela época, mas não é uma questão de comparar quem era “melhor” ou “pior”, é uma questão de colocar as coisas nos eixos, os maias eram uma civilização do tempo deles, muito mais ignorante que nós em todos os aspectos. Os mitos que inventaram não significa que eram sábios, pelo contrário, só mostra o nível de ignorância. Associar deuses com calendários e sacrifícios humanos só os nivela no mesmo padrão de ignorância daqueles tempos e mais antigos.
Em Chiapas consta que os maias arrumaram um sistema de organização social próprio depois da guerrilha contra o governo do PRI, que inclui conselhos locais etc. Não chega a ser um Estado paralelo, mas é uma espécie de petismo que deu certo sem descambar para a cleptocracia (até porque os tuxauas locais não têm muito o que roubar).
A impressão que dá é que os conselhos locais foram uma invenção para existir uma convivência pacífica com o estado. Quando passei por San Cristóbal de Las Casas, vi muita presença militar e nenhuma referência à guerrilha. As únicas imagens ligadas ao ELN que vi foram em canecas e camisetas com a cara do Subcomandante Marcos, vendidas em lojas de bugigangas para turistas.
Rafael, achei legal seu texto pela abordagem que fez dos pontos positivos conhecidos hoje dessa civilização anterior à colonização européia, pois, já que o planeta não acabará tão cedo, devemos então celebrar esses aspectos e tirar algum aprendizado útil deles, conforme entendi sua colocação no início.
É claro que, para todas as civilizações antigas que forem criticadas, é do bom senso reconhecer os assuntos tidos como atrasados em relação ao que é estabelecido hoje no comportamento ocidental moderno. Assim também será no futuro em relação à hoje. E mesmo atualmente culturas contemporâneas são alvos legítimos de crítica, vejamos as culturas orientais, por exemplo, onde se mantiveram costumes milenares cheios de dogmas ultrapassados moral e eticamente, conforme o ocidente os vê.
É muito interessante esclarecer também que, em qualquer civilização, grande parte do conhecimento pode não ser de acesso comum a todos da população dependendo da organização social. Será que todos os maias tinham conhecimento astronômico aprofundado e o aplicavam no cotidiano? Ou existiria também o equivalente a sacerdotes e escribas, enfim, pensadores de uma elite, na mão dos quais realmente estava o comando dessa prática? É mais razoável pensarmos isso porque temos mania de generalizar e sabemos que não funciona bem assim. A tecnologia “de ponta” não é disponível para todos igualitariamente e nunca será.
Vejam o caso da máquina de Anticítera, conhecida como o primeiro computador da humanidade desenvolvido, supostamente por Arquimedes, durante a cultura grega antiga.
Provavelmente esse instrumento, fruto exclusivo do conhecimento de um matemático/engenheiro, não foi utilizado e aplicado por toda a população naquela época.
Link de um documentário sobre ele: http://www.youtube.com/watch?v=zgqGQnNqRoE
Nessa civilizações antigas, parece que a violência e a ignorância também estão sujeitas a essa generalização.
É difícil imaginar que nenhuma mãe tenha se rebelado contra a prática de infanticídio desses sacrifícios.
Se a “tecnologia de ponta” não aparece em vestígios, pedras, escritas, tumbas, catacumbas, dizer que ela existia é surreal.
Sobre o problema da generalização, vamos comparar com uma situação atual:
Pessoas do século XXI:
Em contrapartida, essas pessoas ou outras pertencentes à mesma civilização ocidental pós moderna e globalizada, usam produtos testados muitas vezes em animais, se locomovem com carros de altíssimo luxo e tecnologia, se comunicam com celulares que funcionam por satélite (uma pecinha lançada ao espaço com órbita controlada previamente com raciocínio matemático e físico).
Enquanto isso, (citando apenas um exemplo facilmente encontrado no google) na Alemanha do mesmo século XXI, um país de 1º mundo (conforme dizem), milhares de adeptos de zoofilia com consentimento da lei, ou seja, existe um código na lei que permite tal prática.
Ou então, pessoas morrendo de fome em países usurpados pelas mesmas “potências” que construíram os celulares via satélite.
COMO ASSIM?!!
Ou seja, nessa civilização nem todos têm acesso à tecnologia de ponta, nem todos passam fome e nem todos praticam zoofilia.
Nem todos os maias entendiam de astronomia e nem todos os maias sacrificavam crianças.
😉
Se fosse passado essa informaçao pela nasa ai sim teria fundamentos cientificos para essa historia ……ok agora por indios ……e ruin em ……………………ok
É uma grande desmonstração de ignorância e desconhecimento histórico desclassificar os indígenas a respeito das informações obtidas sobre uma civilização que foi quase totalmente destroçada pelos invasores espanhóis, da qual restou somente alguns poucos monumentos arquitetônicos que não conseguiram demolir, após os espanhóis terem se apropriado de todas as riquezas e queimarem quase todos os seus escritos e exterminarem quase todos os representantes vivos desse povo.
Se pudéssemos considerar a sociedade moderna efetivamente como uma civilização muito mais evoluída, hoje o mundo não estaria na catastrófica situação climática em que o nosso planeta se encontra, decorrente do aquecimento global, que os governos supostamente civilizados não querem sequer tentar resolver.
A Nasa poderia ser citada como um exemplo de evolução se não tivéssemos hoje uma atmosfera poluída por milhares de fragmentos de lixo espacial vagando aleatoriamente na atmosfera e com o risco disso cair na Terra a qualquer momento e, além disso, também é uma grande responsável por toda a poluição dos gases que já emitiu com os lançamentos espaciais que fez até hoje e continua a fazer sem pensar nas conseqüências ambientais que a sua atividade causa ao equilíbrio ecológico planetário.
A “pegada ecológica” da chamada “civilização” moderna é muito mais deletéria à própria expectativa de sobrevivência futura da humanidade do que as pegadas efetivamente ecológicas que os indígenas deixaram como legado de sua passagem pelo planeta.
Como ainda é limitado o conhecimento da “civilização” atual sobre os sacrifícios que ocorreram durante a existência da civilização maia, não podemos sequer considerar que foram expressivos, diante da abundância de todos os genocídios que suposta “civilização” moderna tem sido autora nos últimos séculos, inclusive atualmente, quando ainda vemos diversos países supostamente “civilizados” e “modernos” agredindo-se mutuamente de forma extremamente violenta.
Não podemos nos iludir achando que a sociedade moderna é suficientemente racional e civilizada, em comparação com as sociedades indígenas, porque muito mais maus exemplos de incivilidade temos na nossa sociedade atual do que nas indígenas.
A humanidade ainda tem um caminho longo a percorrer antes de se considerar “civilizada”, porque são muitos os exemplos de selvageria e de irracionalidade que vamos deixar de legado histórico para as futuras civilizações que aqui encontrarem os restos da sociedade atual, que a cada dia se esforça cada vez mais para demonstrar como permanece selvagem, covarde, incivilizada, suicida e sado-masoquista.
A civilização de hoje, em muitos lugares, aprendeu que sacrificar crianças para honrar deuses imaginários não é uma condição que deva ser aplaudida, muito menos se deve dizer que isso se chama um ato de “civilização consciente”. Os maias sacrificavam crianças e inimigos na visão ótica de que isso traria benefícios provocados por deuses, ávidos de sangue humano, o eterno exemplo da ignorância sendo a causa da morte de pessoas inocentes.
Cada povo teve sua consciência, a da época, a nossa atual, em muitos lugares, é muito mais ética, moral, consciente do que qualquer civilização do passado.
Onde ainda existem vestígios do passado muito forte culturalmente, como nos países islâmicos, hinduístas, etc.. se vê claramente o atraso de consciência com a segregação de grupos culturais diferentes ou de minorias, castas injustas, e principalmente o maltrato milenar nas mulheres. E isso geralmente por causa de religiões arcaicas milenares, machistas, retrógradas, injustas, imorais, e, antes de tudo, ignorantes.
Onde há conhecimento real das coisas, há mais consciência.