Chimpanzés, bons de fisionomia
21/09/12 08:01NA CERIMÔNIA DE ENTREGA do prêmio Ig Nobel, ontem à noite, o primatólogo Frans de Waal foi laureado com o prêmio na categoria “anatomia”. Ele havia descoberto, em 2008, que chimpanzés são capazes de reconhecer uns aos outros por meio de fotografias dos seus traseiros.
Apesar de o Ig Nobel ser uma mera sátira do Nobel, fiquei feliz pela premiação desse estudo. Conheci pessoalmente os macacos usados no experimento, e De Waal ganhou o prêmio pelo estudo ser esdrúxulo e engraçado, não por ser uma peça científica de má qualidade.
Na verdade, o trabalho revelou qualidades cognitivas importantes sobre os primos mais próximos dos humanos, dando pista de como evoluímos nossa capacidade de reconhecer fisionomias.
“Nunca tentaram fazer um experimento similar com humanos”, disse De Waal ao receber o prêmio, fazendo piada com o próprio trabalho. “É meio difícil, porque seria preciso fazer isso apenas com bundas peladas. Nunca saberemos ao certo, mas acho que o estudo é um sinal da superioridade mental dos macacos.”
Quando visitei a colônia de chimpanzés de De Waal, no Centro Nacional Yerkes de Pesquisa em Primatas, na periferia de Atlanta (EUA), a primatóloga Victoria Horner me deixou observar um dos dois grupos desses macacos que a instituição mantém em grandes cercados.
O bando que havia sido usado na pesquisa era liderado por Socrates (“Socko”, para os íntimos), um macho de 25 anos que ficou me encarando de longe quando me aproximei da grade do cercado. Tera, de 15 anos (a mais jovem do grupo), chegou mais perto e tentou cuspir água em mim.
“Chimpanzés são xenófobos”, me explicou Horner. “Eles não gostam de estranhos e costumam agir de um jeito engraçado, sobretudo com cavalheiros de barba.”
Era tudo o que eles precisavam para conquistar minha simpatia.
Horner me contou que todos os onze indivíduos do grupo costumam disputar lugar nos experimentos, que nem sempre acomodavam mais de dois ou três. Eles simplesmente adoram as atividades de ciência, independentemente da recompensa.
No estudo sobre o reconhecimento de traseiros, por exemplo, só seis animais foram necessários. Socko em geral não participa, pois não tem muita afinidade com as telas de computador e aparelhos eletrônicos usados nos experimentos. (O trabalho premiado pelo Ig Nobel usou apenas fotos mostradas num computador, mas Yerkes acabou de receber um monitor “touchscreen” para os macacos poderem interagir com as imagens.)
Mesmo quando não querem usar Socko nas pesquisas, porém, os biólogos precisam inventar um experimento “de mentira” para ele participar. Do contrário, não dá sossego aos pesquisadores e não deixa os outros macacos entrarem na sala de atividades. Após Socko cansar da brincadeira, Horner precisa abrir a porta de entrada do local com cuidado, para evitar que todos os outros macacos entrem querendo participar.
Quem acha incrível os chimpanzés se identificarem pelos traseiros precisa ver a familiaridade que a bióloga tem em reconhecer os animais. A porta da sala de atividades corre de baixo para cima, e quando está entreaberta deixa só uma fresta junto ao chão. É tudo o que ela precisa na hora de decidir qual chimpanzé ela empurra para fora e qual puxa para dentro. “Eu reconheço todos eles pelos pés”, diz.
Rafael, uma dica de assunto para um post seu, penso que é um assunto interessante…
“Researchers track evolution through snapshots of 40,000 generations”
http://arstechnica.com/science/2012/09/researchers-track-evolution-through-snapshots-of-40000-generations/
“Sobre consciência em animais”
http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2012/296/sobre-consciencia-em-animais
o texto fala de chimpanzé e de macacos como se fosse um só, principalmente nos últimos 2 parágrafos.