À procura de Neil Armstrong
27/08/12 03:52ONTEM FUI AO MUSEU do Ar e do Espaço, da Instituição Smithsonian, onde está exposto o módulo de comando da missão Apolo-11. Queria observar o movimento dos admiradores de Neil Armstrong, que deveriam estar indo ao local para prestar homenagens ao astronauta, morto no sábado.
Fiquei surpreso com a ausência de qualquer manifestação por parte do público que visitava o museu em Washington. Nenhuma flor, nenhuma vela, nenhuma mensagem, nada foi colocado diante da famosa espaçonave que Armstrong e seus companheiros usaram para voltar à Terra.
O museu estava um pouco mais cheio que o normal, é verdade, mas um dos monitores me explicou: “Quando o verão vai acabando, começa a aparecer mais gente”. Perguntei se a Smithsonian tinha proibido a entrada de flores e velas, achando que ausência de homenagens era por isso. “Não. Não estamos proibindo, mas também não estamos incentivando.”
Fiquei um pouco chocado com a apatia geral. Acho que é porque eu estou ficando velho. Quando Steve Jobs morreu, o que estranhei foi o exagero das homenagens, com gente acendendo vela, rezando e fazendo vigília nas lojas da Apple. Vá lá. Cada um que louve seu ídolo.
Na falta de uma comoção coletiva para presenciar, resolvi dar uma volta pelo museu para rever as relíquias relacionadas da Apollo-11 expostas lá.
Além do módulo de comando original, a parte da espaçonave que transportou Neil Armstrong Buzz Aldrin e Michael Collins de volta à Terra, a Nasa cedeu ao Smithsonian uma réplica em escala real do Eagle, o módulo de pouso da aeronave.
Cópias “empalhadas” das roupas de Armstrong e Aldrin dão um ar meio anacrônico à exposição, mas é legal vê-las junto à nave para ter uma idéia de escala. Tudo parece muito pequeno e desconfortável.
No andar superior do museu, é possível um dos exaustores do foguete Saturno-5, que levava as Apolo ao espaço. (O original tinha cinco iguais ao que aparece inteiro na foto.) É incrível ver o tamanho do trambolho necessário para colocar em órbita uma nave tão pequena.
Uma outra pequena relíquia guardada pelo museu é a porta da escotilha do módulo de comando. A parte interna possui tabelas com procedimentos de operação listados para os astronautas.
O módulo de comando, em si, foi colocado dentro de uma redoma de acrílico. Quem se aproxima consegue ver dentro dele os assentos, o painel de comando e outros dispositivos.
*
Depois de dar uma volta, comecei a achar que fazia sentido a morte de Armstrong ter provocado menos comoção que a de Jobs. O fabricante de computadores, afinal, teve impacto muito mais direto sobre a vida das pessoas que o astronauta. Admirar a façanha de Armstrong, afinal, é algo que requer mais imaginação. É difícil ter uma sensação clara de quão longe a Lua está da Terra, como é difícil se locomover em órbita, quão arriscado era testar toda aquela tecnologia nova… Enfim, para dizer uma coisa bem pessimista e piegas, acho que o mundo está perdendo a admiração por sonhadores, gente que faz coisa impensável.
Para não dizer que fui ao museu à toa, por fim, saí de lá com uma aquisição. Comprei por US$ 7,99 um exemplar da biografia de Armstrong, “First Man”, do historiador James R. Hansen. A loja de souvenirs da Smithsonian expôs os livros à frente da porta, aproveitando a ocasião para liquidar o restante de seu estoque.
Talvez uma frase contextualizada nos ajude a entender melhor a complexidade da perda:
“… a sociedade em geral perdeu um PEQUENO astronauta; mas essa foi uma GIGANTESCA perda para universo da ciência…”.
Um abraço Rafael.
é, realmente decepcionante, tem q ser sensivel pra admira-lo. “É um pequeno passo para um homem, um grande salto para a Humanidade”
Isso pode ser explicado da seguinte maneira, as pessoas estão totalmente voltadas a suas vidas e pouco importa o coletivo, tinha muito respeito pelo trabalho de Jobs porém o trabalho dele era GERAR CONSUMO, enquanto o trabalho de Neil era explorar, romper fronteiras….criamos mal nossos filhos, são CONSUMIDORES
Talvez a morte de Steve Jobs tenha causado mais comoção por ter acontecido quando (ou pouco depois) ele ainda atuava. Já o feito de Armstrong, foi a mais de 40 anos e não era assunto midiático. Talvez se deva também ao fato de os fãs do Armstrong serem menos dado a estas reações emocionais, do que os consumidores de bugingangas tecnológicas.
sugestão: você poderia voltar lá e colocar uma flor em nome dos admiradores brasileiros 😉
É verdade, Kaf. Me fiz a mesma pergunta. Mas, como jornalista, acho que preferi tentar me manter mais na posição de observador.
Não me admira, Rafael. O mundo está ficando é mais idiota mesmo. O Sr. Steve Jobs, com todo o respeito, não passa ele mesmo de um produto de mídia, reverberado por ele mesmo. É o retrato da sociedade de consumo sem freio que viramos. Se Isaac Newton morresse nesses nossos dias também não haveria flores. Não importa o feito que faça, só se lê e ouve os que estão na berlinda. As pessoas em geral são avessas a tudo que diz respeito à ciência. Neil Armstrong foi um dos heróis da minha infância. Quando adolescente, conhecendo melhor o feito, a minha admiração só aumentou. É uma pena que o mundo se esqueceu dessa façanha desse jeito. Ficamos cada vez mais descartáveis, insossos e apáticos mesmo. Não sei onde isso vai acabar mas não gosto disso. Sem paixão por novos horizontes não iremos muito longe.
Bom, talvez eu tenha pego um pouco pesado com o Jobs. Não acho que ele seja produto da mídia, apenas. Ele é um cara bem importante na história da computação, e certamente não é dele a culpa pela apatia dos jovens americanos em relação ao Neil Armstrong. O que faz muita gente admirar Armstrong, na verdade, é que ele tinha nas mãos a responsabilidade pelo sucesso de um programa que envolvia muito mais gente, na escala das dezenas de milhares de pessoas, e sempre foi humilde para reconhecer o mérito coletivo. O Jobs não é tão inspirador nesse quesito, mas, vá lá. Não é que eu ache que ele não merecesse admiração.
Steve Jobs, por muito tempo, depois que a Apple o “enxotou”, foi uma pessoa apagada na mídia, só recentemente deu a volta por cima, não porque a mídia quis, não porque ele comprou a mídia, mas porque ele fez mudanças de paradigmas importantes no mundo da informação e entretenimento que o elevaram novamente a um alto patamar em conceito na sociedade mundial, num tempo que a consciência valoriza a sociedade da (troca) informação. Ele praticamente mudou duas vezes os rumos da informática, na primeira quando lançou o micro Apple junto com o Wozniak, e agora mais recentemente o tablet, equipamento que vai dominar o mercado de informática em poucos anos, mas não foi só isso.
Leonardo e Rafael, vocês estão errados em quererem comparar Jobs com Armstrong. A ida à Lua lá se vão 43 anos, os jovens de hoje nem eram projeto de vida, muitos inclusive duvidam do feito de tão distante, eu mesmo entusiasmado pelo assunto nem sabia se o Armstrong ainda estava vivo. Reparem, se Armstrong tivesse morrido meros dez anos depois da ida à Lua a repercussão seria de outra dimensão.
São duas pessoas absolutamente diferentes, de tempos muito diferentes, de posicionamento em situações sociais muito diferentes, mas são muito semelhantes no grande significado que tiveram em suas vidas profissionais. E é injusta a comparação, inclusive, para os dois.
Edison,
Repare que eu não quis diminuir a importância daquilo que o Steve Jobs fez, mas ele e o Neil Armstrong têm grandes diferenças de personalidade que, acredito, influenciaram no tamanho da reverência que as pessoas tinham por eles. O fato de a Apollo 11 ter voado em 1969 faz diferença, claro, mas o principal fator, na minha opinião, é que Jobs sempre foi um cara vaidoso, que alimentava o máximo que podia o culto a sua personalidade. Criou um personagem, acabou se tornando a imagem da própria empresa e usou isso como estratégia de marketing. Cada pessoa que tinha um iPod, iPad etc. era lembrada o tempo todo de quem era esse cara. O que ele fazia ia parar na mão das pessoas.
O Armstrong, por outro lado, sempre foi um cara extremamente recluso, rejeitava o tratamento de herói e evitava se expor na mídia. Chegou a dizer em entrevista que “não merecia” crédito pelo que fez. É discutível, mas mesmo que consideremos a façanha do programa Apolo uma realização de engenharia, não é possível desprezar a grandes contribuição que ele e os primeiros pilotos do Apolo deram para o projeto da espaçonave. Ele era um engenheiro e piloto de testes. E ele pilotou o Eagle no braço para pousar na Lua quando o computador da nave falhou. A façanha dele não virou um produto para ser comprado. Para usar uma frase piegas, de novo, o que o Armstrong construiu foi a memória de uma emoção que todos na época guardaram para o resto de suas vidas. A corrida à Lua ocorreu por causa da guerra fria, mas a façanha dele foi algo maior que essa disputa.
Por fim. Não me entenda mal. Eu acho o Jobs um cara admirável, também. Mas eu acho que o culto à personalidade dele só atingiu a escala que vimos porque ele investiu muito em marketing pessoal, coisa que o Armstrong nunca fez.
Discordo em parte do que você disse.
Jobs era com certeza um “papa-espaço” na Apple fazendo convergir para si toda a responsabilidade das inovações e projetos estéticos que os produtos da Apple têm, quando na verdade outras pessoas contribuiram de forma importante para várias das situações. Mas isso não significa que a importância dele era menor, a aura toda era, sim, cabível a ele, ele era o principal responsável pelo padrão Apple e da visão de negócio que tinha, sempre foi assim, desde o primeiro Apple, e isso tem muitos méritos e foram devidamente reconhecidos, não porque ele aparecia mais do que devia.
E são esses méritos reais e a real contribuição dele em propiciar o que se tem de tecnologia hoje, que todo mundo copia, até a Samsung, que deixou a “inimiga” Microsoft no chinelo, que fez a Apple (sim, ELE fez) valer hoje mais do que todas as grandes juntas. As pessoas dão valor ao que ele fez porque veem muita utilidade, porque tem grande respeito pela absoluta volta por cima de uma pessoa que chegou a se ajoelhar certa feita para pedir uns trocados para o Gates, o eterno “inimigo” dele, que copiava as ideias do Jobs, fazendo pior, mas ficava com a fama, isso por anos, inclusive foi no tempo que o Jobs faliu, mas ele deu a volta por cima. Essa volta por cima também foi muito valorizada pelas pessoas, tem muito peso a volta por cima no imaginário dos norte-americanos e em qualquer lugar do mundo. Ele era uma pessoa muito complicada, com uma personalidade difícil de tratar, mas lembremos, foi filho adotivo de pais que não o quiseram, fato que mexeu profundamente na personalidade dele, e mesmo assim fez o que fez.
Veja bem, mesmo sabendo de que ele era complicado, ele era dificil, ele era um competidor que atropelava, vivendo num país onde a maioria é moralista, ainda assim o referenciaram como devia, pelo que ele fez, pela volta por cima, pelo buraco que passou, pelo exemplo de uma pessoa muito doente e à beira da morte e mesmo assim na ativa, uma pessoa que ganhava de salário um dólar por ano, abnegada, isso tem muito valor no imaginário de qualquer lugar do mundo.
Mais uma vez… fizeram, sim, uma justa homenagem ao Jobs, o que não fizeram foi uma justa homenagem ao Armstrong, mas o Jobs não tem culpa disso.
E com essa visão estou lhe provando que a comparação não tem nada a ver, não é porque o Armstrong não foi devidamente homenageado é que o Jobs merecia menos, ou que deveria ter sido menos homenageado que o Armstrong.
E por que não homenagearam tanto Arsmtrong? Exatamente pelo tempo dos eventos, pelo fato dele se manter “recolhido”, por ele se negar a se fazer de heroi, mas mais uma vez, Jobs não tem culpa disso, Jobs viveu no mundo diferente, dos negócios, ele tem de aparecer, ele gostava de aparecer, claro, mas mesmo que não quisesse ele teria de aparecer de qualquer jeito, é o negócio dele.
São duas situações diferentes, cada um deveria ter recebido uma grande homenagem, com o Jobs fizeram justiça, com o Armstrong não, mas o Jobs não tem nada a ver com isso e não pode ter a homenagem que fizeram a ele diminuída só porque as mesmas pessoas não deram tanto valor ao Armstrong, entendeu?
Vendo a foto de uma pessoa ao lado do modulo de comando, fica a sensação de que as viagens apolos eram feitas por fusquinhas em orbita, que mal dava para se movimentar… Não é necessário ter imaginação para sentir a distancia Terra Lua, é necessário ter bom senso em calcular 380.000 km ou seja 190 vezes a distancia de São Paulo a Salvador…