HOJE À NOITE, me despeço do JPL, o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, em Pasadena, na Califórnia, onde acompanhei o pouso do jipe-robô Curiosity e a transmissão de suas primeiras fotografias.
Foi a coisa mais próxima de uma final de copa do mundo que eu já vivenciei como repórter de ciência. Cientistas e engenheiros pulando, se abraçando, chorando e fazendo discursos emocionados não é uma coisa que se vê todo dia na minha área de especialização no jornalismo.
Os cinco dias que passei aqui podem ser resumidos em cinco imagens, que marcaram os momentos mais emocionantes para quem estava aqui acompanhando os cientistas:
Modelo em escala real
A primeira coisa que vi quando entrei no campus do laboratório foi esse modelo em escala real do Curiosity. Os outros jipes-robô da Nasa, colocados atrás, pareciam brinquedos. Quem se aproxima da réplica consegue ter uma idéia bem clara de como deve ser difícil levar algo desse tamanho até Marte (Foto: Rafael Garcia/Folha Imagem)
Darkroom, a sala de controle
Antes do horário programado para o pouso do jipe, tive acesso à famosa Darkroom, a sala de controles do JPL, onde o laboratório monitora as suas 24 sondas e artefatos espaciais que ainda emitem sinais. Os dados imagens que aparecem nas telas são um registro vivo da presença humana no espaço (Foto: Rafael Garcia/Folha Imagem)
A festa após o pouso
No momento de pouso do Curiosity em Marte, os jornalistas não tiveram acesso à sala de controle, mostrada no post abaixo. Tudo foi transmitido em video para o museu do laboratório, que havia sido transformado numa redação. O primeiro contato com os cientistas foi num auditório. Richard Cook e Adam Steltzner estavam tão empolgados que o cientista-chefe da missão John Grotzinger, demorou a conseguir falar (Foto: Damian Dovarganes/Associated Press)
O para-quedas se abrindo
Na manhã seguinte, Ramon de Paula, brasileiro que trabalha na sonda MRO (Mars Reconaissance Orbiter), me mostrou uma foto do para-quedas do Curiosity se abrindo, antes de a Nasa divulga-la oficialmente. É uma das duas únicas fotos do procedimento de pouso. A outra, transmitida depois, mostra o escudo de proteção térmica do módulo de pouso se desprendendo e sendo descartado (Foto: JPL/Nasa/MRO)
A montanha branca
As primeiras imagens do jipe no solo, tirada por suas câmeras de risco (uma atrás, outra na frente) mostraram que ele tinha pousado em segurança, mas ainda não exibiam muita paisagem, pois tinham sido tiradas ainda antes de um vidro de proteção ser removido. No dia seguinte veio uma foto mostrando a sombra do jipe em primeiro plano e, ao fundo, o monte Sharp (ou Aeolis Mons), a montanha que o jipe vai estudar (Foto:JPL/Nasa/Caltech/MSL)
A ansiedade para que mais imagens cheguem é grande. Nilto Renno, engenheiro brasileiro da Universidade de Michigan que participou da missão, diz que até sua filha está fazendo pressão. (“Papai, por que gastaram todo esse dinheiro para ir até Marte e fazer essas imagens sem cor?”) Com todo o equipamento sofisticado do jipe, fotos muito mais incríveis de Marte começarão a chegar nas próximas semanas, claro, mas para quem estava aqui no JPL nesses dias são essas imagens que vão marcar a emoção do pouso do Curiosity.
About Rafael Garcia
Rafael Garcia, 37, é colaborador da Folha em Washington (EUA). Formado em jornalismo pela USP (Universidade de São Paulo), foi bolsista do programa Knight de jornalismo científico no MIT (Massachusetts Institute of Technology) e editor-assistente na redação brasileira da revista “Scientific American”.
Simplesmente fantástico. É o empreendimento humano mais legal, mais inspirador e mais importante acontecendo fora da Terra nesse momento. Queria MUITO ter estado aí, mas vibrei intensamente assistindo ao feed da NASA TV. É o tipo de coisa que te emociona e te faz querer pensar grande. Parabéns pela cobertura, Rafa!