Rumo a Marte, com emoção
05/08/12 05:01SE O JIPE-ROBÔ CURIOSITY pousar com sucesso em Marte às 2h31 na madrugada segunda-feira, a imagem mais emocionante do pouso será provavelmente tirada dentro da sala acima. Como o jipe ainda não será capaz de mandar uma fotografia do território ao seu entorno logo que pousar, a imagem mais marcante no primeiro minuto será a da comemoração no centro de controle da missão, no JPL (o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa), em Pasadena, na Califórnia.
Os cientistas e engenheiros que aparecem acima quietos, estarão provavelmente em pé, gritando como torcedores numa final de campeonato. Mas no momento de pouso do Curiosity, não haverá nenhuma imagem para mostrar se o jipe estará bem. Tudo o que os cientistas esperam ver é uma linha de código nas telas de seus computadores, confirmando o pouso. “É mais ou menos uma mensagem de texto tipo SMS”, disse ontem Arthur Amador, gerente da missão, aos jornalistas que estão aqui no JPL. “É uma mensagem muito curta com um pouquinho de informação sobre a posição do jipe e outras coisas.”
Visitei ontem o centro de controle e conversei com alguns dos técnicos que esperam essa simples linha de comando para sentirem um pouco de alívio. Todos se dizem otimistas, claro, mas os sorrisos ainda carregam um bocado de ansiedade.
Não é por pouco. Apesar de a MSL ser uma missão que conta com muitos recursos e sistemas de monitoramento para evitar erros, é a primeira vez que cientistas tentam pousar no planeta vermelho um jipe de 3,8 toneladas e três metros de comprimento _um pouco maior do que um Smart, o minicarro Mercedes-Benz.
É uma mudança de escala um tanto quanto brusca, quando se pensa que o Spirit e o Opportunity, os jipes-robô que pousaram em marte em 2003, tinham um quito do peso.
O Curiosity é grande porque tem dez instrumentos científicos diferentes para investigar muitas questões sobre as condições de habitabilidade de Marte. Há muitos sinais de que o planeta pode ter sido capaz de abrigar vida no passado, e isso pode ajudar um bocado os estudos sobre o surgimento da vida na Terra.
No centro de controle da MSL, o diretor de voo da missão, David Oh, me explicou por que os engenheiros estão tão apreensivos, mesmo tendo feito de tudo evitar que qualquer contingência prejudique a missão.
“Nós não pudemos testar toda a sequência de entrada da nave na atmosfera marciana, nem o pouso, porque a gravidade em Marte é mais fraca que a daqui, e o ar é mais rarefeito”, explica o cientista. “Se tentássemos voar a espaçonave na Terra ela iria se arrebentar, então tivemos de recorrer a simulações computacionais, testes em aviões, atividades em terra e testes das peças feitos separadamente. Na verdade, o primeiro teste completo do sistema de pouso é mesmo em Marte.”
Pouca gente aqui parece estar à vontade para falar em hipóteses pessimistas. E se alguma coisa der errado? O diretor do Programa de Exploração de Marte no Quartel General da Nasa, porém, lembrou ontem a jornalistas que a história das viagens ao planeta vermelho é um tanto complicada. Das 39 espaçonaves já enviadas ao planeta vermelho, apenas 15 atingiram seus objetivos.
“Se não obtivermos sucesso agora, porém, vamos aprender com isso”, diz o engenheiro. “Aprendemos com erros no passado, e nos recuperamos deles. Vamos nos reerguer, bater a poeira, analisar o que aconteceu e vamos tentar de novo. Esse não vai ser o fim.”
Talvez não seja mesmo o fim, mas o fracasso de uma missão de US$ 2,5 bilhões pode ser um golpe significativo nas ambições dos cientistas planetários. O novo orçamento proposto pelo presidente Barack Obama prevê que a fatia de verba da Nasa para exploração de Marte deve cair de US$ 587 milhões em 2012 para US$ 360$ milhões em 2013. Ainda é cedo para saber se um fracasso do MSL seria um incentivo para aumentar ou diminuir esse investimento. Sem previsão de verba, ninguém sabe quanto tempo uma nova versão do MSL levaria para ser feita.
Até 2h31 da madrugada desta segunda-feira, tudo o que resta fazer é torcer para tudo dar certo. Com o futuro da exploração interplanetária em jogo, um técnico que trabalhou no sistema de pouso do Curiosity, Steve Sell, resumiu numa frase como sua equipe está se sentindo a menos de um dia da hora do pouso: “Às vezes eu tenho que me lembrar de respirar.”