Aids: o fim da epidemia em 2025
26/07/12 21:44QUANDO GOTTFRIED HIRNSCHALL, diretor do departamento de HIV da OMS (Organização Mundial da Saúde), declarou na semana passada que os medicamentos antirretrovirais podem por fim à epidemia de Aids mesmo sem a ajuda de uma vacina, sua intenção era clara.
A ideia era incendiar as discussões sobre como a expandir a terapia antirretroviral nos países em desenvolvimento até que a incidência de infecção pelo vírus seja zerada. Na conferência anual da Sociedade Internacional de Aids, que reúne 25 mil pessoas para discutir o tema nesta semana em Washington, o tema é onipresente. Perdi a conta de quantas vezes ouvi palestrantes falarem sobre a perspectiva de o mundo ter, em algum momento, “a primeira geração livre de HIV”.
Quando se trata de perguntar às autoridades no assunto quando isso vai ocorrer, porém, quase todos torcem o nariz. Respostas comuns são “é dificil dizer”, “precisamos de mais tempo para fazer uma estimativa” e “não tenho bola de cristal”.
A reação é compreensível, já que muitas previsões furadas sobre o fim da Aids já foram feitas no passado. A mais famosa talvez seja aquela em que o secretário da saúde dos EUA disse em 1984 que uma vacina eficaz ficaria pronta em cinco anos para ser distribuída e acabar com a Aids.
Muitas outras previsões mais alongadas foram feitas desde então (30, 50, 70 anos…), mas poucas recebem a chancela da OMS e de médicos que estão efetivamente trabalhando no planejamento do combate à epidemia em escala global.
Foi por essa razão que me surpreendi ao conversar ontem com o infectologista Luiz Loures _diretor do escritório executivo do Unaids, o programa da ONU (Organização da Nações Unidas) para combate ao HIV. Como sempre faço quando falo com alguma autoridade no assunto, perguntei quando a epidemia iria acabar, mesmo não tendo esperança de receber resposta.
“2025 pode ser o ano”, disse Loures, depois de mirar os olhos para cima e fazer alguns cálculos mentais. Diante da minha surpresa em receber a resposta, o infectologista logo explicou como chegou a sua estimativa.
“Estou projetando isso a partir da minha visão pessoal e profissional, e levando em conta o tempo que foi preciso para expandir o tratamento nos últimos dez anos no mundo em desenvolvimento, sobretudo na África”, disse. “Já há 8 milhões pessoas em tratamento [nos países em desenvolvimento]. Esperamos chegar a 2015 com 15 milhões, o que ainda não significaria cobrir toda a necessidade. Para podermos ter impacto de prevenção de larga escala, talvez deveríamos estar tratando de 22 milhões até uns 25 milhões de pessoas.”
Segundo Loures, um cenário possível para essa expansão seria o de dez anos. Alguns anos a mais seriam necessários para que a carga viral das últimas pessoas em tratamento começasse a baixar até que elas percam a capacidade de transmitir o vírus. Faça-se a conta e, voilá, o número de 2025 aparece como uma data razoavelmente realista.
A data não consta ainda do relatório que a Unaids divulgou nesta semana, mas é animador ver uma previsão assim sair das palavras de alguém na posição ocupada por Loures. O médico, um dos arquitetos do programa de distribuição de medicamentos antirretrovirais no Brasil, é hoje supervisor do plano estratégico da Unaids, trabalhando diretamente com diretor-executivo, o malinês Michel Sidibé.
Otimismo à parte, porém, Loures condicionou sua previsão informal a dois fatores. Um deles é que o aumento no financiamento internacional para combate ao HIV saia da estagnação e volte a crescer. O outro é que uma distribuição mais igualitária do acesso ao tratamento consiga incluir grupos hoje ainda marginalizados em muitos países _homossexuais, usuários de droga injetável e profissionais do sexo.
Não é um desafio trivial, mas ainda assim a previsão de 2025 parece mais realista que as anteriores.
Vinte anos atrás, a história que se contava sobre o fim da epidemia ainda era aquela em que uma vacina revolucionária seria produzida alguma hora e tomaria o mundo em seguida. A promessa demorou tanto a se cumprir que a terapia antirretroviral roubou os holofotes da vacina.
Durante toda a década de 1990, o Banco Mundial se colocou contra uma estratégia de investimento para distribuição dos antirretrovirais em países em desenvolvimento. Era muito caro, dizia a organização, e a concentração de esforços em medidas para evitar novas infecções seria uma estratégia com custo-benefício melhor.
Hoje a visão já é outra, e o Banco Mundial reconhece que a terapia antirretroviral ajudou muito a prevenir infecções. Isso foi uma consequência natural da redução da carga viral nos soropositivos. E a expansão da terapia é hoje uma obrigação moral e humanitária, pois mesmo que a epidemia acabe, será preciso continuar tratando aqueles que ainda carregam o HIV.
A busca de uma vacina eficiente não pode ser abandonada, claro, porque em qualquer momento que esta surja, terá um impacto inegável na redução da epidemia. Prever quando ela poderá surgir, porém, continua sendo um exercício difícil, porque descobertas em ciência médica sempre ocorrem num ritmo um tanto caótico.
Uma agenda para redução da transmisão do HIV com base nos medicamentos antirretrovirais e ferramentas de prevenção, por outro lado, é uma coisa bem mais realista. Se existir vontade política para tal, estabelecer 2025 como meta para o fim da epidemia talvez seja uma questão de transformar um chute em uma profecia auto-realizável.
Voilà Rafael, que os mitos, ora econômicos, ora políticos e outrora ingênuos, existentes sobre os reais avanços nos estudos e no desenvolvimento das pesquisas médicas e farmacêuticas com o vírus HIV, possa de uma vez por todas deixar de ser mitos, para tornar-se uma realidade visível e palpável a todos.
Sejam eles “desenvolvidos” ou em “desenvolvimento”.
Grande abraço.
Adorei seu Texto. Gostaria que todas as pessoas pudessem dar suas ideias de como poderia a ciencia combater este virus. Ha no mundo varios cientistas que nao sao famosos, ou nao estejam envolvidos na pesquiza – e a eles chamamos para que ajudem.
Nao entendo do assunto, mas acho que se pegassemos o antibody criado pelo organismo para combater o virus, e fazer um estudo da transformacao em ambos, o virus e a defensa. Usando pessoas com a doenca em baixo grau e alto grau de infeccao, ou seja – full blown AIDS. O corpo humano poderia direcionar para uma vacina com um antigeno forte, e capaz de eliminar de uma vez por todas este invasor.
O vírus do HIV desafiou toda a ciências biológicas e médicas dos anos 80 e 90, exigindo um esforço sem precedentes na ciência contemporânea do ponto de vista econômico e mobilização de pesquisadores em todo mundo para compreender e produzir soluções para o terrível mal do século 20. Não devemos no entanto esquecer, que uma das maiores consequências produzidas por esta síndrome (mortes, sofrimentos) foi e ainda é, o preconceito que os portadores continuam ter representados pela exclusão, pela maioria das pessoas. Além disso tivemos que construir uma nova moralidade no comportamento sexual traduzido pela prevenção, monogamia, abstinência sexual, uso maciço de métodos de prevenção alguns proibidos pela Igreja, enfim essa síndrome mudou a nossa maneira de ser. Como será se isso vier ocorrer, o fim da epidemia, a nossa moral sexual?