Psicólogos, psiquiatras e o déficit de atenção
18/07/12 13:46JÁ ERA PREVISÍVEL que chegaria com mais força ao Brasil, cedo ou tarde, a controvérsia sobre o Transtorno do Déficit de Atenção por Hiperatividade, o TDAH. Nos EUA e na Europa, há evidências de que esse problema psiquiátrico vem sendo diagnosticado em um número excessivo de estudantes (9%), e existe uma preocupação com as consequências da prescrição do metilfenidato (a ritalina) para tratar o transtorno em crianças que na verdade são saudáveis.
No Brasil, agora, um manifesto encabeçado pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia) também questiona a existência de uma epidemia de TDAH (8,6% de prevalência) no país. A campanha —assunto de reportagem recente de Mariana Versolato— desencadeou uma reação por parte da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), que reuniu outras entidades médicas para elaborar uma carta-resposta rejeitando todas as críticas.
Não é a primeira vez que psiquiatras e psicólogos entram em conflito no país, e muito disso tem origem nos interesses de classe dessas duas categorias. No Brasil, porém, o movimento dos psicólogos parece ir passo além daquilo que se vê aqui nos EUA. Muitos psicólogos brasileiros defendem que o TDAH não só é uma falsa epidemia, mas também que a neurociência não é capaz de explicar o transtorno. O transtorno afetando crianças inquietas que não conseguem se concentrar e adquirem problemas cognitivos como consequência não passaria de uma doença inventada.
Do outro lado, o grupo liderado pela ABP argumenta que a prevalência de déficit de atenção no país é legítima, baseada em critérios bem definidos, e que testes clínicos mostram a eficácia e a segurança da ritalina no tratamento.
No meio da discussão, sobram acusações dos psicólogos contra o DSM, o manual de estatísticas e diagnósticos da psiquiatria (sobre o qual falei aqui). São o DSM e a CID (Classificação Internacional de Doenças, da OMS) que padronizam o diagnóstico de TDAH aplicado em todo o mundo, por isso a culpa acabou recaindo sobre os dois (neste caso, um é bastante similar ao outro).
Os psicólogos parecem ter uma parcela de razão em sua crítica de que os mecanismos biológicos por trás do transtorno ainda são em grande parte um mistério. O próprio DSM não arrisca dizer muito sobre a patogênese do TDAH. Mas as dúvidas sobre a neurobiologia do problema não implicam que o transtorno seja uma doença necessariamente “inventada”.
Essa linha de crítica, se for aceita, invalidaria quase todos os outros problemas listados pelo DSM, incluindo a depressão, a esquizofrenia o autismo e outros. Em nenhum deles, o conhecimento de neurobiologia evoluiu ao ponto de validar um diagnóstico. O diagnóstico é feito com base nos sintomas, apenas, diferentemente de doenças do rim, fígado ou coração. Seja ou não qualificado como doença, porém, pouca gente duvida que crianças com sintomas de TDAH possam estar sofrendo e precisam de alguma ajuda.
O difícil, claro, é delimitar uma fronteira entre o que é um transtorno médico e aquilo que são sintomas triviais de agitação e desatenção. Nem toda criança encapetada é portadora de TDAH. E é inevitável que haja uma certa arbitrariedade em se riscar uma fronteita. Mesmo com todas as suas imperfeições, porém, ao fazer isso o DSM se tornou uma ferramenta útil para orientar ações de tratamento. Sem adotar uma padronização como a do manual, aliás, seria quase impossível fazer pesquisa.
Na definição dos critérios, existe uma preocupação em se manter essa atividade isolada da influência da indústria farmacêutica, que poderia se beneficiar de uma epidemia de TDAH inflacionada. A atual proposta de revisão do DSM, da quarta para a quinta edição, porém, propõe um relaxamento dos requisitos para emitir diagnósticos do transtorno, e há evidência sugerindo que o lobby dos grandes laboratórios teve um papel aí.
Dito isso tudo, é preciso reconhecer que o TDAH não é um conceito vazio. Uma evidência disso é justamente que a ritalina costuma ajudar a controlar os sintomas, mesmo sendo uma droga com alguns problemas. O metilfenidato é um psicotrópico com efeitos colaterais como insônia, perda de apetite e irritabilidade. É um estimulante com algum potencial para dependência e causa um certo aumento de pressão arterial e batimento cardíaco. Há motivos suficientes para não se ingerir uma droga como essa à toa, mas isso não quer dizer que a ritalina seja ineficaz contra os problemas que ela busca atacar. A administração de qualquer medicamento precisa levar em conta o peso dos benefícios contra o dos riscos.
Uma das revisões independentes mais recentes sobre testes da ritalina —publicada em uma revista de psicologia clínica— reconhece que a droga é eficaz, mas ressalta também a importância da psicoterapia. Alguns estudos novos mostram evidências favoráveis do funcionamento também em adultos com TDAH, apesar de ainda haver uma dúvida legítima sobre a capacidade da ritalina de funcionar a longo prazo (um ano ou mais).
Testes clínicos, contudo, nem sempre conseguem reproduzir com exatidão as condições que as pessoas enfrentam na vida real. E uma dessas variáveis fora de controle, no caso do déficit de atenção, são os diagnósticos ruins. A alta variabilidade de incidência do TDAH ao redor do mundo parece ser um reflexo disso, e a tendência a se diagnosticar muito mais meninos do que meninas, também.
Antes que os psicólogos comecem a defender que todos os exemplares do DSM sejam queimados na fogueira, porém, cabe lembrar aqui que esse problema surge justamente do desrespeito às regras do manual, e não daquilo que está escrito nele. Um novo estudo realizado na Alemanha mostrou que psiquiatras adoram fazer diagnósticos baseados em estereótipos, em vez de seguirem objetivamente o que o DSM e a CID recomendam.
Os alemães já sabem disso porque se deram o benefício da dúvida e fizeram uma pesquisa. Não é válido questionar se o mesmo problema existe no Brasil? Nos EUA, a pessoa que está liderando o movimento contra o relaxamento dos critérios de diagnóstico é Allen Frances, o psiquiatra que coordenou a atual edição do DSM. Em um artigo de opinião recente, ele conta como a indústria farmacêutica atuou para “turbinar” a epidemia de TDAH nos EUA. Será que o Brasil está imune a essa influência?
Tentando observar essa briga do lado de fora, me parece estranho que as entidades de classe estejam sequestrando essa discussão das universidades no Brasil. O CFP e a ABP estão fazendo o papel delas, defendendo os interesses dos profissionais que elas representam, mas cartas e manifestos não substituem os dados das pesquisas. Por algum motivo, opiniões acadêmicas mais equilibradas e independentes não estão se disseminando.
A imprensa talvez tenha uma parcela de culpa aí, mas não toda, já que ainda há muitas perguntas sem respostas sobre o TDAH, e muitas respostas não são consensuais. Se psicólogos e psiquiatras conseguissem se relacionar institucionalmente, porém, talvez a interdisciplinaridade necessária para avançar no assunto possa ter algum incentivo.
Meu TDAH nao permitiu ler a reportagem ate o final kkk
kkkkkkkkkkk aconteceu a mesma coisa kkkkk
Hahahaha ri muito.
Mas a ritalina me fez ler até o fim ;D
Sou professor e vejo o efeito desse problema por um ângulo diferente dos profissionais de saúde. Vejo alunos com problemas afetivos, com déficit de atenção da parte dos seus pais, que não têm sequer três minutos por dia exclusivo para seus filhos, transferindo a responsabilidade para um laudo médico e privando os mesmos de aprenderem a lidar com as frustrações que os acompanharão por toda a sua vida, sejam eles considerados portadores de um déficit ou pessoas perfeitamente normais. Muitas das crianças, não generalizando, por falta de disposição daqueles que são por elas responsáveis, de ajudá-los em seus problemas que até pouco tempo poderiam ser considerados necessários para o desenvolvimento e a maturidade de qualquer ser humano.
Concordo plenamente, Silas! Os pais estão adorando ter uma Ritalina para dar achando que vão se livrar do “problema”.
Mas é exatamente por isso que a Psicologia questiona o TDAH, pois existe de fato uma grande preocupação com a dinâmica familiar e postura dos responsáveis sobre as crianças.
Concordo com seus pontos de vista, Caro Colega Professor.
Parabéns por suas pontuais observações.
CONCORDO PLENAMENTE COM VOCÊ, TENHO CASO NA MINHA FAMÍLIA ONDE O PAI E A MÃE EXIGIRAM DO MÉDICO O RECEITUÁRIO PARA COMPRAR RITALINA, O COITADINHO PARECE UM ZUMBI. É MUITO DIFÍCIL PARA ALGUNS PAIS ACEITAREM QUE SEUS FILHOS NÃO SÃO GÊNIOS.
DEFENDENDO A PSIQUIATRIA, EU PEÇO AO LEITOR QU CLIC NESSES LINKS – SOU TDAH E PERDI MEU TEMPO COM A PSICOLOGIA. ESSA “CIÊNCIA” DUVIDOSA, QUE MAIS PARECE UMA RELIGIÃO.TÃO ABSURDA E ÓBVIA QUE PARA ELES TUDO É UMA QUESTÃO DE FALTA DE CONSUMO, COMPLEXO DE ÉDIPO ETC.SAÍ DEPOIS QUASE 4 ANOS COM A SENSAÇÃO DE IMPOTÊNCIA E MUITA CULPA POR NÃO PODER MUDAR COMPORTAMENTOS CAUSADOS PELO TDAH. OS DANOS QUE UM PORTADOR DESSA DOENÇA SÃO VÁRIOS AO LONGO DA VIDA. DESDE O ISOLAMENTO SOCIAL AO BAIXO DESEMPENHO ESCOLAR. TENHO MAIS DE 40ANOS ,ACESSEM ESSES LINKS E NÃO PERCAM TEMPO COM O BLÁ, BLÁ ,BLÁ DESSA GENTE DUVIDOSA. O CÉREBRO É UM ÓRGÃO COMO OUTRO QUALQUER, PENA QUE NÃO DÁ PRA OPERAR AINDA COMO OUTROS. MAS ESSE ASSUNTO É SÉRIO. E CONSIDEREM QUE OS PSICÓLOGOS TAMBÉM ACHAM QUE BIPOLARIDADE E OUTROS TAMBÉM SÃO INVENÇÕES. SÃO BURROS, IRRESPONSÁVEIS E PRETENCIOSOS – http://www.tdah.org.br/br/textos/textos/item/223-tdah-%C3%A9-uma-doen%C3%A7a-inventada?.html e http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=3902&op=all
Olá Rute! Por favor conte-nos também a sua experiência com a ritalina (se vc faz uso dela), quais os efeitos observados, e quais as melhorias que o medicamento promove em vc… Desde já agradeço!
Amon, eu não sou psicóloga nem psiquiatra. Tenho tive e tenho todos os sintomas possíveis do TDAH e por isso defendo a causa. No começo pensei que era pelo feto de eu ser de uma geração que passou algum tempo vendo TV. É fácil falar da falta de educação dos pais. E da terrível falta de concentração. Você sabe o que é passar mais de 40 anos dormindo 1 a cada 3 dias, independentes de estado de espírito? Só por que a cabeça simplesmente não desliga? Tive psiquiatra e psicólogo ao mesmo tempo, e como era aliviante quando meu psiquiatra descrevia tudo que eu sentia. Participo de um grupo de TDAH Adulto e vejo pessoas com problemas piores que os meus. Gente que toma Ritalina e a chama de SANTA RITA LINA. E já vi pessoas que mudaram completamente. Eu não tive sorte. Por quê? Porque assim como meu coração bate como 11/9 tem gente que tá morrendo agora de infarto. Não sei se os psicólogos pararam pra pensar que o cérebro também é um órgão químico, material. Não estudaram bioquímica, claro. Mas tomei de tudo até achar a Sertralina ( flouxetina e prozac eu posso comer com granola que não faz efeito) A coisa é mais complexa. E por que a Sertralina me fez bem, vou tentar o CONCERTA, o outro metilfenidato. E se não der, vou tentar outro e outro. Minha luta é para que crianças e adolescentes não sofram tanta discriminação como eu sofri e vão parar em psicólogos que os enchem mais de culpa. Eu queria ter a chance de fazer o tratamento nos anos 60. Minha vida seria outra. E se tudo fosse a questão da falta de consumo, como leio em artigos de psicologia, os ricos não teriam problemas. Quem dera se eu pudesse comprar minha cura no Shopping! Quem sabe é quem sofre. Favor leia os textos que deixei linkados. Viva a ciência! Que está aí pra derrubar preconceitos. OBS. A TERRA TAMBÉM JÁ FOI REDONDA, POR ISSO QUE NENHUM PSICÓLOGO TERÁ NEM CINQUENTA CENTAVOS DO MEU BOLSO.
“Precisamos falar sobre Kevin” é um filme ótimo pra deixar a psicologia sem saber o que falar, ou cair no óbvio de culpar os pais.Édipo, Jocasta, Antígona etc
CORRIGINDO.
Eu estou com tanta raiva desses psicólogos que era pra dizer que A TERRA TAMBÉM JÁ FOI QUADRADA
Ruth, não acho que a doença inexista, tanto é que desconfio que sou portadora e meu filho também (com hiperatividade). Só que ela se manifesta em vários graus e as pessoas estão aproveitando a falta de educação e de limites para justificar com TDAH. E dá-lhe remédio.
Creio que a pessoa que mais saiba da doença, é que a possuí, porém desconsiderar a psicologia é um absurdo! Ao procurar o psiquiatra, está tratando apenas os efeitos e não a causa, deixando de aprender a lidar com a sua doença. É como ter um motorista, ao invés de aprender a digirir e andar sozinho, o tratamento psicologico e psiquiatrico sem o apoio do paciente não serve para nada. Provável não procurou a linha certa para lidar com a sua doença, não adianta rezar para um santo, se o milagre que faz é outro!
Rute, imagino que seu TDAH deva lhe causar muito sofrimento. Mas tenho dúvidas se tua Psiquiatria e Ritalina são tão boas assim; pois do jeito que escreves e argumentas só consigo imaginar um TDAH grave beirando fase maníaca. Boa sorte com teus tratamentos, espero que encontre a cura milagrosa.
Tiago, a maneira como eu escrevo não beira nehuma de suas suposições. Falo apenas com muita raiva (porque sei o que é, e sei de pessoas em situações piores) diante de tanta ignorância de uma classe que se recusa a estudar e fica com teorias ultrapassadas, respostas prontas e porque também tive a experiência de fazer terapia (4 anos) com alguém que, como a maioria , não acreditava que TDAH possa causar tantos danos na vida de uma pessoa. Considere também que outras doenças mentais também sejam frutos de políticas socias, culturais! que lindo. Pra ser do corinho deles, acho que TDAH é invenção dos EUA, mais precisamente, do partido Republicano, né?. Queria que as pessoas procurassem ler sobre um assunto sério como esse. Até enfermeiro é obrigado a estudar bioquímica. Mas eu conheço a vaidade intelectual muito de perto mesmo, ela é mais nociva do que se possa imaginar. Portanto, acredito que jamais esses psicólogos vão admitir que estão sendo irresponsáveis, desinformados. Assim como um comunista que não reconhece, mesmo com toda a desgraça que a revolução custou ao mundo, que é uma teoria furada, mera conjectura que ainda corrói a mente dos desinformados. É precido ter muita coragem pra mudar de pensamento. Pra olhar pra si mesmo depois de umna certa idade e dizer ” tudo o que eu pensei foi errado”. É para poucos. Enquanto isso, como a psiquiatria ainda sofre muito preconceito e a indústria farmacêutica é vista como vilã capitalista, essa guerra parece-me que vai pender para “os mocinhos cheios de boas intenções e mais 400 teorias de várias correntes”. E as famílias e os TDAHs que se danem. Esse sim, é o caminho mais fácil.
TIAGO,
sua frase foi perfeita”do jeito que escreves e argumentas só consigo imaginar um TDAH grave beirando fase maníaca”
É EXATAMENTE ESSE TIPO DE COMENTÁRIO QUE UMA CRIANÇA, UM ADOLESCENTE E UM ADULTO VÃO ACUMULANDO AO LONGO DA VIDA, ACUADO EM SUA DOR QUE NÃO SABE BEM O QUE FAZER. ELES OUVEM ISSO INCLUSIVE DE QUEM ELES PAGAM E CONFIAM EM TER ALGUMA MELHORA, COMO UM PSICÓLOGO, POR EXEMPLO. Perfeita sua visão sobre minha pessoa.
POR QUE É QUE O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA ESTÁ CONTRA A BANCADA EVANGÉLICA NA CÂMARA DOS DEPUTADOS NA QUESTÃO DA “CURA GAY”?
Acho um contra-senso, já que os evangélicos consideram que a educação incorreta leva ao desvio da orientação sexual.
Por que um gay cresce numa família hetero, e, em contrapartida, casais homosexuais ou filhos de homosexuais biológicos são heterosexuais? Nessa questão, os psicólogos defendem que é uma agressão achar que é a criação, a má-educação seja responsável.
Mas o TDAH não! Esses são frutos de um má-educação dos pais, uma desculpa para a incapacidade de concluir tarefas que demandem muita concentração e tudo o mais. O TDAH escolhe esse caminho, e pode ser curado na base da conversa. Assim também pensam os religiosos sobre a questão.
Sendo assim, o CFP deveria andar de mãos dadas com os religiosos, já que eles descartam a participação da complexidade da natureza no homem, no caso do TDAH.
Penso que não seja politicamente correto para a categoria. Mas que a visão é a mesma, é.
Rute,
Não acredito que a intenção dos psicólogos ao questionar o conhecimento sobre as bases neurobiológicas do TDAH seja a de fazer a culpa recair sobre os pais das crianças. Acho um exagero dizer que a meta do CFP seja essa, e não vejo essa atitude partindo dos psicólogos que se pronunciaram sobre o assunto. A campanha do CFP, pelo que sabemos, é para evitar a prescrição de drogas como solução do problema. Isso pode ser questionável, mas não é a mesma coisa que culpar a má criação da criança pelo transtorno. Acredito que exista uma visão variada entre psicólogos também, então evito generalizar.
SE VOCÊS NÃO PUBLICAREM A VISÃO DE UMA PESSOA PORTADORA DA DOENÇAÉ PORQUE VOCÊS ESTÃO DO LADO DOS PSICÓLOGOS
Prezado, boa tarde!
É importante enfatizar que o Manifesto foi uma iniciativa da ABP ( Associação Brasileira de Psiquiatria) e da ABDA ( Associação de Pacientes) e de todas as entidades medicas signatárias, com o objetivo de esclarecer a população sobre a realidade do TDAH e seu tratamento , impedindo, desta forma, que haja pânico nos pacientes, suspensão dos tratamentos , o que poderá acarretar inúmeros prejuízos e conseqüências na vida dos portadores de TDAH.
Para entrevistas, informações e esclarecimentos, os médicos , psicólogos e personagem estão disponíveis para falar com a mídia, é só entrar em contato.
Mais informações estão no link abaixo.
http://www.tdah.org.br/br/noticias/reportagens/item/359-manifesto-oficial-de-esclarecimento-%C3%A0-sociedade-sobre-o-tdah-seu-diagn%C3%B3stico-e-tratamento.html
Tenho um filho que é TDAH. Ficou dois anos só na terapia e nada adiantou. Somente depois de avaliação de uma equipe multi-disciplinar (psicólogo e neuro pediatra, com participação da escola) é que se definiu pelo tratamento com remédio. Fui contra no começo, mas o resultado foi prático e notório ao longo de dois anos de tratamento (notas muito melhores na escola, menos agressividade, maior interação social, etc). Atualmente, o tratamento se dá somente pela terapia, sem o remédio. Profissionais competentes e interessados, foi tudo o que precisamos.
Sou TDAH e fiz psicologia. O tratamento deve ser Multidisciplinar – depende tanto da psicologia quanto da psiquiatria. Mas o problema é que no meio dessa guerra toda estamos nós – os portadores do transtorno – que sofremos por não termos tratamento adequado e subdiadgnosticados, muitas vezes tratados com medicação errada. É claro que a indústria vai se aproveitar dessa brecha para vender mais medicamentos. Sim, concordo que deva haver atenção para a comercialização da droga; mas por favor, precisamos de mais pesquisas, seriedade e atenção porque viver TDAH, além de extenuante, é ser incompreendido.
Realmente cada caso deve ser analisado pela equipe multidisciplinar,para que não ocorra confusões em algo tão dificil para a criança,a única que sofre.ACOMPANHAMENTO DOS PAIS É O MAIS FUNDAMENTAL E DA ESCOLA INTERAGINDO
Como psicologo, acredito que o CFP tem razão sobre o abuso destes diagnósticos, pois é sabido que crianças de 3 a 5 anos de idade, principalmente meninos, são hiperativos. Vai depender muito das atitudes dos pais para definir o quanto deste comportamento continuará ou se normalizará naqueles casos normais; porem, estou acreditando que a discussão do CFP com a SBP possa ter a ver com a critica ao Ato Médico.
Marcus,
O Ato Médico tem um pouco a ver com isso, mas é outra história. Pessoalmente acho o projeto de lei lamentável, também. Se o CFM estivesse tão interessado assim em garantir que o público seja atendido só com tratamentos seguros e baseados em evidência clínica, ele não estaria tentando tomar para si o privilégio na aplicação de acupuntura e homeopatia, que são bastante carentes de evidências. E de modo geral acho o equilíbrio de forças do CFP com o CFM uma coisa boa para a saúde mental no Brasil. O Ato Médico é em sua maior parte movido por puro corporativismo.
Agora, eu não acho que o questionamento das bases clínicas sobre o conceito do TDAH seja uma reação adequada contra o Ato Médico. Os psicólogos não gostariam, da mesma forma, se a ABP começasse a tentar determinar aos psicólogos como se deve fazer psicoterapia.
Toda essa discussão em torno do TDAH é uma profunda frustração pra quem sofre do (suposto) transtorno. Cria dúvida, insegurança, desconfiança e aumenta a dor do portador. Eu, como um destes, posso afirmar com autoridade. Que Deus haja em nosso favor, pois, dos profissionais da área relacionada nada podemos esperar. Tanto mais quanto ao restante da sociedade, que é absolutamente ignorante quanto ao assunto.
Fala-se somente em criança com TDAH. E o adulto com esse transtorno? Não existe? Tenho 30 anos e recebi o diagnóstico de TDAH (diagnóstico neurobiológico e não funcional) do meu psiquiatra, com o qual venho fazendo tratamento há cerca de 2 anos com Ritalina e psicoterapia. Antes do tratamento, eu enfrentava dificuldades graves no trabalho e na vida social por conta de distração e excesso de inquietação e impulsividade. Perdia prazos, esquecia compromissos, sentia um sono absurdo nas reuniões e nas aulas, começava um projeto e não finalizava, não me organizava na agenda, nos e-mails, nas contas, dormia no meio dos filmes, deixava o forno ligado durante a madrugada, esquecia o portão de casa aberto, perdia celular, carteira, etc e já fui atropelada duas vezes por pura distração. E isso não tem nada a ver com falta de competência, inteligência ou responsabilidade pois concluí duas graduações, mestrado, doutorado e ocupo um cargo de coordenação de projetos numa empresa. Mas o TDAH existe sim e atrapalha muito no que diz respeito à necessidade de se ter organização, foco, persistência e paciência. Tomo ritalina há dois anos e afirmo que ela me ajudou muito. Estou mais centrada nas atividades que preciso realizar, na ordem que elas devem ser executadas e, principalmente, atenta às necessidades das outras pessoas e do que está à minha volta (principalmente no trânsito). Consigo cuidar melhor do meu tempo e do tempo que passo com minha família e amigos. Reduzi enormemente os esforços que tinha de fazer para solucionar problemas causados pelo esquecimento, distração e impulsividade. Vejo que hoje minhas ações são tomadas depois de muita decisão e cautela, e não mais por impulso. Quem critica a ritalina ou desdenha do TDAH, deveria saber melhor o que realmente se passa na vida de um adulto que apresenta tais sintomas e que precisa ser minucioso no trabalho, cuidar de filhos pequenos, pagar as contas em dia, dirigir bem, cuidar de si e dos outros. Outra coisa importante: não tive efeitos colaterais e não mudei a minha essência ou qualquer coisa parecida, fato que me faz pensar porque algumas pessoas temem tanto o metilfenidato. Obviamente, como todos os outros medicamentos, o remédio não é a pílula da felicidade ou do mundo cor-de-rosa (até porque essas coisas nem existem) … mas que ajuda, ajuda.
Ah! Marta,
Até que enfim apareceu alguém pra dizer que o TDAH acompanha a pessoal pela vida toda, e também pra confirmar que o metilfenidato ajuda sim. Só que como qualquer remédio, pode ser eficiente pra alguns e pra outros pode ser mais uma tentativa frustrada. Depois de tentar vários, a Sertralina segura minha barra.Se você conseguiu concluir um doutorado é porque você deve ter uma inteligência acima da média. Pois o esforço mental que um portador enfrenta pra aprender é muito maior que uma pessoa normal.Eu conclui uma graduação pra mostrar pra sociedade. Pois é comum a gente se encantar por um monte coisas e depois largá-las. Pararam as cobranças pra eu concluir alguma coisa, mesmo sem gostar. Muito esclarecedora a questão dos acidentes. Quando um TDAH consegue se manter vivo até certa idade, é por milagre. Os riscos decorrentes da distração e impulsividade não são apenas físicos, mas também nas relações com as pessoas. Tropeçamos na mesma pedra o tempo todo. Quebramos a cara e também batemos. Têm os atrasos crônicos, o sono irregular (que no meu caso, é a comorbidade que mais me ferrou) . Imagine o prejuízo que a insônia causa na vida de quem tem que trabalhar, estudar e se relacionar no dia seguinte, sabendo que todos descansaram a mente?E você, um zumbi desgastado. Hoje, me encontro profundamente desacreditada e cansada mentalmente. Se estou insitindo nesse debate, que vai demorar, é por pura solidariedade, empatia, para com os pais, as crianças, os adolescentes, e os adultos que sequer sabem do que sofrem.
E tome pancadas morais de tudo que é lado que a gente merece. Afinal, nós não temos nenhum traço físico, como os DOWN, ou os epiléticos, pra merecermos o título de Especiais da sociedade e da família.
E meu querido blogueiro, continuarei por aqui, ligada no tema central de minha vida. Já que hoje minha atividade é baixar filmes e documentários, com tolerância de 30 minutos de avaliação pra terminar de assisti-los, como uma boa TDAH.
Já fez uma polissonografia ? Tinha estes sintomas e resolvi com o CPAP
POr que os Psicologos e a Dr Pediatra sabe tudo não discutem esses temas dentro da Academia, Nas universidades? Por que não apresentam pesquisas? Por que não mostram as publicações cientificas que possuem sobre o tema? Porque fazem”denuncias” e sensacionalismo via midia? Estão mesmo preocupados com os pacientes? Ou estão lutando pelo PT ( são apoiados pelo MEC e pelo M daSaúde) ?
Ou será que junta tudo no mesmo saco o que eles fazem é um MIX de politica, Ideologia marxista, Seitas obscuras e reserva de mercado? Sou psicologa e afirmo: este conselho federal de psicologia não me representa e não é uma unanimidade. Varios colegas não corroboram o que eles fazem o tempo todo, que é POLTICA PARTIDARIA PARA O PT. chega, tá na hgora de fornjar uma chapa de psicologos novos e tirar esta turma de lá.
Sou psicólogo, professor universitário e atuo no campo da avaliação psicológica há quase 15 anos. Acredito que, pelo menos no Brasil, o grande problema relacionado ao TDAH está nos diagnósticos precipitados e realizados com pouquíssimo rigor. Isso também ocorre com muitos outros diagnósticos psiquiátricos, mas é tema para outra discussão. Atuo em uma clínica escola de um curso de Psicologia e lá recebemos muitas crianças e adolescentes com suspeita ou com o diagnóstico já dado de TDAH. O que percebemos é que boa parte desses clientes não apresentam o TDAH, mas, sim, prejuízos em seu desempenho cognitivo, especialmente na escola, devido a diversos outros fatores, como problemas no relacionamento familiar e outros. Nesses casos, o diagnóstico de TDAH cumpre um papel de “desculpabilização” da família e da escola diante de uma criança ou adolescente que tem dificuldades de adaptação. Entendam que o conceito de “culpa” é aqui utilizado no sentido de ressaltar o protagonismo desses atores (família e escola) na constituição do sujeito e não o sentido tradicionalmente linear de ação e reação. Por outro lado, observamos nos casos clínicos que os sujeitos que possuem o diagnóstico de TDAH realizado de modo mais cuidadoso e criterioso se beneficiam bastante do tratamento medicamentoso. A conclusão é que os especialistas devem ter muito cuidado ao fazer avaliações, sejam psiquiátricas ou psicológicas, pois um diagnóstico equivocado pode marcar fortemente a vida de uma pessoa. Esse cuidado deve ser redobrado quando se trata dos chamados “transtornos da moda” (observem o aumento assombroso dos diagnósticos de Transtorno Bipolar nos últimos anos).
O problema da ritalina e dos demais remédios psiquiátricos é os psiquiatras começarem a dar 1 ou 2 ou até 5 ou 6 remédios ao mesmo tempo a torto e a direito para qualquer um que tem qualquer coisa, tipo um pouco de desanimo por alguns momentos no dia já é o suficiente para se achar que a pessoa vai ter que ser medicada durante uma década ou durante a vida toda. Ou então escolas quererem tirar a guarda dos filhos dos pais caso estes se recusem a medicar os filhos, como as vezes acontece nos EUA. E essa questão da ritalina ser segura, bom, segura mesmo não é. Tem estudo que mostra que ela aumenta as chances de câncer, e tem evidencia que ela pode causar dano no cérebro.
Eu mesmo estou sofrendo horrores por conta de ter tomado um excesso de remédios psiquiátricos(que não foram a ritalina, foram outros).
No final, essa questão vai ser mais uma questão de tentativa e erro mesmo por parte dos pacientes, ao contrário do resto da medicina, em que uma perna quebrada é bem óbvio o que fazer.
A verdadeira “Droga da Obediência” se chama ignorância. Quando você ignora um assunto, você corre o risco de acreditar em qualquer idéia maluca! Sou mãe de portador de TDAH, hoje com 16 anos. Foi diagnosticado em 2003 por mais de um neurologista. Antes de medicar, falei com o pediatra e até com o oculista, que é um médico de confiança da família. TODOS foram unânimes em dizer que o tratamento medicamentoso era muito bem estudado no mundo todo e que as perdas por falta de tratamento seriam piores! Só que no Brasil as coisas funcionam na base da politicagem. Esse grupo de “achistas” psicólogos e a Dona Pediatra acham que podem dizer o que bem entendem do assunto. Nunca vi um artigo ciêntífico sobre o assunto dessa Dra. Meu filho teve muito ganhos com o tratamento medicamentoso. Vou a congressos, leio livros especializados, consulto outros médicos sérios. Acredito na ciência e na medicina. Vamos lutar por diagnósticos sérios. O mais fácil não é medicar. O mais fácil é não fazer nada. Negar os transtornos e deixar os nossos filhos arcarem com os prejuízos para o resto da vida! O Brasil está atrasado no assunto. E se depender desse grupo de “medicalização” não vai haver políticas de saúde pública para atender quem não pode pagar pelo tratamento. Vamos assistir o povo tomando a “Droga da Obediência” a Droga da Ignorância.
Desculpe, mas o autor da reportagem precisa estudar muito antes de dar um parecer como fez neste artigo. O fato de a droga minimizar os sintomas não prova coisa alguma. Se há discordância do fato de que esse conjunto de sintomas de fato possa ser chamado de doença, isso precisa sim ser discutido. Um antidepressivo vai ajudar alguém a ficar menos triste, mas isso não significa que a tal tristeza fosse uma depressão.
Está mais do que claro que muitas crianças tem dificuldades de aprendizado e comportamentos questionáveis, mas isso também não significa nada. Nos EUA, a prevalência de TDAH cresce conforme se anda para o leste do país e chega a ser diversas vezes maior do que no oeste. Quero ver esse jornalistazinho dizer que esse dado se sustenta baseando-se no fato de ser uma doença.
Caro John Doe,
Obrigado pelo comentário simpático. Mencionei no meu texto o problema de a incidência de TDAH variar enormemente de um lugar para outro. Uma releitura com atenção o permitiria ver isso. Citei referência para estudos sugerindo, porém, que esse é mais um problema da qualidade dos diagnósticos do que da definição do transtorno em si.
Mas reconheço que seu questionamento tem um fundo de razão. É possível elencar inúmeras razões contra a decisão de definir o TDHA como um transtorno (o DSM evita a expressão “doença”). E também é possível ver muitas razões para adotar a definição do DSM. Uma leitura mais atenta do meu texto, porém, vai perceber que eu considero essa questão epistemológica uma prioridade menor do que a busca de ajuda para as pessoas que têm os sintomas de TDAH. E se uma droga pode ajudar a tratar o problema –e muitos estudos sugerem que sim–, parece conveniente tratar o TDAH como um transtorno psiquiátrico e não como um outro tipo de problema comportamental. Muitos psiquiatras, aliás, atribuem o problema de ineficácia dos antidepressivos aos diagnósticos mal feitos. Ao contrário do que você disse, os antidepressivos não parecem ser eficazes contra algo que é uma tristeza normal.
Isso não implica dizer, claro, que as causas do transtorno são meramente biológicas. Muitos psiquiatras reconhecem que os fatores ambientais têm seu peso. Por fim, meu post no blog não é um “parecer”, como seu comentário sugere. Por ser um jornalista, e não um profissional da saúde, tentei usá-lo apenas para expor multiplas visões que existem sobre o assunto. Minha opinião é baseada nisso. Como eu assino meus textos e me responsabilizo por aquilo que escrevo, evito comentar coisas sobre as quais não dei atenção.
De nada pelo comentário.
Entenda que eu não disse que TDHA não existe, disse apenas que, se existir, não se sabe ainda o que é. Você teve a curiosidade de ler a descrição do DSM? Usa palavras como “frequente”, inadequado”, “deveria”, “inapropriado”, “excesso” sem nunca definir o que isso quer dizer. Garanto que o que eu considero “falar em excesso” é diferente do que você considera e isso ocorre também entre os médicos. É muito fácil dizer que os médicos não fizeram o diagnóstico correto, quando na verdade o diagnóstico é tão difícil que é praticamente esperado que assim o façam.
O fato é que a psiquiatria insiste em ser como as outras áreas médicas quando não é. Não há ainda parâmetros objetivos e confiáveis pra se verificar a existência de certas condições mentais como há para doenças de outras naturezas. Isso não quer dizer que os remédios nunca funcionem e nem que não sejam necessários em alguns casos. Mas o fato de o remédio ter efeito, não significa que se acertou quanto à razão pela qual ele funcionou. Um analgésico resolve um milhão de coisas, mas não prova que alguém estava doente. Muito menos que era uma única doença.
Quanto a antidepressivos não resolverem tristeza, sinto informar, mas existem inúmeros estudos que mostram que eles não funcionam nem com pacientes deprimidos, ou então funcionam com diferença clínica mínima em relação ao placebo. O que acontece é que estudos com resultados indicando ineficiência de tratamentos dificilmente tem visibilidade, e a razão pra isso é bem óbvia. Sobre esse assunto, sugiro leitura do livro “The Emperor`s New Drugs”. Verá que foram necessários mais de 30 estudos com um antidepressivo até que 3 indicassem diferenças do placebo verificáveis estatisticamente e com erros metodológicos importantes. Não só esse antidepressivo é amplamente utilizado, como os estudos com erros gritantes são usados como justificativa para seu uso com conivência da FDA. Se você só buscar artigos que corroborem sua posição, sempre vai encontrar.
Caro John Doe,
Normalmente não costumo responder a comentários apócrifos, mas como você é claramente um cara legal, vou abrir exceção. Estou mais de acordo do que em desacordo com as coisas que você fala.
Concordo que a psiquiatria está longe de chegar ao grau de confiabilidade de outras áreas médicas. Bem longe. Mas se, por um lado, existe um grupo de psiquiatras querendo crer que a origem de todo problema mental é orgânica, por outro lado há muitos psicólogos que rejeitam a influência de qualquer fenômeno bioquímico que esteja acontecendo no cérebro. Isso é o problema que eu quis realçar no meu texto. A eficácia de uma droga não mostra o mecanismo por trás do problema, concordo, mas é uma evidência indireta da importância dos fatores neurofisiológicos envolvidos.
O DSM usa muitos critérios subjetivos sim, para muitas coisas, assim como os psicólogos, veja só. E muitos psiquiatras argumentam que é preciso que seja feito assim até que se tenha um conhecimento melhor dos transtornos. O problema dos diagnósticos verificado no estudo alemão que eu citei não está nos padrões do DSM, me parece, mas sim no desprezo de muitos clínicos por qualquer tipo de critério que seja.
Lamento que você esteja achando que eu só busco artigos para corroborar minha posição. Eu nem entrei no problema do efeito placebo dos antidepressivos, que é outra história, mas já tinha até feito uma matéria sobre o assunto quando o livro do Irving Kirsch saiu:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1110200905.htm
O livro do Kirsch deu o maior rebu no Renino Unido. Quando David Goldberg, um dos psiquiatras que criaram os métodos dos questionários usados no DSM, foi ao Brasil, perguntei a ele sobre isso, achando que ele iria desancar o Kirsh. Mas ele não foi tão duro assim. Olha o que ele me respondeu.
Essas coisas, porém, não estão relatadas no livro do Kirsh. Não sei se ele deixou isso de fora de propósito ou se essa discussão toda com o Goldberg foi posterior. Mas eu acho um argumento do Goldberg bastante convincente: uma droga não é capaz de curar uma doença que não existe.
Eu discorreria sobre as razões de não utilizar meu nome real nos comentários, mas acho que não caberia aqui. Se restou alguma dúvida, sou psicólogo de formação, mas fiz pós stricto sensu em psicobiologia, de maneira que compreendo, respeito e defendo a importância de aspectos fisiológicos em qualquer condição humana.
Agradeço pela atualização do livro do Kirsh, de fato eu não tinha essa informação. E eu não disse que você só procura o que quer, eu quis dizer que não basta citar artigos que corroborem a uma posição pra ela estar certa, pois certamente encontrará o qualquer coisa. Recentemente, me deparei com um estudo que dizia comprovar a existência da cura pelas mãos em ratos (sim, tinha tantos erros que fiquei com vergonha de chamarem aquilo de ciência). Trabalho com pesquisa na área da saúde diariamente há anos e fico abismado com o número de erros metodológicos e/ou de análise que seguem sendo realizados repetidamente e publicados. Cheguei a um ponto em que só confio em revistas altamente conceituadas e, mesmo assim, com ressalvas.
Agora, uma questão que acho importante: É bem verdade que os psicólogos utilizam termos e ideias absolutamente subjetivas e isso também resulta em erros. No entanto, embora seja impossível falar em um único método pra psicologia, a maioria dos psicólogos sugere uma sequência de encontros com o paciente, discussão do caso com uma pessoa mais experiente e só depois disso chegar a algum tipo de conclusão. Se muitos psicólogos não fazem isso mesmo sendo recomendado passa a ser uma outra questão, mas a prática médica sequer recomenda esse tipo de conduta. Uma coisa é eu concluir que alguém tem posturas inadequadas porque o observei semanalmente por 6 meses e outra é uma pessoa concluir isso por uma única entrevista, ou pior, pela palavra da mãe de uma criança. Ambos podem estar errados, mas acho que o segundo tem muito mais probabilidade de se equivocar.
Se a medicina quer tratar uma condição dessas como doença, ela precisa ter características de doença. Senão me parece muito desonesto, independentemente do fato de haver ou não um lobby da indústria farmacêutica, principal financiadora do DSM desde sua 3a versão.
O conhecimento científico anda lentamente, mesmo hoje em dia. No entanto, cada vez mais informações ainda não conclusivas caem no público leigo e isso pode gerar confusão ou cristalização de posturas muito equivocadas. E falo no sentido defendido tanto pelos psiquiatras quanto pelos psicólogos. Eu acho que, sobre esses temas, ainda estamos no momento de levantar as dúvidas e não de tirar conclusões. Mesmo que já possamos fazer uso de medicamentos e de outras práticas, sempre devemos ter em mente que não sabemos muito bem com o que estamos lidando, nem no caso da depressão e muito menos no TDAH. Neste sentido, eu penso que a premissa de acompanhamento mias próximo, longas conversas e diversos encontros é mais adequada. Fazendo uso de remédio ou não.
Finalmente, neste momento eu me recolho a minha insignificância e peço desculpas pela abordagem grosseira que usei antes. Descontei em você broncas que não lhe cabem. Agradeço a atenção e as informações, certamente as levarei em conta e farei reavaliações de minha postura sobre o tema.
O livro infantil JOÃO AGITADÃO é uma leitura divertida e contribui para elevar a autoestima das crianças hiperativas. A ilustração de Ney Megale valorizou muito o texto.
Link:www.caravansarai.com.br/LivJoaoAgitadao.htm