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por Rafael Garcia

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Rio+20 e a síndrome de Charlie Brown

Por Rafael Garcia
19/06/12 19:31

PODE PEGAR MEIO MAL para um jornalista dizer isso agora, mas sou feliz por não estar cobrindo a Rio+20. Estou comovido com o esforço dos meus colegas em tentar extrair algo importante do texto aprovado na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, algo que considero  missão quase impossível. Para não correr o risco de terminar a cúpula sem consenso, diplomatas acabaram deixando documento tão vago que provavelmente não há nada digno da palavra “importante” em seu conteúdo.

O texto a ser apresentado aos chefes de estado que estarão no Rio a partir de amanhã é uma decisão para adiar decisões. Perfeito para um evento com ausências tão ilustres como as de Barack Obama, Angela Merkel, David Cameron e outros.

Já fui citado outrora por usar uma alegoria pouco criativa, comparando conferências ambientais da ONU ao filme “Feitiço do Tempo”, que tornou ou Dia da Marmota mundialmente conhecido. Na versão alternativa do roteiro, o repórter se vê incapaz de fazer o tempo passar e fica preso no dia de encerramento de um encontro ambiental que corre o risco de terminar em fiasco. E o fiasco sempre vem.

A única diferença que o desenrolar da Rio+20 parece ter tido em relação a encontros como a Conferência do Clima de Copenhague, em 2009, é que nem seus objetivos eram ambiciosos. O resultado da cúpula de 2012 é ruim mesmo diante da modéstia com que o encontro começou.

Queríamos um fundo internacional para financiar a sustentabilidade? Não teremos. Queríamos um marco para criar acordos de proteção de águas internacionais? Não teremos. Queríamos um documento que ajudasse em questões laterais, como os direitos da mulher? Também não teremos.

A sensação causada pelas conferências ambientais está ficando pior que um Dia da Marmota. A alegoria mais adequada talvez sejam os cartuns da série “Peanuts” nos quais Lucy segura uma bola de futebol americano para Charlie Brown chutar, mas sempre a puxa de volta no último segundo, fazendo seu colega dar uma pernada no vácuo e se arrebentar no chão. Repetidamente ela promete não enganar Charlie Brown de novo, mas sempre apronta a mesma sacanagem.

Diplomatas dos EUA, da mesma forma, prometem diálogo, mas acabam desencadeando o processo de intransigência que faz os documentos serem depenados. O G77, grupo dos países em desenvolvimento, e a Europa também têm sua parcela de culpa. Charlie Brown somos nós, que ainda parecemos ter alguma fé no papel da ONU como fórum ambiental.

Desta vez, a justificativa para o fiasco foi a crise econômica da Europa, tese sancionada pelo “New York Times”. Em 2009, alguns diziam que o problema era a economia mundial contaminada pela depressão nos EUA. São mesmo as crises as culpadas por adiarmos decisões importantes na área ambiental? Ou há um profundo desinteresse político em dar ao tema a devida importância?

No final das contas, nem sinto arrependimento por ter desejado estar longe do Rio hoje. Meus colegas, muitos deles jornalistas respeitáveis e experientes, estão se acotovelando lá agora, à espera das migalhas que lhes são jogadas pelos ministros e diplomatas. Para quem gosta de notícia, a cúpula do Rio não vai providenciar quase nada. Restou cobrir o circo armado pelas ONGs, que agora também estão lá, caídas na grama, como Charlie Brown.

About Rafael Garcia

Rafael Garcia, 37, é colaborador da Folha em Washington (EUA). Formado em jornalismo pela USP (Universidade de São Paulo), foi bolsista do programa Knight de jornalismo científico no MIT (Massachusetts Institute of Technology) e editor-assistente na redação brasileira da revista “Scientific American”.
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Comentários

  1. Luiz comentou em 19/06/12 at 8:50 pm

    Rafael, quando vc citou os nomes do chefes de Estado importantes que vão estar ausentes, vc citou James Cameron.Não seria David Cameron, ou o cineasta vai participar também?

    • Rafael Garcia comentou em 19/06/12 at 9:01 pm

      Luiz, obrigado pela correção. Já alterei o texto. Vexame de proporções do Titanic.

  2. Fabio comentou em 19/06/12 at 10:19 pm

    Muito bem dito. Eu já sentia um estranho vazio na mídia a respeito disso, mas ninguém até agora teve coragem de dizer que a coisa toda foi mais um fiasco. Parabéns pela credibilidade.

  3. Levi Oliveira comentou em 20/06/12 at 12:36 am

    Pelo menos a Marina “Silva” mandou o recado certo, pra quem precisava ouvir!!!
    Vossa Excelencia a presidenta Dilma os que estâo caídos na grama do desãnimo.

  4. Levi Oliveira comentou em 20/06/12 at 12:38 am

    corrigindo… e os que estâo caídos…

  5. Bruno Oliveira comentou em 20/06/12 at 8:41 am

    Também acho que essa Rio+20 é um fiasco. Tá na cara que ninguém quer assumir compromisso algum! Líderes e diplomatas estão querendo é salvar bancos; eles não estão querendo pensar em um mundo mais sustentável, mais justo e democrático. O interesse prevalece sobre o que é realmente interessante.

  6. Ramon comentou em 20/06/12 at 10:21 am

    Essa tal de Rio20, se transformou em um evento sem participação, sem cobertura e principalmente sem propósito, visto que hoje, vários cientistas contestam o aquecimento global e o número de “adeptos” a esse novo pensamento vem crescendo.
    Lembro da ECO92, em uma época onde a internet no Brasil não existia para cidadãos comuns.
    O volume de informações da ECO92 foi infinitamente maior que da RIO20, tinham matérias gigantescas em jornais e revistas, canais de tv cobrindo o evento, tudo isso sem a internet.
    O que falta nesse “evento para gringo ver” é um objetivo sério e palpável.

  7. Cícero comentou em 22/06/12 at 5:06 pm

    A lógica é simples. Ninguém quer cortar a própria carne com Desenvolvimento Sustentável e Políticas Ambientais.
    Como sempre, nesse tipo de evento os únicos contentes, são os donos de hóteis …

  8. Gerson Araujo comentou em 22/06/12 at 11:22 pm

    A maior preocupação dos poderes constituídos no mundo, representados pelos políticos, empresários, não é a preservação do meio ambiente, mas sim do desenvolvimento econômico. A locução “desenvolvimento sustentável” é um eufemismo para abrandar o pensamento econômico predatório e ludibriar a maioria das pessoas que acreditam que medidas adotadas pelos governos para preservar o meio ambiente mitigarão os impactos causados pelas atividades econômicas em um mundo cada vez mais ávido por recursos em decorrência do crescimento populacional e do desenvolvimento tecnológico. Alguém quer diminuir a atividade econômica? Não. Por isso que há dificuldades em definir acordos nesta conferências que no fim só servem como plataforma para exibição de governantes dos países, principalmente os desenvolvidos.

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