A evolução silenciosa da fala
31/05/12 17:37UM DOS ENIGMAS mais importantes no estudo da evolução da linguagem falada na espécie humana diz respeito não às pessoas, mas a nossos primos chimpanzés. Por que esses macacos não parecem ter a mínima capacidade de se comunicar pela fala? Em estudos comportamentais, chimpanzés muitas vezes surpreendem cientistas com sua capacidade de se comunicar por gestos, mas tentativas de ensiná-los um código fonético têm sido geralmente um fiasco.
Cientistas sabem que isso ocorre porque o aparelho fonador desses macacos não é adequado para produzir uma gama variada de sons. Mas por que nosso parente mais próximo na árvore evolutiva não exibe uma capacidade semelhante? Se sabemos que a evolução molda as caraterísticas das espécies de maneira gradual, será que as vocalizações dos macacos não lembram em alguma coisa a linguagem humana?
A reposta para essa pergunta é: provavelmente não. A comunicação fonética entre macacos é muito limitada, e não sabemos muito bem o que os ancestrais comuns que temos com outros primatas nos legaram para que começássemos a falar. Espécies como o macaco-vervet (Chlorocebus pygerythrus) são famosos entre biólogos por usaram diferentes tipos de grunhido ao avisar companheiros sobre predadores. O sons que emitem ao avistar águias, leopardos ou cobras são distintos, de forma que os macacos logo sabem se precisam subir ou descer da árvore para fugir do perigo.
Mas o macaco-vervet é uma espécie relativamente distante dos humanos no mundo primata, e é improvável que a linguagem fonética humana tenha evoluído diretamente de um ancestral anterior. Chimpanzés, os primos mais próximos dos humanos, também emitem sons, mas esses ruídos em geral são uma capacidade inata, e não aprendida por cultura, como no caso dos vervet. Além disso, os sons que eles usam não requerem o tipo de coordenação muscular sofisticada que teria evoluído na direção de uma linguagem.
Como chimpanzés têm uma razoável habilidade de comunicação por sinais, porém, alguns teóricos sugerem que nossa fala evoluiu a partir de uma forma de linguagem gestual usada anteriormente. Mas como as palavras saltaram de nossas mãos para nossos lábios? A resposta é que nossos lábios podem ser usados para fazer gestos, além de fazer sons, teoria que o biólogo Peter MacNeilage defende desde a década de 1970. Restava aos biólogos encontrar alguma evidência evolutiva para essa hipótese, porém, e essa lacuna está começando a ser fechada agora.
Em 2009, cientistas do Laboratório de Etologia Comparada dos NIH (Institutos Nacionais de Saúde) mostraram como fêmeas de macaco-reso usam sinais faciais para se comunicar com seus filhotes. Um dos gestos feitos por essas macacas é o que cientistas batizaram de lip-smaking, um abre-e-fecha rápido dos lábios, sem produzir som. O interessante sobre esse tipo de comunicação por “careta” (veja vídeo) é que ele é um gesto usado por chimpanzés também, e muitos outros macacos.
Por mais curiosas que as caretas dos macacos-resos sejam, porém, será que esses gestos faciais têm algo a ver com o controle muscular para produzir a fala?
Um estudo publicado hoje, finalmente, parece trazer a resposta para essa questão. Asif Ghazanfar, biólogo da Universidade de Princeton (EUA) e Tecumseh Fitch, da Universidade de Viena, levaram a seu laboratório alguns macacos-caranguejeiros (Macaca fascicularis) e os filmou usando uma câmera especial de raios-X enquanto praticavam o lip-smacking.
Vendo com clareza toda a musculatura e ossatura do animal, foi possível ver que os tipos de movimentos de lábios, mandíbula, língua e laringe são similares àqueles necessários à fala. O padrão de movimento é bem diferente daquele da mastigação, dizem os cientistas, e o ritmo com que o lip-smacking é feito —com músculos mudando de posição a cada 0,2 segundo— é particularmente similar ao da fala humana.
“Esses dados dão apoio empírico à ideia de que a fala humana evoluiu de expressões faciais rítmicas de primatas ancestrais”, escreveram Fitch e Ghazanfar no estudo que descreve o experimento na revista “Current Biology”. “Nossos dados mostram que as similaridades entre o lip-smacking dos macacos e a fala humana vai além dos movimentos orais visíveis na face, e inclui as dinâmicas da língua e do osso hióide [da base da língua].”
A anatomia da face dos macacos descrita no trabalho é análoga àquela que, nos humanos, regula os sons produzidos pelas cordas vocais. Nos símios, porém, seu uso é feito de maneira muda. É possível, então, que a linguagem fonética humana tenha começado como uma espécie de leitura labial. Só depois é que as caretas feitas com a boca teriam adquirido o papel de controlar sons, em vez de passar mensagens visuais. Talvez os primeiros hominídeos tenham se beneficiado do fato de que seu aparelho fonador tinha forma mais adequada para isso.
Pode parecer paradoxal, mas os estudos mais recentes levam a crer que a evolução da fala humana estava passando por um estágio crucial justamente quando nossos ancestrais primatas interagiam em silêncio.
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Eu realmente me interesso por esses temas. Evolução, linguagem entre outros.
Fantástico estudo e interessante post Rafael.
Existe um livro chamado Evolução em 4 dimensões, das autoras Eva Jablonka e Marion J. Lamb, que têm em uma das suas dimensões, a quarta dimensão, a evolução simbólica transmitida por meio da linguagem e de outras formas de comunicação simbólica.
Fica a dica.
Abraços.
Arthur, fico feliz que você tenha gostado do post. Caso interesse, entrevistei a Eva Jablonka em 2007, quando ela esteve no Brasil, antes de lançar o livro. Dá para ler a entrevista no acervo do jornal, que está aberto agora, em período de degustação. Está na página 8 desse caderno aqui:
http://acervo.folha.com.br/fsp/2007/11/11/72/
Como diria uma grande amiga, o mundo é uma ervilha.
Bom na verdade eu também conheci a Eva Jablonka em 2007, quando naquela oportunidade ela visitou o departamento de Genética da UFRGS para um Meeting.
Naquela época minha esposa fazia sua pós-graduação naquele departamento e através dela tive acesso aos conhecimentos epigenéticos.
Entretanto, hoje estou migrando a minha área de conhecimento, mas epigenética e linguagem ainda me encanta deveras!!!
Hoje infelizmente não terei tempo de ler a entrevista, é possível até que eu já tenha lido na época. Espero que a degustação permaneça por mais alguns dias.
Grande abraço e valeu pela dica.
Arthur.
Creio que o desenvolvimento da linguagem envolveu vários fatores tais como capacidade cerebral, anatomia de vários músculos da face e estruturas da cavidade oral além é claro da dimensão social, muitos desses fatores compartilhados pelos nossos primos, os macacos. Qual deste fatores tem preponderância sobre o outro ou desencadeou o processo fica difícil delimitar. Porém fica claro que o sistema simbólico, principalmente no ser humano, possui a capacidade de evoluir, perpetuando e aperfeiçoando-se, gerando e adquirindo novos contornos, mimetizando vários aspectos da evolução e desenvolvimento biológico, como está caracterizado por Jablonka e Marion.
O texto diz: “Esses dados dão apoio empírico à ideia de que a fala humana evoluiu de expressões faciais rítmicas de PRIMATAS ANCESTRAIS”
E “Nossos dados mostram que as SIMILARIDADES entre o lip-smacking dos macacos e a fala humana vai além dos movimentos orais visíveis …”
Ora, a evolução não seria para todos? então por que os símios não falam?
Essa é mais uma dentre tantas diferenças entre nós e eles, confirmando que humanos e símios são espécies bem diferentes.
Considerando ainda, que a fala humana expressa altíssima atividade cognitiva do intelecto, inexistente em símios.
Sr cicero, primeiro o sr vai ter que estudar o básico sobre evolução das espécies para depois discutir esse assunto. Tua pergunta faz tanto sentido quanto se perguntasse: por que seres humanos nao voam? Afinal a capacidade de voar também evoluiu em mamíferos. Somente agora o sr descobriu que humanos e outros primatas sao espécies diferentes? Porem, saiba que temos uma historia evolutiva comum e também que capacidade cognitiva e sentimentos nao sao exclusividades da espécies humana pois elas também fazem parte da vida dos chimpanzés e outras especies animais.
Sr. Josefino ,
Mas morcegos estão bem longe de uma suposta “ancestralidade” com humanos. Ao contrário dos primatas que alegam estar muito próximos. Então primatas também deveriam ler, comentar e falar deste artigo, mesmo arcaicamente.
A prova que não houve “história evolutiva comum” são estudos que mostram que o neanderthal e sapiens conviveram na mesma época juntos e tinham várias atividades semelhantes.
sr Cicero teus conhecimentos sobre evolução continuam totalmente equivocados. O fato de duas especies terem uma historia evolutiva em comum próxima nao significa que determinada característica necessariamente tenha que ter evoluído em ambas. A prova que o sr apresenta (neanderthal e homo sapiens serem contemporâneos) eh hilária. Isso nao eh uma prova contra a proximidade evolutiva entre nos e outros primatas e muito menos nossa proximidade evolutiva com o chimpanzé. Estudos sobre o DNA mitocondrial mostram que humanos modernos e neanderthais evoluíram separadamente. Sugiro que o sr de uma pesquisada no site talking origins. Certamente depois de consultar esse site o sr vai entender melhor fatos sobre a evolução da espécie humana.
O fato de ter proximidade historica evolutiva nao significa que todos atributos em uma espécie sao obrigatoriamente observados na outra. Afinal sao espécies diferentes e portanto diferem em algumas características. Vários tipos de diferenças sao observadas em varias especies que dividem uma historia evolutiva em comum. Por exemplo ha aves que voam longas distancias, outras curtas distancias e ainda outras que nao voam. O fato de neandertais e homo sapiens terem sido contemporâneo eh sim uma prova de que
Josefino – “Estudos sobre o DNA mitocondrial mostram que humanos modernos e neanderthais evoluíram separadamente.”
Negativo, são a mesma espécie, no máximo seriam sub-raças, como mostram as pesquisas:
“Para os investigadores, não sobram dúvidas de que os Neandertais seriam da MESMA espécie que o homem moderno, o homo sapiens, apenas de raça diferente.”
http://www1.ionline.pt/conteudo/99275-neandertais-como-nos-ciencia-descobriu-homens-vaidosos-sensiveis-e-com-jeito-cozinha
“Nossos irmãos do homem de Neandertal: Por que eles NÃO eram uma espécie separada”
“As espécies do homem de Neandertal não foram extintos, porque NUNCA FOI uma espécie separada”
scientificamerican.com/article.cfm?id=our-neandertal-brethren
Outro estudo identifica 99,9% de semelhança genética entre os dois! cfe. o geneticista sueco Svante Pääbo anunciou.
“Vários tipos de diferenças sao observadas em varias especies que dividem uma historia evolutiva em comum. “
Esse processo quando é dentro do mesmo Gênero se refere a especiação ou hibridação, podendo gerar outras espécies, mas sempre dentro do mesmo Gênero, ou seja: ursos continuam ursos, sapos continuam sapos, gaivotas continuam gaivotas. Nada que gere macroevolução pra NOVOS seres diferentes com NOVAS funções com NOVAS estruturas morfológicas.
E eles já fazem, isso, Sr. Cícero – vc é um exemplo disso, eu sou outro. O seu erro crasso é supor que a evolução seja uma imposição obrigatória de características a todos grupos populacionais. É realmente extremamente necessário que vc aprenda o que é evolução … Sua visão sobre ciência, Cícero, é tristemente deturpada.
Caro Humberto,
A evolusuperstição prega, entre outras estórias da carochinha, que seres mais simples viram outras espécies mais complexas tipo:
vermes que se transformam em cavalos …
Bem,… pra vc nada mais lógico, óbvio, racional e coerente que isso ocorra em certo tempo não é mesmo!
Cícero, verifique o fato de que a família deuphinidae está a anos luz da maioria dos mamíferos primatas, equipara-se, em capacidade intelectual, a uma criança que não sabe falar com um adulto.
Ou seja, vale lembrar que a evolução não é univoca, ela é para todos mas não é igual para todos. Os símios desenvolveram lá suas características que nos faltam, macacos sobem em árvores e protegem suas crias com o corpo de forma mais eficaz do que uma mãe humana.
Já os homens falam, tem a capacidade de inteligir o mundo e co-criar aspectos da Natureza.
A evolução é para todos, mas não é igual para todos.
Lembre-se também de que a mandíbula humana se tornou menor do que a mandíbula símia diante não apenas de uma evolução genética, mas também uma mudança de hábitos, o sapiens passou a ser mais seletivo na alimentação, passou a comer alimentos preparados e mais fáceis de mastigar.
Segundo estudos odontológicos (quem fizer faculdade de tal irá vê-los), os ossos tem a capacidade, num outro grau que os músculos, mas de se desenvolver diante do método de uso.
Ou seja, ossos também crescem, ao serem utilizados.
A evolução genética não define tudo, o caminho de uma espécie porém, pode definir muitas coisas. A seleção natural ocorre em graus ínfimos, que, num tempo pequeno são impossíveis de serem observados.
Logo, daí surge a nossa dificuldade em compreender as diferenças, perante as nossas semelhanças.
Pois é Octavio, …a evolusuperstição alega/especula que em certo tempo mamíferos terrestres (lobos p.ex.) viraram deuphinidae,… não é fantástico?!!
Ora, humanos também podem subir em árvores de certa forma e uma mãe humana pode proteger vários bêbes ao mesmo tempo; vide creches p.ex.
As diferenças entre humanos e primatas são gritantes na área cognitiva.
Mandíbulas símias são pra habitats símios, humanas pra humanas.
Mesmo que a diferença ente primatas e humanos fosse 1% (o que não é verdade, pois o lixo genético está em estudo ainda) isso ainda assim, representa milhões de combinações nos genes.
Se eu tomar um copo de leite c/ 1% estricnina será fatal. Se a Terra estivesse 1% mais longe ou perto do Sol, aqui nem haveria vida.
Tema bem abordado por Rafael. Discordo da afirmação de que os chimpanzés tem uma “razoável habilidade de comunicação por sinais”. Segundo Jane Goodall, uma das maiores estudiosas da vida social dos nossos primos, essa capacidade eh extraordinária. Outro antigo mas valioso estudo sobre as expressões faciais em chimpanzés eh o livro de Darwin “a expressão das emoções no homem e nos animais. Obrigado pelo interessantíssimo artigo.
A referência a nossos ancestrais macacos como se isso fosse uma certeza ainda carece de explicações, na falta de provas fica a teoria. Acho que o homem evoluiu em tudo, mas é uma espécie distinta.
Sr Lucas, contra evidencias nao ha argumentos. Basta o sr pesquisar evidencias fosseis e geneticas para deixar de “achismos”
Maravilhoso texto, Rafael. Parabéns!
Meu único problema é ter que procurar montes de referências para entender algumas coisas, já que engenheiros não sabem muita coisa de biologia rs!
Há muito mais do que apenas semelhanças anatomicas, fisiológicas e genoma para se afirmar que B é descendente de A. Constatou-se recentemente que o tomate por exemplo tem um genoma bem mais complexo que o humano e no entanto não tem nada a ver com uma espécie mais evoluida. A competição entre as espécies, tão defendida por Darwin, também tem muito pouco a ver com evolução, pois se não fosse pela interferencia humana, haveria um equilíbrio quase que perfeito
Obrigado pelo texto, Rafael. Há alguns filósofos muito interessantes (como Ernst Cassirer) que refletem sobre a anterioridade do símbolo em relação à linguagem falada. Um abraço.
E como fica adao e eva e noé na historia???
Olá Fernando!
O nome Adão, quando surge no cap. 2:7 não tem significado de nome próprio mas de substantivo, coletivo. Adám vem da palavra solo Adamah, que se tornará nome próprio nas passagens seguintes ADÃO. O mesmo caso se dá com Eva: Havah da raiz hayah, viver, que poderia ser traduzido “mãe de todos os viventes. No caso de Noé (noah raiz nhm, isto é consolar), se reporta a descrição do dilúvio descritos em várias culturas antigas. Noé gerou três filhos: Sem, Cam e Jafé. Sem seria o pai dos semitas que via Abraão daria origem a Árabes (Ismael) e Israelitas (Jacó). Cam seria pai dos Cananeus e Jafé dos filisteus. Todos seriam subjugados ou colocados em posição de inferioridade pelos filhos de Sem notadamente pelo clã de Jacó (ISRAEL) que dominaria segundo o relato bíblico a terra de Canaã.
Cap. 2.7 do livro de Gênesis.
Gosto muito dessa temática, sobretudo do embate Criação X Evolução.
O que acho interessante é que a manifestação de FÉ se dá tanto dos defensores da criação QUANTO dos defensores da EVOLUÇÃO. O que me parece, em maior ou menos grau, é que há um fanatismo de mão dupla.
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