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Teoria de Tudo

por Rafael Garcia

Perfil Rafael Garcia é repórter de Ciência.

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Livros de ciência bons, grátis e dentro da lei

Por Rafael Garcia
25/05/12 07:01

Ilustração do livro "College Physics" do projeto OpenStax

TENHO ACOMPANHADO DE LONGE o debate que se delineou em torno do site Livros de Humanas, processado pela ABDR (Associação Brasileira de Direitos Reprográficos) por pirataria. Para quem não ouviu falar da polêmica ainda, trata-se de um estudante que indexava links de cópias de livros em PDF para ajudar outros universitários  com as leituras necessárias a seus cursos.

O réu do processo, Thiago, já foi entrevistado pela Josélia Aguiar, do blog Livros Etc, por isso não vou discutir aqui as questões de legalidade. Quero apenas falar de um projeto americano que está encontrando solução para um problema que não é exclusivo do Brasil: bancar a leitura de um curso de graduação sem usar fotocópias é simplesemente caro demais. Não conheço ninguém da minha geração que não tenha apelado ao velho xerox (os mais jovens preferem os PDFs) para dar conta de adquirir toda a leitura necessária.

Aqui nos EUA, o problema me parece ser pior nos cursos de exatas e biológicas, que requerem livros-texto bastante caros —na faixa de US$ 100 ou US$ 200. Muitos estudantes recorrem a sebos, mas as editoras buscam tirar de circulação os livros usados, acrescentando mudanças de conteúdo nas novas edições. Algumas alterações são apenas cosméticas, com intuito único de sabotar as edições antigas, mas é difícil se dar conta disso sem analisar o livro inteiro.

Para contornar o problema, o projeto OpenStax College, da Universidade Rice, de Houston, começou a publicar em fevereiro uma série de livros-texto escritos por equipes de cientistas de alto nível. Os livros, de qualidade suficiente para competir com obras que estão liderando o mercado agora, estão disponíveis de graça para download em PDF. Podem também ser comprados encadernados pelo preço de custo da impressão/distribuição. Sai cerca de US$ 40 para um livro-texto colorido, de formato grande, com 1.200 páginas.

O OpenStax está sendo bancado agora por generosas doações de filantropos milionários —Bill Gates, da Microsoft, e William Hewlett, da HP, entre eles—, mas a idéia é que se torne menos dispendioso no futuro. Uma vez que os livros estiverem prontos, será preciso fazer apenas o trabalho de revisão e ampliação.

Folheei hoje um exemplar de “College Physics” (física para graduação), que me pareceu ser bastante organizado, bem redigido, abrangente, bem ilustrado e didático. (Físicos leitores deste blog certamente podem dar um parecer melhor que o meu.)

Além desse título, o projeto já lançou está lançando neste ano “Biology”, “Concepts in Biology”, “Introduction to Sociology” e “Anatomy and Physiology”. A meta inicial é providenciar obras para cobrir as 20 disciplinas mais cursadas em universidades dos EUA. Em entrevista ao “New York Times”, o diretor do projeto, Richard Baraniuk, disse que se os cinco primeiros volumes garfarem apenas 10% do mercado em que estão entrando, estudantes economizariam em conjunto  US$ 90 milhões só nos primeiros cinco anos.

Curiosamente, é um valor na mesma ordem de grandeza do processo contra o site Livros de Humanas, no qual a ABDR pede R$ 200 milhões. O que eu me pergunto, então, é se um projeto como o OpenStax pode ter seu modelo copiado no Brasil.

Talvez seja difícil levantar uma grana dessas no país, onde filantropos entusiastas da ciência estão em falta. Uma coisa legal do projeto americano, porém, é que não são só os ricaços que estão colaborando. “College Physics” foi baseado em grande parte no livro-texto homônimo do físico Peter Urone, que adquiriu os direitos autorais da obra e os doou ao OpenStax, conforme conta Marc Sher. (Um exemplar do livro original de Urone ainda estava à venda ontem na Amazon por mais de US$ 200.)

Talvez alguns autores brasileiros se prestem a fazer o mesmo, caso não exista dinheiro para bancar um projeto grande logo de cara. Talvez seja necessário adotar outro modelo. Uma dificuldade a mais é que a maioria das disciplinas universitárias de humanas não se ancora em livros-texto e requer leituras mais fragmentadas. De qualquer forma, acho irônico que o Brasil, um país onde quase toda a produção acadêmica sai de universidades públicas, esteja com tanta dificuldade para encontrar uma solução.

Nos EUA, Bill Gates, um capitalista que passou boa parte de sua história enfrentando a pirataria de software, está agora ajudando a bancar um projeto que vai licenciar todos os seus produtos com acesso aberto. Talvez o jogo de interesses que favorece a manutenção de oligopólios editoriais no setor de livros didáticos esteja finalmente mudando em face das novas tecnologias. E no Brasil?

___________________________________________________________________________

CORREÇÃO: Apenas os livros de física e sociologia do OpenStax estão disponíveis agora. Os títulos da área de biológicas serão lançados só após o meio do ano.

About Rafael Garcia

Rafael Garcia, 37, é colaborador da Folha em Washington (EUA). Formado em jornalismo pela USP (Universidade de São Paulo), foi bolsista do programa Knight de jornalismo científico no MIT (Massachusetts Institute of Technology) e editor-assistente na redação brasileira da revista “Scientific American”.
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Comentários

  1. Roberto Takata comentou em 25/05/12 at 10:48 am

    Tem o The Global Text Projet também.

    []s,

    Roberto Takata

  2. Gerson Araujo comentou em 26/05/12 at 12:10 pm

    Aqui no Brasil o Estado, o governo brasileiro, subsidia através do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) e distribui gratuitamente livros didáticos a alunos do ensino fundamental e o PNDL (Programa Nacional do Livro Didático) faz avaliações de dicionários e livros didáticos para também o ensino fundamental. Porém o que eu quero salientar que nós temos já uma infraestrutura que poderia ser aplicada, com as devidas correções, igualmente ao ensino universitário. Há um discurso político em prol da Educação com fator de desenvolvimento no Brasil estampado em propagandas pelos políticos país afora que certamente anda em descompasso com as políticas de incentivos dados ao ensino superior. Financiamos a agricultura e muitos setores industriais, por que não então financiar também o Ensino Universitário através de medidas e programas utilizadas para o ensino fundamental? Por não dar incentivos as cabeças pesantes no país (professores, mestres e doutores) para alavancar iniciativas semelhantes aos americanos? Neste caso bom exemplo. Temos que ficar permanentemente a merce da indústria das cópias(XEROX)? Temos tudo ou quase tudo, falta porém a vontade política que traduzido no jargão oficial chama-se PRIORIDADE.

  3. Roque Eduardo Cruz comentou em 30/05/12 at 3:59 pm

    De graça e legal no Brasil temos a plataforma SciELO-Scientific Electronic Library Online.
    Além de trabalhos acadêmicos, revistas cientificas e agora os livros das editoras FIOCRUZ, UNESP e Universidade Federal da Bahia também estão disponíveis.
    http://books.scielo.org/

  4. Zeca Martins comentou em 14/06/12 at 6:54 am

    Tenho uma pequena editora de livros. Também tenho um grande projeto para produção rápida e barata de livros didáticos de todos os níveis. Continua projeto há anos. Acaso o leitor faz ideia do desinteresse geral da Nação em apoiar inciativas assim?

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