O jovem naturalista Charles Darwin cumprimenta o Capitão de "Piratas Pirados" e seu dodô (Foto: Sony Pictures)

FUI AO CINEMA NO DOMINGO assistir a “Piratas Pirados”, animação do incrível Peter Lord (mesmo diretor de “Fuga das Galinhas”). Tive uma grata surpresa ao descobrir que a ciência é um dos temas centrais do filme, no qual Charles Darwin é um dos protagonistas.

Se soubesse disso antes, talvez eu tivesse me apressado em ver o filme logo na estreia. Como evito ler críticas antes ir ao cinema, porém, só fui me dar conta das menções que o filme faz à biologia e à teoria da evolução quando estava já na frente da tela.

“Piratas pirados” estreia no Brasil nesta sexta-feira (11), e muitas pessoas poderão ter a mesma surpresa que eu, já que o péssimo trailer veiculado em português pela Sony Pictures nem sequer menciona Darwin como um dos personagens da história. (O filme foi idealizado pela produtora inglesa Aardman, de Lord, que assinou um contrato de financiamento e distribuição com a Sony/Columbia.)

O público britânico teve um tratamento diferente, já que a obra foi lançada no Reino Unido com o nome original “The Pirates! In an Adventure with Scientists” (Os Piratas! Numa Aventura com Cientistas), título do livro homônimo em que o filme é baseado.

Para distribuir o filme nos Estados Unidos, contudo, a Sony já mudou o nome da animação para “The Pirates! Band of Misfits” (Os Piratas! Bando de Desajustados). Suponho que os executivos americanos da empresa vejam ciência como algo chato e ruim para o marketing do filme. Talvez fosse medo de desagradar o público criacionista. Sei lá. Qualquer que seja a razão, a Sony do Brasil aparentemente pensa a mesma coisa que a dos EUA.

“Piratas pirados”, de qualquer modo, guarda inúmeras referências à história da biologia no século 19. Algumas cenas se passam dentro da sede da Royal Society, a agremiação científica mais tradicional do mundo. O “papagaio” do Capitão é um dodô, pássaro das Ilhas Maurício cuja extinção é um caso clássico de livros-texto de ecologia. O jovem Darwin possui um macaco de estimação, licença poética em referência às implicações de sua teoria para a evolução humana.

A nova animação de Peter Lord, porém, não é uma produção “didática”, no sentido entediante do termo. O principal mérito do roteiro é que Darwin entra na história de maneira divertida, sem tentar declamar a Teoria da Evolução para o espectador — algo que provavelmente tornaria o filme chato.

O resultado é o mesmo de “Fuga das Galinhas”, com crianças e adultos rindo juntos, ainda que nem sempre das mesmas piadas. Ao contrabandear a biologia para dentro da animação, Lord trata a ciência da mesma maneira com que a história costuma ser tratada mais frequentemente em obras de ficção: algo que merece fazer parte das referências culturais de todo mundo.

Ao ver que Darwin mora com Bobo, um macaco de estimação, o Capitão Pirata não resiste à piada: "Vocês são tão parecidos. Ele é seu parente?" (Foto: Sony)

“Piratas pirados” é, portanto, uma ótima desculpa para levar crianças ao cinema, já que nunca é cedo demais para oferecer repertório intelectual a elas. Quem não tem filho ou sobrinho pode usar outra desculpa: o filme é uma das primeiras superproduções de animação em stop-motion (bonecos de massinha) filmadas em 3-D. Só pela direção de arte já vale a pena. Fica a dica, então, ainda que a Sony Pictures não mereça a propaganda. ________________________________