Darwin x Roberto: são quantas as emoções?
02/05/12 07:30O QUE SÃO AS EMOÇÕES e quantas elas são? A dúvida que deixou Charles Darwin (1809-1882) obcecado pelo estudo das expressões faciais no final de sua carreira continua inspirando cantores e cientistas, mas seus escritos sobre o assunto são hoje pouco lembrados. O relativo desprezo pela obra psicológica do pai da teoria da evolução se deve, em parte, a seus estudos terem usado uma metodologia frágil. Um grupo de pesquisadores, porém, resgatou agora o principal experimento de Darwin sobre emoções, lançando nova luz sobre sua importância, 140 anos depois.
Em seu livro “A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais”, de 1872, Darwin menciona esse trabalho, para o qual entrevistou 23 pessoas que o visitaram. O experimento consistia em mostrar uma série de imagens de diferentes expressões faciais e em perguntar aos entrevistados se a emoção atribuída a uma determinada foto estaria correta ou não.
As expressões nas fotografias usadas por Darwin haviam sido produzidas de maneira um tanto quanto artificial pelo neurologista Guillaume Duchenne (1806-1875). Especialista no estudo de músculos, o francês havia submetido alguns pacientes a outro experimento, no qual aplicava pequenos choques nas faces das pessoas para observar padrões na contração da musculatura. Darwin usou 11 fotografias de um total de 73 produzidas por Duchenne.
O naturalista inglês queria saber se as expressões humanas são inatas ou não. Interrogar diferentes pessoas sobre uma mesma expressão seria uma maneira interessante de saber se indivíduos com experiências de criação ou culturas variadas interpretariam expressões emotivas de maneira distinta. Caso a capacidade de comunicar emoções fosse mesmo inata, seria possível levar o questionamento adiante, investigando se semelhanças graduais de expressões e gestos são evidência do parentesco evolutivo entre humanos e outros animais.
Com apenas 23 voluntários, porém, e entrevistando apenas pessoas em seu círculo de amizades, o experimento de Darwin acabou produzindo dados de pouca expressão estatística. Cuidadoso, o cientista concluiu que algumas expressões são mais unânimes em transmitir determinada emoção do que outras.
Para corrigir o problema da falta de dados, pesquisadores do Darwin Correspondence Project, da Universidade de Cambridge, replicaram o experimento ampliando o número de entrevistados e deixando em aberto a opinião sobre as expressões. Usando um questionário online, perguntaram a outras 18 mil pessoas qual sentimento captavam ao observar as fotografias produzidas por Duchenne.
O resultado, algo possivelmente esperado, é que as emoções são mesmo muitas. Tantas, aliás, que os pesquisadores listavam apenas as vinte mais citadas em cada uma das fotos. (O experimento foi concluído em março, mas o questionário com as imagens ainda está aberto para quem quiser se divertir dando suas próprias respostas antes de ver o resultado. Quem preenche as 11 respostas pode compará-las com as de Darwin e de seus amigos.)
Essa versão turbinada do experimento de Darwin, porém, não trouxe uma resposta definitiva sobre como categorizar as emoções, algo que ainda é motivo de debate. O pequeno número de voluntários, afinal, não era o único problema com o estudo original –que carecia de uma base de comparação. Os pesquisadores que reproduziram o projeto dizem crer, contudo, que o naturalista estava no caminho certo para investigar o assunto.
“Para nós, o interesse no experimento não era tanto o resultado, mas o processo de participação; queremos aprender sobre o contexto dos estudos de Darwin sobre expressões e os problemas metodológicos que ele enfrentou”, escreveu Francis Neary, um dos pesquisadores envolvidos no projeto.
“Darwin foi surpreendentemente inventivo ao desenvolver esse e outros métodos [para investigar as emoções], e o experimento era inovador para sua época”, afirma. “Ele tinha auto-crítica, revisava seus métodos ao prosseguir e mostrava dúvida sobre aquilo que os resultados podiam revelar. Alguma incerteza resta ainda hoje, especialmente questões sobre a habilidade da linguagem em descrever emoções, problemas com sinônimos e categorização.”
Ao que me parece, mesmo hoje psicólogos não são muito categóricos ao dizer quantos tipos de emoções existem. Alguns tentam encaixar todas num grupo de seis macro-categorias (alegria, tristeza, ira, afeto, euforia e medo), mas não é difícil ver listas que incluam muitas mais.
O verbete sobre o assunto na Wikipédia lista hoje trabalhos acadêmicos sobre 68 tipos diferentes de emoções (número curiosamente próximo das 73 expressões que Duchenne tentou produzir artificialmente com eletrodos).
A diversidade de emoções e as armadilhas da língua, de fato são uma dificuldade para estudos mais objetivos do tema. O lado bom desses dois problemas é que eles são exatamente aquilo que faz das emoções um tema tão fértil para poetas e compositores. ___________________________
Ahahahahah,
“… se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi…”
E que assim seja a vida, … o importante é que emoções eu vivi…
Maravilha Rafael.
Como será que é a expressão de Schaudenfreude?
[]s,
Roberto Takata
Acho que imagem 7 bem poderia evocar Schaudenfreude. Não tinha pensado nisso. Abçs
Darwin pesquisou a expressao das emocoes visando dar mais consistencia a teoria da evolucao. Assim, o genio de Darwin nao somente o ‘pai’ da teoria da evolucao, ele tambem eh considerado, e com justica, o ‘pai’ da etologia. O fato dos animais humanos e nao humanos mostrarem alguns sentimentos e esconder outros tem explicacoes adaptativas.
Por exemplo, filhotes de mamiferos quando separados de suas maes vao sinalizar a angustia e medo que sentem atraves de vocalizacoes, expressoes, posturas e comportamentos com objetivo de reencontrar a mae e assim assegurar sua sobrevivencia. Portanto, espera-se que as expressoes surjam sempre naqueles casos em que possam fornecer uma vantagem de sobrevivencia, quer dizer, nos quais os animais dao os sinais de esterem em necessidade, deixarem em media mais copias de seus genes que os animais que nao mostram essas expressoes.
Caro Josefino,
Isso que vc disse, não passa de mero instinto de preservação das espécies; presente em todas. E naturalmente os seres passam seus genes para as novas gerações. Não há nenhum mecanismo evolutivo de preservação.
Senão, nas espécies já extintas a evolução teria dado um “jeitinho” pra adaptá-las às novas situações de risco.
Além disso, “adaptação” não significa mudanças morfológicas grandiosas pra novos seres distintos.
Caro cicero
Nao confunda instintos com estados afetivos. Sao coisas bem diferentes. Por exemplo tartarugas marítimas logo que saem dos ovos se movimentam em direcao ao mar. Eh um comportamento consciente. O que me referi nao pode ser considerado instintivo pois eh um comportamento consciente do animal. Voce teria que utilizar varias hipoteses para explicar cada um dos varios comportamentos que ocorrem na separacao mae e filhote. Porem, eh muito mais simples e elegante a teoria de que o sentimento desagradavel (medo) provocado pela separacao leva a uma sequencia de comportamentos. O teu argumento nao faz nenhum sentido para explicar evolucao de estados afetivos nos animais. Embora completamente inutil, agradeco tua tentativa.
retificando: no caso das tartaruguinhas o comportamento de dirigir-se ao mar eh inconsciente.
Ainda acho que é um mero instinto natural de sobrevivência, assim como outros: de reprodução, territorial, proteção.
Os bebês querem ficar perto da mãe atraídos pelo cheiro; não só pra alimentação, mas pra proteção e conforto.
Nem precisam ter consciência disso.
Esses sentimentos não teriam nada haver com uma suposta mudança estrutural física nos organismos, como sugere a evolução.
Abçs.
Ok mais uma vez. Estou falando de estado afetivo e nao de sentidos como olfato, colega. Estados afetivos significa sentimentos como dor, medo, alegria, excitacao etc. Segundo tua proposta todo o processo comportamental e fisiologico que ocorre durante por exemplo a perda da mae no meio selvagem vem somente do instinto e isso nao faz sentido. Instinto significa resposta inconsciente do individuo, porem nesse caso da separacao as respostas sao conscientes. Para tua explicacao fazer sentido voce teria que levantar uma hipotese para cada uma das alteracoes que ocorrem durante a separacao. Uma para o comportamento de vocalizar, outra para a agitacao que o animal fica, outra para ele defecacao e miccao mais frequentes. Entretanto, se voce hipotizar que todas essas modificacoes sao devidas ao estado afetivo de medo agonia que o animal se encontra devido a separacao faz muito mais sentido alem de ser mais elegante hipotese pois o sentimento consciente do animal origina todo processo que observamos quando um animal perde sua mae no meio selvagem. Isso eh observado em mamiferos, aves, enfim nos animais sensientes. Abcs.
OK, digamos que eu concorde com tudo que vc disse como: “pois o sentimento consciente do animal origina todo processo que observamos…”
Mas como conciliar isto com o que justamente os biólogos evolucionistas pregam que a evolução seria não dirigida, não intencional, não inteligente, não projetada e aleatória?? sendo baseada unicamente em reações químico/físicas dos elementos. Então Quem ou o Quê? incluiria esta consciência na matéria?? ou vc crê que elementos químicos tem sentimentos conscientes?
Abs.
So mais uma coisa que notei no teu comentario. Os comportamentos muitas vezes sao parcialmente instintivos e aprendidos pelo animal. Comportamentos reprodutivos territoriais e de sobrevivencia requerem aprendizado que por sua vez sao conscientes pois o animal tem que usar processos cogntivos como por exemplo memoria. Por exemplo a copula entre macho e femea eh um comportamento parcialmente instintivo e apreendido.
Ainda não somos capazes de mensurar de maneira inequívoca aquele comportamento que é inato em absoluto e aquele que é devido a aprendizagem, isto é, devido ao meio ambiente. Alguns comportamentos parecem claramente inatos como a corrida das tartarugas logo que nascem para o mar, outros parecem ser fruto da interação do indivíduo e o meio ambiente e portanto da aprendizagem. Quantas expressões faciais poderiamos exibir em um ambiente limitado emocionalmente e que apenas algumas expressões seriam necessárias a sobrevivência? e quantas emoções? 11? 20? 30?…… ou menos do que 11?. Vejam o caso dos meninos lobos, que expressam poucos estados afetivos e expressões se comparamos com uma pessoa civilizada e profissional de teatro. Acredito que o comportamento é fruto da interação entre gene representado pelo indivíduo e o meio ambiente de maneira tão indissolúvel que é dificil avaliar com segurança e caimos sempre nos dualismos: inato/aprendido, consciente/inconsciente, determinismo/ livre arbítrio, parte/todo, adaptação/exadaptação etc……e neste caso é mais fácil optar para os extremos. Quanto mais nos movemos na escala biológica, dos seres mais simples ao mais complexos e vice-versa ora as expressões, emoções e comportamentos parecem mais ou menos determinados e/ou mais ou menos aprendido. Existe sim viéses ou propensões que em função da interação de multiplos fatores, as vezes não identificados, emergem comportamentos os mais variados principalmente nos seres(animais) humanos que tem a linguagem como fator fundamental na expressão do comportamento. Afinal além do biológico somos também aquilo que pensamos ou falamos!