A última carona
17/04/12 18:27POUCAS INICIATIVAS DA NASA tiveram histórias com mais altos-e-baixos do que o programa dos ônibus espacias. A transferência da espaçonave Discovery para um museu marcou hoje o fim de uma era na qual essa classe de veículo era a primeira opção a se pensar para quem quisesse uma carona até o espaço em um dos “space shuttles” (shuttle é o nome em inglês dado a serviços de transporte de vai-e-vem, como balsas municipais). Melancolicamente, desta vez foi o ônibus espacial que precisou de carona para sobrevoar o céu aqui de Washington, nas costas de um Boeing 747, e pousar hoje de manhã no Aeroporto Internacional de Dulles, na periferia da capital americana.
A Discovery, uma das quatro sobreviventes da frota original de seis aeronaves, vai ficar exposta no Centro Udvar-Hazy, da Instituição Smithsonian, bem ao lado do aeroporto. A visita à exposição deverá ser um programa interessante para quem estiver em um vôo com conexão longa em Washington. Quem vier aos EUA e quiser ver as outras três espaçonaves também poderá fazê-lo, caso esteja disposto a rodar pelo país. A Atlantis continuará no Centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral (Flórida), e a Endeavour vai para o Centro de Ciências da Califórnia, em Los Angeles. A Enterprise, que só fez vôos de teste e nunca saiu em missão, estava no Centro Udvar-Hazy, mas vai se mudar para o Museu Intrépido do Ar, Mar e Espaço, em Nova York.
Então, assim que os procedimentos de transporte terminarem, todos os ônibus espaciais passarão a ser, oficialmente, peças de museu.
Nesse clima de velório, muito se falou sobre o balanço final do programa, e os menos entusiastas ainda perguntam se valeu a pena abandonar o modelo de espaçonave descartável que vinha sendo usado pelo programa Apolo na exploração da Lua, em troca de um tipo de veículo que pudesse ser reaproveitado, como o shuttle.
É difícil falar sobre arrependimento, porém, usando argumentos atuais contra um projeto que decolou em 1981. No início, os ônibus espaciais atraíram grande entusiasmo, mesmo com os apelidos de “ônibus” ou “balsa” não parecendo muito adequados para a espaçonave. Alguns astronautas preferiam comparar o shuttle a um caminhão espacial: um veículo com enorme compartimento de carga atrás, e uma cabine onde sete astronautas se espremiam na frente.
Após a perda da Challenger em 1986, com a morte de sete astronautas, engenheiros perceberam algumas falhas de projeto, mas com algumas alterações foi possivel manter em operação o design original. Em 2003, quando a Columbia se desintegrou na atmosfera matando outra tripulação completa, a Nasa parece ter se dado conta de que a espaçonave sofria danos demais em seu sistema de isolamento térmico externo ao decolar. Muitas vezes astronautas foram obrigados a inspecionar o corpo da espaçonave em plena órbita antes da viagem de volta, e já estava claro que a reentrada de um veículo de cem toneladas na atmosfera era algo mais complicado do que se imaginava.
Se a arquitetura dos ônibus espaciais foi responsável por seus fracassos e por sua aposentadoria, porém, é justo atribuir a ela também os sucessos que o programa teve. A “caçamba” ampla do veículo é que permitiu suas duas maiores realizações: o posicionamento/manutenção do Telescópio Espacial Hubble em órbita e a montagem da ISS (Estação Espacial Internacional). O Hubble, uma ferramenta de valor inestimável para a astronomia, mudou a maneira com que vemos e compreendemos o espaço. Já a ISS acabou sendo mais alvo para questionamento. Construída mais por um ímpeto de exploração do que para produzir ciência, o projeto falhou em despertar o entusiasmo da mesma forma que o programa Apolo.
Os ônibus espaciais saíram em missão 135 vezes. Na última década, sua principal função foi fazer o vai-e-vem de astronautas levando peças da ISS. Caso a próxima fronteira da exploração espacial seja uma viagem tripulada a Marte, o papel dos ônibus espaciais e da ISS no desenvolvimento das tecnologias necessárias terá sido modesto. Esse veículo não é adequado para viagens espaciais mais longas e é improvável que uma ida a Marte requeira uma parada numa estação espacial. O design básico das naves que um dia poderão visitar o planeta vermelho deverá ser mais parecido com os da Apolo.
Pessoalmente, acho que há ainda mais semelhanças de espírito entre o ônibus espacial e os caminhões a diesel. A aposentadoria dos shuttles pode ser comemorada da mesma forma com que, um dia no futuro, espero comemorar o fim do uso amplo de caminhões a diesel no transporte de carga. É um sistema arriscado, caro, e inadequado diante das necessidades que temos no futuro. Mas, bem ou mal, deixou uma folha de serviços prestados, assim como os caminhoneiros que movem a economia de muitos países.
Minha sugestão à Nasa é que a agência espacial pinte uma clássica frase de pára-choque na traseira da Discovery antes de colocá-la em exibição: “É triste a dor do parto, mas tive que partir”.
Esta de parábens a equipe da NASA (todos os envolvidos) pelas conquistas do talento humano. Os EUA têm uma qualidade inigualável, valorizam e respeitam suas conquistas. Com certeza as manchetes que o Brasil proporciona e da qual no envergonhamos são bem diferentes… Triste a democracia que depende de homens de pouca ou nehuma moral.
Pela foto o que tudo indica é um ANTONOV (225), aviao fabricado na Russia, que está levando o Discovery.
Paulo, segundo a própria Nasa, é um 747 modificado. Eu acharia muito estranho a Nasa usar um avião russo para este fim.
Enquanto isso na “sala de justiça”, ONU, EUA e Coreia do Norte discutem seus acordos.
A Coreia afirma que o lançamento do foguete se tratava na verdade de um teste para colocar satélites em orbital. Os EUA afiram que o “teste” foi na verdade um míssil balístico.
Outro detalhe que achei curioso, é que essa discussão rompeu um acordo de ajuda alimentícia de 240 mil toneladas entre os EUA e a Coreia do Norte. Eu imagino que muitos norte-coreanos precisam dessas 240 mil toneladas de comida.
Me refiro a essa matéria:
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1077625-coreia-do-norte-ignora-condenacao-da-onu-e-rompe-acordo-com-eua.shtml
Seria uma espécie de “escambo” dos tempos modernos? Armas em troca de comida? Não sei.
Difícil saber realmente quem estaria com a verdade, sobretudo, quando o assunto envolve a “misteriosa” para não dizer outras coisas, Coreia do Norte e seus governos.
Em tempo de crise econômica, fica difícil discutir investimentos em viagens espaciais longas, porém, investimentos em novas tecnologias e novas descobertas, ao meu ver são sempre necessários. Assim como, buscar todas as formas de ajuda e acordos para tentar acabar com a fome das pessoas sobre a face da Terra, sejam elas norte-coreanas, brasileiras, africanas, europeias, enfim, ser humano.
Agora, o que tudo isso tem haver com a aposentadoria da Discovery?
Eu respondo: não sei! Só sei que me correu esses raciocínios. (espaço, aposentadoria, dúvidas, investimentos, acordos, fome e pessoas).
Obrigado pelo espaço Rafael.
Forte abraço.
Arthur.
É lamentável que a Nasa tenha abandonado o projeto Shutle, poderia sim ao longo dos anos ir desenvolvendo para que hoje não estivesse estagnada, e um deles poderia estar indo para a lua, e quem sabe mais longe.
Espero que voltem o mais rápido para o espaço e não dependam dos russos.